Ao longo da última década, o salto tecnológico do ambiente corporativo e a transformação digital pela qual as empresas têm passado mudaram completamente a forma de fazer negócios e, também, a gestão de despesas corporativas. Temos avançado na direção de um ecossistema mais integrado e com menos fricções, como mostram estudos recentes sobre o grau de evolução das companhias brasileiras. Porém, ainda falta um longo caminho, quando o assunto é o armazenamento, gestão e extração de valor dos dados.
O mais recente Índice Transformação Digital Brasil (ITDBr), divulgado em outubro pela Fundação Dom Cabral (FDC) em parceria com a Pwc Brasil, confirma o crescimento de avanços tecnológicos em quase todos os setores no Brasil. Entre os destaques, por exemplo, estão o aumento na adoção de tecnologias como Inteligência Artificial e blockchain, que vêm transformando processos e impulsionando a eficiência no país.
Esses avanços são liderados especialmente pelo setor financeiro, que se posiciona como referência na incorporação de soluções digitais, com 4,3 pontos em uma escala de zero a seis. No entanto, a transformação digital não é uniforme e ainda há bastante resistência ao tema — em especial em setores como o agronegócio. Apenas 14% das empresas afirmam realizar investimentos na transformação digital como prioridade estratégica e 45% delas adotam uma abordagem mais cautelosa nessas iniciativas.
Entre os entusiastas de tecnologia, alguns temas chamaram mais a atenção dos líderes corporativos em 2024. Das organizações consultadas, 20% pontuaram a IA como a principal tecnologia adotada no último ano, 12% mencionaram “robótica” e 9%, “IoT” (Internet das Coisas). Ainda assim, há problemas que afetam todos os segmentos da economia de forma homogênea.
Um exemplo disso é a falta de adoção de uma cultura data-driven dentro das companhias no país. Houve uma queda de 3,9 para 3,5 pontos (também de um total de seis) na dimensão “decisões orientadas por dados” do índice deste ano. Essa deficiência reflete a dificuldade das empresas em transformar dados em insights práticos que guiem estratégias e operações no dia a dia.
A surpresa, para mim, é ainda maior quando notamos que o levantamento consultou grandes empresas e startups. Isso nos mostra que, mesmo em um setor tão avançado quanto o ecossistema de inovação, ainda existem gargalos de tecnologia. A grande questão desse problema não é obter o dado em si, pois, como disse, o dado hoje é commodity. É a forma como as companhias fazem a gestão de suas bases e geram insights a partir desse insumo que muda o jogo de verdade.
E não há como fazer isso, na minha opinião, sem uma visão integrada do negócio. Sem contar com plataformas facilmente adaptáveis e conectadas a todas as pontas da operação, a tendência é que executivos trabalhem de forma reativa ao mercado, ao invés de pensar e agir de maneira estratégica. Ferramentas capazes de consolidar dados financeiros e operacionais em tempo real, assim como a Conta Simples, se tornaram indispensáveis para decisões assertivas no ambiente volátil em que estamos inseridos.
Quanto falamos de tecnologia e transformação digital no ambiente de negócios, não nos referimos apenas ao software, ao hardware ou às ferramentas. É uma discussão sobre liderança e cultura, uma conversa a respeito de valores. Avaliar o grau de evolução dos processos internos de uma empresa está intimamente conectado com os valores que a companhia pratica, e não com os que afirma ter. Parece básico mas para uma empresa criar a cultura do uso de dados isso precisa estar na meta da liderança, dentro de um card de metas e gerando resultados reais para a organização.
Essa é a grande diferença entre companhias que ainda sobrevivem de forma reativa e as que estão preparadas para a próxima década, para o próximo século, que estão de olho no futuro. Desenvolver nossos líderes para pensar a transformação digital não mais como uma vantagem competitiva, mas como um fator crucial para a sustentabilidade da operação, é a chave para transformar o ambiente de negócios do nosso país.