Por Márcio Guimarães, presidente da Liga Coop.
“Faça mais três entregas e ganhe um bônus de R$50,00.” Essa frase foi compartilhada comigo, junto com o relato a seguir, por Fabrício Barili:
“O motorista, que já estava prestes a encerrar sua jornada em uma noite chuvosa, decide ficar um pouco mais, movido pela promessa do bônus. Ele realiza a primeira entrega, depois a segunda, mas a terceira nunca chega. No aplicativo, surge a mensagem de que não há mais pedidos disponíveis. No entanto, as idas e vindas de motoboys na avenida indicam claramente que a demanda continua”.
Essa é apenas uma das realidades que os motoristas de aplicativo enfrentam diariamente no Brasil, especialmente quando a gamificação das plataformas entra em cena.
Infelizmente, um recurso que deveria servir como motivação acaba se tornando uma grande ilusão. A gamificação, que poderia ser uma ferramenta para aumentar a produtividade e engajamento, muitas vezes não passa de uma estratégia para explorar a boa-fé dos motoristas.
A plataforma, em vez de atuar como aliada, conectando os motoristas aos passageiros que precisam de seus serviços, acaba utilizando-os para atender a interesses próprios. A falta de motoristas, a alta demanda ou mesmo o foco no custo-benefício fazem com que as plataformas lancem essas “iscas” para profissionais exaustos, que já enfrentaram mais de 10 horas de trabalho intenso. Eles seguem, na esperança de um bônus que nunca chega.
A gamificação, no entanto, não é a vilã dessa história. Ela é apenas uma ferramenta, e como qualquer outra, seu impacto depende de como é utilizada. Se aplicada corretamente, a gamificação poderia se tornar um excelente recurso para melhorar a experiência tanto dos motoristas quanto dos passageiros. Não deveria gerar descontentamento e frustração, mas, sim, engajamento e motivação.
Quando utilizada de forma justa e equilibrada, a gamificação poderia transformar motoristas exaustos em defensores da plataforma, pois eles perceberiam que seu esforço está sendo reconhecido e recompensado de maneira transparente e justa.
É por isso que, na Federação Nacional das Cooperativas de Mobilidade Urbana (Liga Coop), trabalhamos incansavelmente para garantir que o aplicativo utilizado pelas cooperativas que a integram seja justo e transparente, beneficiando tanto motoristas quanto passageiros.
Nosso objetivo é evitar que situações como essas se repitam e garantir que, caso a gamificação seja implementada, ela seja realmente vantajosa para todos os envolvidos.
Afinal, se a gamificação for aplicada corretamente, ela pode ser uma poderosa ferramenta de motivação, promovendo o benefício mútuo e fortalecendo as relações dentro do setor de mobilidade urbana.