Janeiro é, tradicionalmente, o momento do ano em que a maioria das empresas fecha o planejamento para os próximos 12 meses.
Durante esse tempo, muita coisa pode mudar, sabemos disso por experiência, mas o planejamento é um ponto de partida importante, mesmo para as mudanças de rotas ocasionais que vão acontecer.
A Pesquisa Global sobre Crises, feita pela consultoria PwC, analisa o desempenho de líderes empresariais no Brasil e no mundo diante dos principais desafios sociais e econômicos. Em sua última edição, o estudo mostrou que 98% das empresas possuem um planejamento estratégico precário.
Outro levantamento, feito pela consultoria Falconi no Brasil, apontou que apenas 10% das pequenas e médias empresas têm metas bem estabelecidas para os próximos anos.
Por outro lado, vemos cada vez mais pautas entrarem para as discussões das altas lideranças, seja por exigência do mercado, da população, dos clientes e até dos próprios investidores.
A B3, por exemplo, já tem índices corporativos para classificar as empresas mais avançadas em temas como ESG, diversidade de gênero no conselho das companhias, segurança digital, entre outros.
Como adequar as empresas às frequentes mudanças que estão acontecendo sem ter um ponto de partida e, principalmente, metas bem definidas para os pontos de chegada?
Planejar para, então, executar é fundamental, mas não pode ser paralisante. Não espere ter um planejamento perfeito para colocá-lo em prática.
Nossos planos são guias, não são fatalidades ou profecias – em todos os aspectos da vida, não seria diferente no ambiente corporativo.
Um bom planejamento é aquele que tem metas definidas, de acordo com visões e valores, e que dá flexibilidade para respondermos “quando” e “como”, algumas vezes, até repensar “o que”.
Existem muitos fatores externos que influenciam nossas metas pessoais, e o mesmo acontece com as metas das empresas.
No caso das companhias, as metas e possíveis caminhos são orientações para que, também, as mudanças pessoais não afetem o andamento do negócio, mas é preciso lembrar que as empresas são organismos vivos, inseridas em contextos muito maiores do que as pessoas que ali trabalham e que a própria empresa.
Trabalhar com planejamentos executáveis e flexíveis desenvolve a habilidade de se adaptar melhor a novos acontecimento e sobreviver em momentos de crise. Por que, então, os planejamentos das empresas são precários, como mostraram os estudos da PwC e da Falconi?
Os fatores, com certeza, envolvem não apenas as mudanças externas, das quais as companhias não têm controle. Como é possível realizar planejamentos considerando objetivos e estabelecer metas importantes para o crescimento da empresa e deixando certo nível de flexibilidade para a ação diante de imprevisibilidades?
O que fazer para traçar planejamentos eficazes?
Não existe fórmula exata, o que posso dizer é que, ao longo do desafio que abracei desde 2020 ao construir minha própria empresa, obtive alguns ensinamentos.
O primeiro deles, e talvez o mais importante, é assumir que os erros vão acontecer, assim como os acertos. Erros podem ser sinalizadores ou podem nos impedir de ver além do que está diante de nós.
Em vez de nos penalisarmos por isso, ou tentar encontrar culpados para situações desafiadoras, vale lembrar que todo erro é pedagógico, ou seja, vem com aprendizados valiosos.
Empresas são feitas por pessoas e pessoas podem tomar decisões equivocadas todos os dias. O importante é reconhecer o erro o mais rápido possível (a origem dele, principalmente), encontrar o que pode ter sido responsável para que ele tenha acontecido, para consertá-lo e corrigi-lo assim que for detectado.
Responsabilizar as pessoas ou equipes por decisões equivocadas é bem diferente de procurar culpados – responsabilidade têm a ver com descobrir a origem do que aconteceu.
Encontrar culpados é como queimar bruxas na fogueira: pode despertar rivalidade, remorso, desmotivação e até medo entre os times, o que é o primeiro passo para paralisar evolução e inovação.
Equipes que são responsabilizadas pelos erros e acertos se sentem mais motivadas – e mais propensas a serem transparentes quando algo sai do controle. São também mais inovadoras, porque se permitem arriscar mais.
Além disso, o sentimento de culpa pode prejudicar o desempenho, principalmente feminino, dentro de empresas com culturas culpabilizadoras.
Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrou que 96% das mulheres se sentem culpadas pelo menos uma vez ao dia e, metade delas, lidam com o sentimento mais de quatro vezes, diariamente.
Entre os principais motivos que as fazem sentir culpa estão os erros no trabalho ou a negligência com assuntos ainda não resolvidos.
Segundo ponto: antes de olhar para o futuro, é preciso estar em dia com o passado e com o presente. Isso quer dizer que, para traçar metas e objetivos realistas, que vão levar a empresa aos lugares que realmente interessam, é preciso voltar para o motivo pelo qual a empresa nasceu: missão, visão e valores.
As empresas que possuem missão, visão e valores muito claros, que são mais do que frases bonitas estampadas nas paredes ou postadas nas redes sociais, conseguem olhar para o futuro com muito mais clareza, e entenderem o que faz sentido para elas, mesmo em tempo de dificuldades ou na hora de tomar decisões mais duras.
Por último, considero que a escuta é um momento precioso para o planejamento, e muitas vezes subestimado.
Quando estamos trabalhando em uma empresa e vivendo 24h os assuntos que ali acontecem, é bem fácil perdemos o contato com a realidade: o que realmente a empresa está construindo, o que ela está entregando como diferencial, a percepção dos clientes sobre a empresa e dos próprios colaboradores.
Essa é a hora de escutar e mapear quais são os gaps que estão interferindo no crescimento da companhia, sejam eles produto, comunicação, investimento em marketing, fluxo, motivação da equipe, entre outros.
Só a partir de um diagnóstico totalmente conectado com a realidade das pessoas que orbitam em torno das empresas é possível realizar um planejamento realista, que entregará resultados e que poderá ser ajustado, quando necessário.
O processo de planejamento é parecido com o processo de análise ou terapia: uma junção de empatia, autoconhecimento, conexão com a realidade, objetivos de futuro e ajuste de ações no presente, para além de projeções e fantasias.
Tendo essas ferramentas em mãos, ficamos mais otimistas para construir o futuro que gostaríamos e mais confiantes para lidar com as adversidades que podem, e vão – aparecer durante essa construção.