Por Jessyca Fernanda Nascimento dos Santos, advogada no escritório Rücker Curi Advocacia e Consultoria Jurídica.
Estima-se que o mercado de seguros tenha mais de 500 anos. São cinco séculos de crescimento e ampliação de ramos, contratos, produtos e fórmulas de cálculo do risco segurado, acompanhando as transformações sociais.
Na atual revolução industrial, chamada de “quarta revolução” ou “revolução 4.0”, marcada pela transformação digital, observa-se o mercado de seguros absorvendo novas ferramentas da tecnologia com o objetivo de otimizar o atendimento, a regulação do sinistro e a precificação dos prêmios, trazendo benefícios para a seguradora e para o consumidor.
Uma das oportunidades de expansão do mercado de seguros é a criação de novos produtos para o atingimento de parcela da sociedade até então não atingida, de modo que as empresas têm buscado auxílio nas tecnologias existentes.
Ferramentas como cloud computing, inteligência artificial, big data, chatboot, machine learning, entre outras, tornam-se cada vez mais presentes nas companhias seguradoras.
Segundo demonstra pesquisa da Fenaprevi em 2021, apenas 14% dos entrevistados tomariam como medida preventiva contratação de seguro de vida, 7% fariam seguro para emergências e apenas 16% dos entrevistados possuíam seguro veicular.
Considerando que, com a pandemia de Covid-19, houve um aumento na busca por seguros, tais índices demonstram que ainda há muito espaço para crescimento do mercado.
O mercado de seguro tradicional se mostrava engessado pela necessidade de observar as regulamentações da Superintendência de Seguros Privados (Susep), que dificultava a flexibilização dos produtos e serviços ofertados.
O foco inicial, portanto, era digitalizar os processos já existentes de precificação dos prêmios, regulação de sinistro, meios de contratação, entre outras atividades.
Com o avanço das startups, empresas que costumam oferecer serviços e produtos inovadores, surgiram as insurtechs, empresas que utilizam a tecnologia para inovar o mercado de seguros com novos produtos e serviços.
Essas empresas buscam compreender o consumidor e seu comportamento, bem como, suas necessidades, e oferecer contratos mais acessíveis, personalizados, de fácil contratação, adequado às necessidades e possibilidades do consumidor.
Em 2017 a Susep criou uma comissão de inovação e insurtech com o objetivo de estudar o mercado internacional e analisar dados sobre inovação na área de seguros. Como resultado dessas pesquisas em 2020 foi lançada a primeira edição do Sandbox regulatório da Susep, através da Resolução CNSP 381, de 4 de março de 2020.
Trata-se de um ambiente de experimento de novos produtos e novos modelos de seguro no Brasil, no qual as insurtechs inscrevem seus projetos de inovação. As selecionadas têm permissão temporária de atuação (máxima de 36 meses), com supervisionamento da Susep, sendo possível a concessão de permissão definitiva de acordo com critérios da autarquia.
Observa-se que as insurtechs no Brasil trouxeram diversos produtos e inovações para o setor, como seguro para animais domésticos, smartphones, bicicletas, drones, bem como novos meios de contratação totalmente digitais, como assinaturas mensais, pay-per-use e blockchain.
Uma das preocupações do mercado de seguros era da concorrência das insurtechs com as seguradoras tradicionais. Todavia, até o momento, o mercado tem visto com bons olhos o crescimento das insurtechs, que apresentam produtos diferentes do mercado tradicional, preenchendo lacunas do setor, atraindo novos consumidores.
Algumas insurtechs surgiram para auxiliar o mercado tradicional de seguros na regulação de sinistro, realização de vistorias, cotação de prêmios, prevenir fraudes, acelerar atendimentos, novos softwares, entre outros.
Projetos desafiadores de inovação no mercado de seguros, como uso de drones para vistorias de residências e áreas rurais, seguro para carros autônomos, utilização de OIT (internet das coisas) para execução de contratos inteligentes, entre outros, são algumas previsões de tendencias discutidas em seminários e congressos no Brasil.
Outro fator de crescimento do mercado seguros é o Open Insurance (Sistema de Seguros Aberto) semelhante ao Open Banking, no qual o consumidor tem a faculdade de compartilhar suas informações entre as diferentes seguradoras credenciadas pela SUSEP de forma segura, ágil, precisa e conveniente.
O projeto possui três fases, sendo a última a efetivação do serviço, com previsão de entre dezembro de 2022 e encerramento em junho de 2023.
O projeto tem como objetivo tornar as ofertas de seguros mais competitivas e incentivar a inovação dos produtos e serviços, beneficiando assim os usuários e garantindo mais agilidade e transparência e segurança, além de conceder ao consumidor o contrato de seus dados.
O uso das novas tecnologias não é apenas questão de sobrevivência no mercado, mas fator principal para crescimento e desenvolvimento do negócio, posto que as empresas e mercados que não acompanham tal evolução estão suscetíveis a se tornarem ultrapassados e até mesmo obsoletas.
A transformação digital é uma realidade mundial, afetando nosso modo de consumir, pensar e, principalmente, afetando a nossa comunicação. Portanto, o consumidor se mostrou mais exigente e mais impaciente com os modelos tradicionais do mercado.
Como as previsões para o futuro é de que haverá novas tecnologias, novas profissões e negócios, inevitável pensar que haverá novos riscos para criar novos produtos.
Desse modo, as expectativas são de crescimento do setor nos próximos anos com novos usuários/clientes e novos produtos personalizados e tecnológicos no mercado, trazendo a inovação, atraindo investidores e, principalmente, fixando na cultura brasileira a prevenção de riscos.
Estamos testemunhando a reinvenção no mercado de seguros em conjunto com os demais, numa sociedade que vive em plena transformação digital.