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Faço parte da geração de profissionais Slash. E você?

Foto: divulgação.

Quando estava iniciando minha trajetória de carreira, uma das minhas inquietações era não conseguir me definir profissionalmente. Alguns anos de experiência depois e eu percebi que, na verdade, a falta de definição faz parte de uma das características mais interessantes do meu crescimento profissional. Vou além: não se enquadrar em apenas um rótulo não necessariamente é uma falta, pode ser vista como uma forma de transbordar diversas habilidades, potências e características favoráveis para construirmos uma carreira motivadora e que impacte positivamente nosso entorno.

Para quem acompanha de perto as tendências do que envolve ambiente corporativo, fica cada dia mais evidente o quanto as habilidades interpessoais e intrapessoais têm se tornado não só indispensáveis, mas diferenciais importantes para as mais variadas posições dentro das empresas.

A principal percepção das lideranças é que, ao mesmo tempo em que passamos boa parte da vida nos dedicando a especializações técnicas em determinadas áreas, colocamos em segundo plano o desenvolvimento de habilidades outras, que contribuíram para nos tornar profissionais mais complexos e completos, capazes de enfrentar desafios com resiliência e criatividade.

O desenvolvimento acelerado da Inteligência Artificial e de ferramentas generativas têm causado inquietudes A última pesquisa global de mercado de trabalho, realizada anualmente pela consultoria PwC, apontou que quase um terço das pessoas demonstra preocupação com a possibilidade de ter seu cargo ocupado pela tecnologia em três anos.

O mais provável, de acordo com especialistas, é que haja uma combinação entre o trabalho robotizado e o trabalho humano para a maioria das profissões. Por isso, duas cartas estão postas na mesa: 1) se tentarmos competir frente a frente com a tecnologia, disputando apenas com competências técnicas pelas mesmas funções, vamos perder. 2) nosso espaço nesse novo mundo está garantido se soubermos aprender a usar a tecnologia a nossa favor, ampliar o alcance das nossas habilidades profissionais e valorizar o que nos faz genuinamente humanos.

O Fórum Econômico Mundial já vem alertando há alguns anos a importância de nos reinventarmos enquanto profissionais para que o mercado de trabalho não entre em crise quando o que oferecemos se choca com as demandas urgentes da Nova Economia, especialmente em tempos mais desafiadores. É daqui que eu tiro uma esperança para todos nós, que nunca encontramos de fato um rótulo ou caixinha técnica que pudesse nos embrulhar para presente e entregar ao mercado de trabalho.

Mesmo para quem se sentia confortável adotando apenas uma definição para se apresentar enquanto profissional, talvez o momento nunca tenha sido tão favorável para expandirmos a ideia que projetamos de nós mesmos – aprendemos a aproveitar muito melhor nossas habilidades, em vez de reduzi-las às credenciais de apenas um cargo ou área. Está na hora de assumirmos o Profissional Slash que existe dentro de nós.

Expressão nova para você? Na verdade, é uma novidade para todos. O termo Profissional Slash foi criado em 2007, pela escritora Marci Alboher, citado em seu livro “Uma pessoa, Múltiplas carreiras” (One Person, Multiple Careers, em inglês). Slash é a palavra inglês usada para fazer referência à barra de separação entre palavras (hoje bastante usada em redes sociais, especialmente no LinkedIn), ou seja, o Profissional Slash é aquele (ou aquela) que têm diversas habilidades e ocupações simultâneas.

Marci observa que, cada vez mais, as pessoas vão mudar de áreas e interesses diversas vezes ao longo da vida, portanto vão desenvolver conhecimentos muito mais variados e serão capazes de exercer mais profissões sem necessariamente transitar de uma carreira para outra, mas de forma paralela e simultânea. Ainda que exista uma ocupação principal, outras funções estarão orbitando a rotina dos profissionais – seja por necessidade, seja por vocação, interesse pessoal, propósito ou prazer.

Independente da motivação, Profissionais Slash têm se tornado fundamentais para as empresas que buscam aumentar seus índices de inovação, criatividade, análise crítica e adaptabilidade – aquelas características cada vez mais imprescindíveis entre quem atua em áreas onde as inovações tecnológicas estão cada vez mais presentes para suprir as necessidades técnicas.

Não é coincidência que algumas das habilidades destacadas pelo Fórum Econômico Mundial nos últimos anos como essenciais para o mercado de trabalho são bastante marcantes entre os Profissionais Slash. Também não é coincidência que essas mesmas habilidades sejam encontradas com bastante frequência em mulheres que ocupam cargos de liderança – talvez porque nós, mulheres, sempre tivemos muito de profissionais slash em nós: líderes/ mães/ provedoras/ cuidadoras/ administradoras da casa/ responsáveis por familiares/ parcerias afetivas/ estudantes/ gestoras/ gestantes/ pioneiras.

De um lado, de acordo com a escritora Marci Alboher, a tendência das relações corporativas é cada vez mais desenvolver Profissionais Slash, que atuam em diversas áreas, motivados por variados fatores. Do outro lado, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), até 2030 a presença feminina no mercado de trabalho brasileiro será de 64,3%. Além disso, de acordo com o relatório Gen Z at Work, publicado na Forbes em 2022, 80% da nova geração prefere desenvolver várias habilidades do que se tornar especialista em apenas uma área.

No cruzamento dessas tendências, baseadas em dados recentes e significativos, qual conclusão podemos chegar, além da importância de investirmos cada vez mais no desenvolvimento das carreiras femininas para que todos os profissionais, não só as mulheres, estejam cada vez mais preparados para as grandes mudanças que a tecnologia está gerando dentro das relações de trabalho?

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Co-fundadora do Todas Group

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