O empreendedorismo feminino vem crescendo no Brasil e no mundo. No Brasil, de acordo com um estudo do Sebrae, 7 a cada 10 empreendedoras decidem abrir um negócio depois da maternidade.
Essa jornada, no entanto, pode ser solitária. As mães empreendedoras precisam conciliar a criação dos filhos com a gestão do negócio, o que pode gerar estresse e sobrecarga. Além disso, elas podem enfrentar dificuldades para encontrar apoio, seja familiar, seja profissional. Um dos principais desafios da maternidade empreendedora é a falta de apoio. As mães muitas vezes precisam contar apenas com elas mesmas para cuidar dos filhos, dos afazeres domésticos e do negócio. Isso pode gerar estresse, ansiedade e até mesmo depressão.
Para ajudar essa rede de mães empreendedoras, Dani Junco fundou a B2Mamy, um ecossistema one stop shop em soluções para mães com o principal objetivo de torná-las líderes e livres economicamente por meio de educação, geração de renda e conexões potentes. Desde 2016, a socialtech vem acelerando startups, capacitando mais de 100 mil mulheres e movimentando mais de 27 milhões de reais dentro da rede.
Confira o Economia SP Drops com a CEO, os aprendizados e lições sobre ser uma mãe empreendedora.
Como você decidiu se tornar empreendedora e qual foi a motivação por trás disso?
Dani: Eu já empreendia e sabia que se existia uma dor grande, uma solução precisava nascer para resolvê-la. Quando chamei mães para um café esperando duas e recebendo 80 mulheres, pensei que esse fenômeno social precisava ser estudado. O que me motivou foi a estatística de milhares de mulheres que saem do mercado de trabalho e possuem muita dificuldade em retornar ou gerar renda era no mínimo um absurdo. Como mãe, não só desejei algo melhor para todas elas e seus filhos, como me predispus a mudar esse cenário. Em 2016, criei a B2Mamy para capacitar as mulheres que sentiam a mesma dor que eu quando engravidei e senti o peso da decisão sobre largar minha profissão ou optar pela maternidade. E se eu pudesse fazer os dois? Inicialmente o projeto chegou ao mercado como uma aceleradora, que logo foi incubada pelo Google. O Google com a nossa chegada viu que as mães possuem necessidades diferentes para frequentar lugares e criou um espaço family friendly. Naquele momento, nós estávamos cumprindo o nosso papel de converter os lugares em ambientes seguros para mães e filhos, e desde lá nossa comunidade só cresceu. Eu não quero ouvir nenhuma mulher dizer que perdeu oportunidades por não ter onde deixar o seu filho. Em 2019 nossa comunidade dobrou de tamanho e vimos a necessidade em ter um espaço próprio. Por meio de um crowdfunding, criamos a Casa B2Mamy. Seria o primeiro Hub da América Latina a receber a família inteira.
Como você vê o papel das mulheres no mundo dos negócios e como isso evoluiu ao longo do tempo?
Dani: Ainda é desafiador. O Fórum econômico mundial mostra que faltam 130 anos para a redução do gap de gênero, mas não podemos desistir. Iniciativas como a da B2Mamy, ajudam mulheres a conquistar espaços importantes na liderança do empreendedorismo e nas grandes empresas. Acredito que já medimos o que tinha que se medir, agora é cobrar o movimento como vimos recentemente a B3 fazer e agora precisa de investimento de tempo e dinheiro. A nossa parte estamos fazendo e lançamos também a B2Mamy Academy, plataforma de conexão e aprendizagem que reúne mais de mil horas de conteúdo atualizado semanalmente, para as mulheres da comunidade. Esse é um avanço importante que parte da pandemia, mas que se consolida em 2023. A comunidade tem a oportunidade de contribuir, doando conteúdos para alimentar o streaming, sempre direcionado para a carreira, autoconhecimento e saúde feminina.
Qual é a importância do networking e do apoio entre empreendedoras para o sucesso nos negócios?
Dani: Acreditamos que criar experiências fora do comum é o genuíno networking. Nos dedicamos a criar eventos, imersões e workshops fora do padrão em cinemas, navios e acampamentos. Nosso foco está em impulsionar a liderança feminina cortando caminho por meio de conexões potentes.
Quais são os principais obstáculos que as mulheres empreendedoras ainda enfrentam atualmente?
Dani: As mulheres que decidem empreender se sentem sozinhas, e por isso a minha dica valiosa é encontrar uma comunidade. As ideias precisam ser discutidas e divididas. Além disso, a questão financeira também acaba pegando, por isso é importante encarar o dinheiro e ter maturidade para lidar com ele. Sem isso não há independência financeira. Por último e não menos importante, é necessário cuidar da saúde mental. Fazer terapia, por exemplo, é uma ótima alternativa. Queremos facilitar a jornada feminina para equilibrar a vida materna e a profissional em 3 pilares: Educação, Geração de renda e Saúde Feminina. Somos um hub buscando parcerias estratégicas, como a StarBem e a Casa Irene, para oferecer soluções de terapia, contracepção, nutrição e academias.
Como você vê a representatividade das mulheres em posições de liderança e como isso influencia o empreendedorismo feminino?
Dani: A representatividade das mulheres em posições de liderança é essencial para impulsionar o empreendedorismo feminino e para a sociedade. À medida que mais mulheres ocupam cargos de destaque, isso não apenas diversifica a tomada de decisões, mas também serve como inspiração para outras empreendedoras. Esse impacto também foi percebido a nível nacional, com conquistas significativas, como o reconhecimento de Claudia Golding com o Prêmio Nobel de Economia pelos seus trabalhos que relacionam a maternidade com a inserção da mulher no trabalho, e com a prova do Enem 2023, cujo tema da redação foi Economia do Cuidado. Fazendo um recorte, estamos falando de maternidade. O Enem colocou milhares de jovens – que são os próximos engenheiros, médicos, políticos e a próxima sociedade – para falar sobre economia do cuidado como algo de importância e que precisa ser olhado. Foi emocionante. Eu como liderança na área também tive uma conquista incrível, com o lançamento do meu primeiro livro “Mãe, por que você trabalha?”, em 12 horas de venda nos tornamos o mais vendido do ano na Amazon.
Quais são suas fontes de inspiração no mundo dos negócios?
Dani: Minha maior inspiração é minha mãe, que sempre incentivou o empreendedorismo como solução. Não posso deixar de citar também o maior responsável pela minha mudança profissional, meu filho Lucas. Ele me deu a luz, me submergiu de um lugar em que eu não sabia onde estava. Me fez lembrar que em todas as vezes em que caí, uma mulher me estendeu a mão. Ele me lembrou a potência da comunidade.
Quais são seus próximos planos e objetivos?
Dani: Nossos próximos planos envolvem consolidar o B2Mamy como um ecossistema completo de soluções quanto o assunto é maternidade e também expandir a Casa B2Mamy para outros estados iniciando por Brasília e Rio de Janeiro.