Por Mariano García-Valiño, fundador e CEO da healthtech Axenya.
Normalmente usamos palavras muito distintas para definir as ações de dar e receber, como comprar-vender, emprestar-devolver, buscar-encontrar e pegar-largar. Somente em circunstâncias muito específicas usamos o mesmo termo para esses dois sentidos, como no verbo “amar” – afinal, nós entregamos e recebemos amor.
Existe também outra exceção e lembrei-me dela durante o encerramento do programa de intercâmbio da London Business School, que realizamos na Axenya. Não sabia exatamente onde eu a havia lido, mas uma frase ecoou na minha cabeça: “Educação é tanto o ato de passar conhecimento aos outros quanto o ato de receber conhecimento de outras pessoas”.
As experiências mais valiosas da vida têm fluxos entrelaçados, cujas direções se confundem. A educação tem, por natureza, turbulentas vias de mão dupla em que podemos ser professores e alunos ao mesmo tempo, permanentemente. É um processo tão rico que é difícil determinar o papel desempenhado por cada pessoa.
Minha equipe frequentemente faz piadas com o fato de eu mudar de ideia o tempo todo. Mas isso não é algo que todos nós fazemos? Não é isso que o aprendizado deveria provocar?
É como diz aquela famosa frase: “Quando os fatos mudam, eu mudo de ideia. O que você faz, senhor?”. A origem dessa citação é muito debatida (foi dita por Paul Samuelson, John Keynes ou Winston Churchill?), mas isso não diminui seu poder. O exercício de aprender te transforma de tal forma que você só entenderá os efeitos ao longo do tempo.
Warren Buffet argumenta que o aprendizado funciona como os juros compostos. Você absorve e retém informações, mas só um tempo depois assimila como as coisas se relacionam. Só é possível “ligar os pontos” em retrospecto, como nos ensinou Steve Jobs. Eu me pergunto: o que ele estava aprendendo enquanto ensinava?
Já o investidor norte-americano Charlie Munger fala sobre a construção de uma rede de modelos mentais que, com o tempo, permitem ver cada problema por meio de uma variedade de lentes e opções possíveis. Essa é a diferença entre resolver problemas com um único martelo e resolvê-los com um kit de ferramentas cognitivo dinâmico e expansivo.
Na Axenya, acreditamos veementemente no papel da aprendizagem. Temos orgulho de mudar nossos pensamentos constantemente e de manter a mente sempre aberta. Quando ideias surgem, nós as dissecamos em quadros brancos, iPads, post-its e cadernos de papel (sim, alguns de nós ainda são apegados a materiais antigos). Misturamos e reordenamos os pensamentos, até que se transformem em algo diferente, surpreendente e novo.
Priorizamos o aprendizado em detrimento de qualquer outra atividade – pouco nos importa se isso nos leva a lugares imprevisíveis e possivelmente sem aplicação prática (por enquanto). Adotamos essa mentalidade continuamente em nossos planos, processos, crenças e posicionamento. Isso nos permitiu construir nosso produto e traçarmos um caminho claro para a lucratividade em um mercado em que a monetização é particularmente difícil. Precisamos ser comprometidos com a transparência e o aprendizado. O restante é consequência.