Por Igor Couto, CEO e diretor de tecnologia da 1STi.
Nossos problemas como sociedade são sistêmicos e complexos, o que significa que precisamos encontrar soluções por meio de novos modelos de colaboração entre todas as partes envolvidas e/ou impactadas.
Em 2015, a consultora Holonomics transformou um acrônimo usado em marketing estratégico 4Ps (significando Preço, Produto, Praça e Promoção) para uso como balizadores a considerar em iniciativas transformadoras: Plataformas, Propósito, Pessoas, e Planeta.
Os novos 4Ps podem ser considerados uma síntese estrutural da nossa base para a tomada de decisão, fornecendo não só a direção para o progresso dos modelos de negócios, mas também ajudando os líderes a desenvolverem organizações mais ágeis, com foco na experiência de seus colaboradores e clientes.
A razão por trás da atualização do conceito passa muito pelo estágio atual de evolução da tecnologia, alargando o espectro de oportunidades, como também a possibilidade de corrigirmos as mazelas de nossos sistemas econômicos, que geram pobreza, desigualdade e a degradação dos ecossistemas naturais. A seguir, confira o que cada um dos novos Ps significa:
Plataformas
Em um contexto em que mais pessoas estão se conectando à internet, seja em casa ou no trabalho, a nova economia digital acabou gerando um novo formato de startup, caracterizada por suas novas arquiteturas de plataforma. Estas, impactaram radicalmente setores inteiros, transformaram os comportamentos de consumo das pessoas e das empresas, além de ter gerado formas totalmente novas para as empresas criarem valor. O resultado desse movimento pode ser sentido na maneira com que esse modelo de negócios se tornou dominante no mercado. Não à toa, sete das dez companhias mais valiosas do mundo se utilizam do formato de plataforma.
Propósito
A estrutura dos novos 4Ps sugere uma abordagem realmente disruptiva para o atendimento e design da experiência do cliente e do funcionário de uma companhia. Essa perspectiva ajuda os líderes a incorporar integralmente o propósito da empresa com as suas estratégias e experiência do usuário. Esse processo precisa ser feito de forma autêntica, implementando valores humanos em toda a organização, além de desenvolver relacionamentos de longo prazo não apenas com os clientes, mas também com os ecossistemas humanos e ambientais nos quais operam.
Pessoas
O avanço tecnológico possibilitou o desenvolvimento de outras áreas da sociedade, como a ciência e a saúde. Hoje, alguns teóricos já relatam que estamos vivendo a chamada quarta revolução industrial, na qual os mundos físico, digital e biológico estão se fundindo de uma maneira que representa tanto a possibilidade de alcançar o ápice do potencial humano quanto, ao mesmo tempo, o perigo de uma cisão e desigualdade ainda maiores. Por isso, chegou o momento de se apoiar numa visão em que a economia e a ecologia estejam em harmonia e que represente uma melhoria na forma como trabalhamos e vivemos.
Planeta
Os estilos de vida e sistemas econômicos atuais, que oferecem pouca resiliência em face a pandemias globais e outros problemas, não estão mais adequados à humanidade nem ao nosso planeta. Até porque, o meio ambiente não se comporta de maneira previsível e linear. Isso sugere que, em relação ao modo como vivemos, precisamos agir com cuidado e cautela, pois não somos capazes de prever o resultado de todas as ações. Empresas e investidores, no entanto, muitas vezes correm para novos mercados e países que possuem ricos recursos naturais para explorar, sem pensar nas implicações mais amplas. Precisamos, portanto, mudar a mentalidade coletiva e a cultura corporativa para uma “administração ativa” dos ecossistemas do planeta.
Avançar do entendimento destes conceitos para ações estratégicas, táticas e operacionais a serem praticadas por todos e todos os dias é um grande desafio cultural para as organizações e seus líderes. Na prática, as empresas precisam se questionar, da mesma forma que fez Andy Last, CEO da Salt Communications, quando propôs uma reflexão fundamental: “Por que existimos e o que as pessoas perderiam se não existíssemos mais?”