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Prorrogação da NR-1 e o dever estratégico de cuidar da saúde mental nas empresas

Foto: divulgação.

Por Otavio Boari, CEO do UaiRango.

A recente decisão do Ministério do Trabalho e Emprego de adiar para maio de 2026 a obrigatoriedade de inclusão dos riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), conforme a nova redação da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), deve ser encarada como uma oportunidade estratégica — e não como um simples alívio temporário. Oficializada pela Portaria MTE nº 765/2025, publicada em 16 de maio, a prorrogação abre uma janela valiosa para que as empresas reavaliem suas práticas e adotem, desde já, medidas robustas voltadas à promoção da saúde mental no trabalho — uma pauta que se consolida como diferencial competitivo e fator de sustentabilidade.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os transtornos mentais e comportamentais são a terceira maior causa de afastamento do trabalho no Brasil. Estudos indicam que, para cada R$ 1 investido em saúde mental nas empresas, o retorno pode chegar a até R$ 4 em produtividade, conforme publicação da Lancet Psychiatry (Chisholm et al., 2016). Em outro levantamento da Deloitte (2023), 83% dos trabalhadores brasileiros afirmaram que o bem-estar mental impacta diretamente sua motivação, e 59% se dizem insatisfeitos com as políticas atuais de apoio oferecidas pelos empregadores.

A nova NR-1 exige que as empresas adotem uma abordagem sistêmica para identificar, prevenir e mitigar riscos psicossociais — como estresse crônico, assédio, burnout e sobrecarga emocional. Mais do que um checklist regulatório, trata-se de uma transformação cultural que demanda lideranças preparadas, escuta ativa e programas permanentes de cuidado. Dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho mostram que, apenas em 2023, foram registrados mais de 200 mil afastamentos por transtornos mentais e comportamentais no país, consolidando a saúde emocional como um fator crítico de risco ocupacional.

Ignorar essa realidade pode gerar impactos legais, reputacionais e financeiros severos. A nova redação da NR-1 permite que o INSS reconheça automaticamente o nexo causal entre transtornos psicológicos e o ambiente de trabalho, o que pode resultar em multas, aumento da alíquota do Fator Acidentário de Prevenção (FAP) e ações regressivas contra as empresas. Um levantamento da FIESP (2022) estima que o custo médio de afastamentos por transtornos mentais pode ultrapassar R$ 30 mil por trabalhador, considerando perdas de produtividade, encargos trabalhistas e processos judiciais.

Por outro lado, organizações que se anteciparem ao prazo e implementarem políticas consistentes — com ferramentas de escuta contínua, canais de denúncia seguros, capacitação de lideranças e acompanhamento psicológico — não apenas reduzem riscos, mas também fortalecem o engajamento e a retenção de talentos. Segundo o relatório State of the Global Workplace (Gallup, 2022), empresas com altos índices de bem-estar emocional apresentam até 23% mais lucratividade.

A prorrogação da NR-1, portanto, deve ser lida como uma oportunidade para fortalecer a governança corporativa e posicionar as empresas como protagonistas no cuidado com a saúde mental. Não se trata apenas de atender a uma obrigação legal, mas de incorporar uma visão de longo prazo sobre sustentabilidade, responsabilidade social e desempenho. Em um cenário de transformações intensas, cuidar das pessoas deixou de ser apenas uma pauta de RH — e se tornou, definitivamente, um imperativo de negócio.

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