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Este ano será difícil e isso será algo bom ao mercado e sua startup

Foto: divulgação.

O ano de 2022 acabou, e foi um ponto de virada negativo para a indústria de venture capital e também para as startups. Depois de um dos ciclos mais longos de alta da história do setor, foram mais de 10 anos, desde a crise de 2008, tivemos um ano de queda nos volumes e valores de investimento em venture capital no Brasil e no mundo, na ordem de 35%, segundo o CB Insights.

Ainda que com algumas notícias alentadoras, como o crescimento das iniciativas em corporate venture no país (mais de 100 empresas com projetos na área, com R$ 1,5 bilhão em capital a ser alocado em projetos), bem como uma redução menor da atividade em early stage, quando a demanda de capital é ainda mais urgente para validação e sobrevivência dos negócios, foi um ano que, como disse 12 meses antes para um colega diretor de um grande banco “grande chance de sangue nas ruas“.

Uma série de demissões em massa que atingiram não somente empresas em late stage, como boa parte dos unicórnios, mas também empresas estabelecidas e listadas em bolsa. Foram milhares de desempregados mundo afora, além da queda de valores em organizações listadas ao mercado ou de capital fechado.

Tenho a oportunidade de conversar, por causa dos projetos que lidero, com os dois lados da moeda: tanto empreendedores que estão no início da jornada quanto executivos que já participam de organizações consolidadas e com ações no Brasil e exterior.

A minha impressão ao final do ano passado e ao cabo do início de um ciclo de baixa que deve permanecer por boa parte deste ano, face aos desafios macroeconômicos global e nacional (inflação, taxas de juros alta, incertezas geopolíticas, globalização em baixa). 

E isso me leva a duas reflexões:

A primeira foi o porquê deste momento de redução dos quadros de funcionários de startups e empresas de tecnologia maduras. E isso tem um quê de responsabilidade de nós, capitalistas, que buscamos maximizar e incentivar o resultado máximo dos aportes em projetos sem medir as conseqüências de um crescimento forjado mais a base da queima de capital do que aos princípios (básicos) de ganho de market share e penetração de mercado.

Como foi dito nas últimas semanas por dois executivos famosos no segmento de venture capital, um ex-Softbank e outro ainda no time que também sofreu baixas por causa dos downturns nas valorações dos ativos sob gestão, talvez a pressão e incentivo aos empreendedores de dobrar, triplicar a operação todo ano com a “permissão” para a queima de recursos cobrou um preço caro para os times. A ânsia por tais resultados, uma saída cedo via venda do ativo ou honrosa através do IPO é um canto de sereia difícil de não se ludibriar em momentos de forte liquidez no mercado de capitais.

Ao mesmo tempo, vejo neste momento uma interessante oportunidade para gestores que ainda possuem dry pownder, ou seja, recurso para alocar em startups. Momentos de capital mais curto traz uma menor ansiedade para suas alocações e, por consequência, valores de mercado mais racionais sobre as oportunidades de aquisição de participações em novos projetos. Vejo as seguintes perspectivas para os principais stakeholders do setor:

  • Startups: é a chance de fazer mais com menos, ou seja, desenvolver negócios que conseguem sobreviver sem capital externo, ou que precise somente para acelerar o crescimento. Uma boa startup para investimento é aquela que precisa somente de gasolina para o foguete decolar, não de recursos para construí-lo.
  • Investidores e firmas de VCs: para quem tem recursos a alocar, uma ótima oportunidade de fazer alocações em projetos com boas proposta de valor, ótimos fundadores e em mercados com potencial crescimento a valores justos. Ainda haverá concorrência entre negócios, principalmente em segmentos que devem ganhar tração quando recomeçar o ciclo de alta, como Inteligência Artificial, e-commerce e Blockchain, mas existe uma janela de 12-18 meses para mapear e estruturar um bom pipeline neste segmento.
  • Corporate venture: Acredito no CVC hoje como uma das principais estratégias anti-cíclicas para organizações de grande porte. Para mitigar os períodos de crise e/ou menor crescimento de mercado, a orientação à inovação setorial e o posicionamento através de equity em startups pode trazer acesso a novos mercados, produtos, métodos de trabalho e pessoas que podem impulsionar a empresa no momento seguinte. Além disso, há uma janela para aquisição de startups bem interessante a médio prazo, a partir da curva de aprendizado que novos CVCs propõem às lideranças organizacionais.

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Mercado de venture capital e suas alocações de capital não raro é medido por safra de startups investidas, talvez porque boa parte dos seus gestores seja aficionada por vinhos (e nem posso falar muito, pois sou um deles).

Se partirmos dessa premissa, estamos num momento salutar: a safra de unicórnios que surgiu entre 2019 e 2022 são de iniciativas que nasceram, em boa parte, no período entre 2015 e 2018, onde tivemos uma das piores crises econômicas e institucionais do Brasil moderno.

O motivo? Bons planos de negócios, ótimos empreendedores e negócios que, até certo estágio, priorizaram a construção do empreendimento e sua proposta de valor ante ao crescimento ditado pelo capital.

Logo… É um ano desafiador em conjuntura. Mas bons empreendedores e investidores podem aqui construir sua reputação para os melhores dias que virão daqui para frente. Excelente 2023!

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Forrmado em Administração de Empresas com ênfase em Marketing pela ESPM/SP, com pós em Branding e MBA em Venture Capital & Private Equity pela FGV/SP. Lidera a Sinergis e é membro do board da ESPM Angels

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