O investimento-anjo oferece não apenas apoio financeiro, mas também outros recursos importantes, como mentorias e redes de networking. Foi assim para a Scaleup, plataforma de aprendizado para educação à distância e cursos online, que recebeu um aporte de R$ 7 milhões em uma rodada liderada pelo grupo BR Angels, no final de 2022.
Desde então, a startup fundada em 2021 foi capaz de pivotar o modelo de negócios, desenvolver novas frentes e aumentar exponencialmente sua receita.
No primeiro semestre deste ano, a Scaleup viu seu faturamento crescer 119,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Já o seu portfólio conta atualmente com 309 clientes, um aumento de 148% sobre a quantidade registrada no início de 2023.
De acordo com fundador e CEO, Frederico Flores, o projeto inicial era de uma plataforma mobile para a entrega de conteúdos de instituições de ensino, capaz de criar versões curtas (shorts) de aulas a partir de vídeos longos, com o uso de Inteligência Artificial.
O produto foi testado em faculdades, escolas técnicas, universidades, sistemas de ensino e editoras, mas os ciclos de venda eram longos e com baixas taxas de conversão, já que o público se mostrava fechado para inovação e muito resistente à soluções de IA.
Apesar de conseguir fechar contratos importantes em formato de piloto para os sistemas de ensino, a Scaleup preferiu buscar orientação, mudar de abordagem e, por fim, escalou.
“Além do investimento, a captação permitiu interações com os investidores que nos ajudaram no momento em que fizemos a mais importante mudança no modelo de negócios da companhia. Mudamos o nome do produto, passamos de uma plataforma mobile para uma infraestrutura de vídeos com IA integrada, atendendo ao mercado de criadores de conteúdo. O Smart Player, como é chamada a nova ferramenta, aprende com o conteúdo do vídeo hospedado e permite com que o criador de conteúdo gere e-books, mapas mentais, exercícios de múltipla escolha, resumos, legendas, dublagens em vários idiomas e as mesmas versões curtas das aulas (shorts) que oferecíamos anteriormente para as escolas”.
Nesse novo formato, a empresa passou a ter um ciclo de venda muito mais curto e um modelo de receita recorrente que logo nos primeiros meses se mostrou promissor.
Dessa forma, a startup resolveu focar somente no desenvolvimento de seu produto e no lançamento oficial do ferramenta para creators, abandonando por completo as instituições de ensino regulado, e entregando crescimento constante em todos os meses.
No momento, o principal objetivo da Scaleup é entender qual o canal de aquisição mais eficiente para poder acelerar os investimentos. Para isso, trouxe um novo executivo que chegou com a missão de liderar a equipe comercial e passou a participar de eventos, masterminds e grupos com grandes influenciadores.
A startup vem crescendo à taxa de 15% ao mês, desde o início do ano. Para 2025, espera-se uma taxa de alta projetada na mesma proporção.
“Nosso intuito é seguir desenvolvendo ferramentas para facilitar o dia-a-dia do creator, fazendo com que ele seja mais produtivo e consiga gerar novos conteúdos a partir do que já produziu e está hospedado em nossa plataforma”.
Aumento de estrutura e investimento em equipe
Outra startup que conseguiu impulsionar o seu crescimento após passar por um investimento-anjo foi a Sellentt, Software as a Service (SaaS) que traz diferentes recursos para impulsionar equipes comerciais de empresas.
No total, o negócio recebeu R$ 1,4 milhão também do BR Angels, sendo R$ 950 mil em um aporte inicial, em agosto de 2022, e R$ 500 mil em uma segunda rodada, em dezembro do ano passado.
Hoje, a startup registra um crescimento médio de 200% em faturamento e de 85% em sua base de clientes. Apenas nesta primeira metade de 2024, o negócio viu o seu faturamento aumentar 35%.
Fundada em 2018, a Sellentt atua em todo o território nacional, com foco em indústrias de grande e médio porte.
Também usando IA, realiza uma profunda análise de dados para encontrar oportunidades, calcular perdas e gerar alertas qualificados para toda a equipe comercial de uma companhia, desde gestores até times de venda.
A base atual de clientes das Sellentt é de 132 parceiros, aumento de 20% em relação ao ano anterior. Neste período, a startup também registrou alta de 12% em seu ticket médio.
“Esse crescimento nos exigiu estrutura para atender clientes maiores. Focamos e segmentamos os canais de vendas outbound e inbound para estes parceiros e setores que temos maior aderência. Quanto à estrutura, investimos em contratações e treinamento dos times internos de implantação de customer success”, conta Thiago Ronda, CEO da Sellentt.
Utilizando parte dos recursos recebidos, a startup lançou neste ano dois novos canais de venda: programa de indicação e programa de parcerias. Com a chegada dessas soluções, a projeção da Sellentt é chegar até o fim do ano com uma Receita Recorrente Mensal (MMR) em torno de R$ 340 mil e um Faturamento Recorrente Anual (ARR, na sigla em inglês) de R$ 4 milhões, com o objetivo de buscar uma nova rodada de investimento.
“O setor de tecnologia segue sempre uma tendência de evolução, principalmente em relação a sistemas que melhoram o operacional dos seus clientes. Quanto ao nosso crescimento, a última rodada de investimento do BR Angels, unida com uma estratégia muito bem montada e monitorada por eles, foram os principais fatores que contribuíram para esses resultados”.
Sinais de recuperação
Mais uma vez mostrando sinais de recuperação, as startups latino-americanas captaram US$ 2,18 bilhões em recursos no primeiro semestre deste ano, conforme indicou recente estudo do ecossistema Distrito. O volume financeiro aportado registrou alta de 40,7% em comparação com o mesmo período do ano passado, quando as startups da região receberam US$ 1,55 bilhão.
Esse resultado é o melhor desde o segundo semestre de 2022, quando foram levantados US$ 2,75 bilhões. Considerando apenas as startups brasileiras, os números foram mais tímidos, mas positivos: captação de US$ 928,3 milhões no primeiro semestre de 2024, um crescimento de 14,8% em relação ao mesmo período do ano anterior.
“Nos últimos anos, o ecossistema de inovação oscilou entre altos e baixos. No entanto, vemos o setor de forma otimista e com a certeza que o cenário mais preocupante já passou. Acredito que, com o passar do tempo, teremos um volume equilibrado de novos investimentos, com foco principalmente na qualidade dos negócios e não mais na quantidade das rodadas. O investimento-anjo, bem como outras formas de destinação de recursos, segue sendo uma ferramenta essencial para que as startups brasileiras consigam cobrir suas despesas, desenvolver novos produtos ou serviços e, geralmente, atender às necessidades fundamentais do seu negócio”, conclui o fundador e CEO do BR Angels, Orlando Cintra.