Por Vasco Oliveira, fundador e CEO da nstech.
Em uma viagem com meus ex-sócios da gestora Monashees, para Israel em 2017, assisti a uma palestra com Shlomo Dovrat, cofundador do Viola Group, um dos expoentes do setor de tecnologia, que por sua vez, acredita que, o mundo da tecnologia teve perto do ano de 2007 uma série de inovações que, somadas, tiveram um poder incrível de transformação da nossa realidade.
Foram cinco grandes mudanças que não surgiram nesse período, sendo elas: o iPhone, Mídias sociais, Cloud, Big Data e o Open Source. Isso nos remete ao pensamento de que a inovação não é necessariamente inventar algo completamente novo, mas passa por combinar em um novo produto diferentes coisas que já existem – e mais do que isso: facilitar em muito o acesso e a forma de usar para um usuário médio.
Nesse sentido cabe a reflexão, qual a magnitude dos problemas que precisamos resolver no transporte de cargas?
A produtividade dos nossos recursos é sofrível. Estima-se que, em cerca de 40% do tempo, nossos caminhões estão rodando sem carga, vazios. Seja um caminhão, trem, navio ou avião, para que tenhamos a máxima produtividade, precisamos que eles estejam sempre cheios, em movimento e visíveis, para que se tenha como gerenciar os gargalos. Só para se ter uma ideia do tamanho do problema, baseado em números de 2021, isso significa um desperdício de mais de três vezes nosso orçamento anual do programa Bolsa Família. Isso tem a ver com baixa escolaridade, pouca automação, alta burocracia e a rapidez.
Outro grande problema são os acidentes e seus reflexos. Mais de 60% dos sinistros das apólices de seguro de carga de transportes no Brasil são referentes a acidentes. Segundo dados da CNT, somente em rodovias federais no ano de 2018 tivemos um total de 69.206 acidentes, envolvendo 53.953 vítimas e 5.269 mortes. Além disso, há o roubo de cargas. Os prejuízos anuais são bilionários: em 2021, o valor chegou a R$1,27 bilhão, segundo a NTC & Logística – voltando a crescer após um período de queda. Foram 14.150 ocorrências no período, apenas dos fatos registrados que não são a totalidade das ocorrências.
Como a tecnologia está ajudando a endereçar tais problemas?
Para exemplificar, na AGV Logística, empresa que fundei e liderei por 21 anos até a venda para a Solistica em 2019, apesar de ter uma equipe de mais de 50 pessoas de tecnologia, com TMS e WMS proprietários, para entregar valor adequado aos clientes tínhamos que contratar mais de 10 diferentes provedores de tecnologia, altamente especializados, que ajudavam a resolver atividades como roteirização, background check, monitoramento de risco, monitoramento logístico, gestão EDI/Apis, emissão de CTE, meio de pagamento, emissão de CIOT, gestão de POD, entre outras atividades.
Como consequência dessa realidade cada dia mais complexa, a gestão de inúmeros fornecedores, integração entre sistemas, qualidade da base de dados, redigitação de informações por falta de automação e integração, nos faziam sofrer bastante no dia a dia, sobretudo quando era necessária uma mudança de fornecedor.
Diante desse cenário – e sabendo que a grande maioria das empresas não tem a menor condição de desenvolver tecnologia dentro de casa, seja por DNA, seja por uma questão de foco no core business –, acredito que um movimento que já começou tende a se intensificar nos próximos anos.
Por incrível que pareça, apesar de ter iniciado tardiamente sua digitalização na área de transportes, acredito que veremos em breve nossas tecnologias ganharem o mundo, num processo atualmente contraintuitivo. O Brasil está caminhando rapidamente para criar soluções realmente inovadoras e que, em muitas áreas, passarão a ser referência global.
O futuro do transporte de carga está sendo escrito agora por profissionais altamente qualificados vindos de outros mercados que, somados aos que têm profundo conhecimento técnico e muita experiência setorial, ajudarão a inovar e tornar o mundo um local melhor e mais próspero.