Search

O papel estratégico do Brasil na nova geopolítica dos minerais críticos

Foto: Poswiecie/Pixabay

Por Felipe Bernardi Capistrano Diniz.

Com a transição energética global ganhando ritmo, minerais como lítio, nióbio, cobre, grafite, níquel e terras raras se tornaram recursos estratégicos para o século XXI. Eles são essenciais para a fabricação de baterias, turbinas eólicas, veículos elétricos, painéis solares e sistemas de armazenamento de energia. Nesse cenário, o Brasil desponta como uma peça-chave na nova geopolítica dos minerais críticos, não apenas pela abundância de reservas, mas também pela estabilidade política relativa e pelo histórico de exportador confiável de commodities.

O país abriga uma das maiores reservas mundiais de nióbio — mineral utilizado em ligas metálicas de alta performance — e tem ampliado significativamente sua produção de lítio, especialmente no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Empresas brasileiras e estrangeiras já disputam áreas de exploração na chamada “rota do lítio”, uma região que se transforma rapidamente em um polo de interesse internacional, atraindo investimentos da China, dos Estados Unidos, da União Europeia e de países asiáticos.

A crescente demanda por esses minerais coloca o Brasil em uma posição privilegiada para negociar acordos estratégicos. A disputa entre China e Estados Unidos pelo controle das cadeias de suprimento energéticas torna o país ainda mais relevante, já que o Brasil pode oferecer fontes alternativas de matérias-primas críticas com menor risco geopolítico. Além disso, a busca por cadeias de fornecimento mais sustentáveis e transparentes favorece países que adotam normas ambientais e sociais mais rígidas, o que representa uma oportunidade e também um desafio para o Brasil.

No entanto, o potencial do Brasil nesse setor ainda é subaproveitado. A maioria dos minerais críticos exportados sai do país sem beneficiamento, o que reduz o valor agregado e limita o desenvolvimento de indústrias nacionais de alta tecnologia. Para mudar esse quadro, especialistas defendem uma política industrial mais robusta, capaz de incentivar o refino, a fabricação de componentes e o fortalecimento de centros de pesquisa voltados para novas tecnologias minerais.

Além da dimensão econômica, o papel estratégico do Brasil também se conecta com a diplomacia climática. Países que detêm minerais críticos têm cada vez mais poder de barganha em negociações ambientais, como as que envolvem financiamento climático e transferência de tecnologia. Ao alinhar sua política mineral com metas de descarbonização e inclusão social, o Brasil pode fortalecer sua posição nos fóruns internacionais, como o G20 e a COP.

A soberania sobre esses recursos também se tornou tema de debate interno. Há preocupações sobre a influência crescente de empresas estrangeiras no controle de áreas mineradoras sensíveis, especialmente em regiões de comunidades tradicionais e territórios indígenas. Por isso, cresce a demanda por uma governança mais transparente, que combine atração de investimentos com proteção ambiental e respeito aos direitos das populações locais.

Em um mundo que se reconfigura em torno da energia limpa e da digitalização, o Brasil tem diante de si uma chance histórica de reposicionar sua economia no mapa estratégico global. A maneira como o país irá gerir seus minerais críticos nos próximos anos pode definir não apenas seu papel geopolítico, mas também seu futuro econômico e ambiental.

Compartilhe

Investidor com extenso track record na indústria de investimentos alternativos e operações estruturadas. Venture Partner da FIR Capital.

Leia também