Por Helena Prado, presidente executiva da PinePR.
Participar do Web Summit Lisboa é uma ótima oportunidade para mudar de perspectiva. Por alguns dias, ter uma visão panorâmica do cenário global de inovação, ao mesmo tempo colocando foco em questões essenciais e discussões que ultrapassam fronteiras.
Como mulher empreendedora que convive com o mundo tech, vejo uma confluência de mundos que já foram muito distantes, mas que vêm se aproximando, ainda que com muitas possibilidades de evolução. Um bom exemplo disso é o estudo Women in Tech, divulgado pela organização do Web Summit, que mostra o quanto o simples fato de ter uma mulher como fundadora dificulta a evolução de um negócio.
Quase 30% das mais de mil empreendedoras pesquisadas disseram que conseguir financiamento é uma grande barreira para fazer seus negócios decolarem. Sexismo e a pressão para escolher entre carreira e família continuam presentes: 50,8% das mulheres tiveram experiências com sexismo no local de trabalho e 49,1% se sentem pressionadas a optar por filhos ou trabalho, sete pontos mais que na edição passada do estudo.
Esse é um dado absolutamente preocupante, mas que faz sentido num momento em que grande parte das empresas reverteu as políticas de trabalho remoto ou híbrido implementadas na época da pandemia. São casos que mostram que, para muitos gestores, balancear a vida pessoal e profissional não é uma possibilidade real.
Essa possibilidade existe, o desafio é conseguir preservar a cultura quando os times mal se encontram. A retomada do trabalho 100% presencial mostra claramente como muitas empresas tem enfrentado dificuldades no desenvolvimento de uma cultura corporativa sólida e esse é um problema que não vai se resolver por decreto.
A questão do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é mais forte para as mulheres, evidentemente. Não é todo homem que divide as tarefas em casa, o que coloca um peso excessivo sobre nós. Até por essa razão, alcançar esse equilíbrio é algo que empresas fundadas por mulheres costumam carregar em seu DNA.
Nesse sentido, o Web Summit mostra um raio de luz. Nesta edição em Lisboa, aproximadamente um terço das 3 mil startups participantes foram fundadas por mulheres. Na edição do Rio de Janeiro, em abril, 45% das mil startups tinham uma fundadora. Mesmo na do Qatar, 31% das empresas nascentes que se apresentaram eram fundadas por elas.
Um número crescente de empreendedoras significa um novo olhar sobre inovação, liderança, desenvolvimento de cultura e crescimento. E esse é um movimento que se retroalimenta, pois surgem mais exemplos positivos para serem compartilhados e replicados pela sociedade.
De que IA estamos falando?
Como não poderia deixar de ser, a evolução da Inteligência Artificial é um dos grandes temas desta edição do Web Summit. O ponto de partida é otimista: a IA tem o potencial de diminuir as barreiras de gênero e promover mais equidade. Mas, para isso, é preciso envolver as pessoas.
Trata-se de uma ferramenta incrível, que temos usado cada vez mais em nossas atividades de comunicação. Seja para contribuir para o desenvolvimento de pautas, para acelerar atividades de marketing ou para aprofundar os insights que compartilhamos com nossos clientes em nossos painéis de dados, a IA está presente no cotidiano de uma agência de PR.
Mas o que faz a diferença é o ser humano que está pilotando essa ferramenta. Especialmente com a evolução da IA Generativa, que identifica os padrões de diálogo para conversar conosco, é comum cairmos no erro de acreditar que a Inteligência Artificial raciocina. No futuro, pode ser. Hoje, ainda não.
Como consequência, as decisões tomadas pela IA precisam passar por um crivo humano. E deverá continuar sendo assim. O Web Summit Lisboa 2024, desde sua noite de abertura, tem mostrado uma preocupação intensa com o uso ético da tecnologia. A IA deveria estar livre de vieses, para ajudar cada um de nós a destravar nosso potencial.
O que os debates que tenho presenciado no Web Summit mostram, é que existe o desejo de dar limites ao uso de IA, sem prejudicar a inovação, e respeitando em algum grau a privacidade das pessoas. O difícil é equalizar todos esses fatores.
E a resposta para esse dilema não está na tecnologia. Esperar que a IA traga a solução é utópico, pois a resposta reside em nós, como sociedade. Não é uma conversa fácil e não é um debate tranquilo. Certamente as tensões continuarão a surgir. Mas se queremos contar com uma IA que ajude o ser humano a ser mais humano, a hora é agora. Será que vamos conseguir?