Por Felipe Bernardi Capistrano Diniz.
A Kraft Heinz, uma das maiores empresas de alimentos processados do mundo, anunciou planos de promover uma cisão societária com o objetivo de reestruturar seus negócios e tornar suas operações mais eficientes. A medida, ainda sujeita à aprovação de órgãos reguladores e do conselho de administração, é parte de uma estratégia de longo prazo para destravar valor, aumentar a rentabilidade e adaptar-se melhor às mudanças no comportamento do consumidor.
A cisão resultará na criação de duas empresas independentes, cada uma com foco estratégico distinto. A primeira entidade será dedicada a marcas globais e produtos premium – como os famosos ketchups Heinz e molhos de especialidade – que exigem forte investimento em marketing e inovação. A segunda ficará responsável pelas linhas de produtos mais voltadas ao consumo cotidiano, como queijos, refeições congeladas e alimentos básicos, com foco em escala e eficiência operacional.
Segundo a companhia, a separação permitirá que cada unidade persiga metas de crescimento mais alinhadas ao seu perfil de mercado. A Kraft Heinz acredita que, ao operar com estruturas separadas, será possível acelerar a tomada de decisão, aprofundar a especialização em cada segmento e oferecer ao mercado uma visão mais transparente dos fundamentos financeiros de cada divisão.
Esse tipo de movimentação não é inédito no setor de consumo. Grandes empresas como Kellogg’s (que recentemente separou suas unidades de cereais e lanches) e Johnson & Johnson também realizaram cisões semelhantes. A lógica por trás dessas operações é a de que o mercado tende a valorizar mais companhias focadas, com modelos de negócio claramente definidos e margens específicas, em vez de grandes conglomerados heterogêneos.
Analistas avaliam que a Kraft Heinz está reagindo à estagnação de parte de seu portfólio, especialmente em um cenário de consumidores cada vez mais atentos à saudabilidade, sustentabilidade e ingredientes naturais. A cisão permitirá redirecionar investimentos para áreas com maior potencial de crescimento, como snacks premium, alimentos plant-based e produtos voltados à conveniência, especialmente nos mercados da América do Norte e Europa Ocidental.
Do ponto de vista operacional, a transação exigirá uma reorganização complexa. A companhia deverá redistribuir ativos, recursos humanos, contratos com fornecedores e estruturas logísticas entre as duas novas empresas. Também será necessário estabelecer sistemas contábeis, jurídicos e tecnológicos independentes. A Kraft Heinz garantiu que pretende conduzir o processo com o mínimo de impacto possível para funcionários e parceiros comerciais.
Na frente financeira, cada nova companhia terá estrutura própria de capital e governança, com conselhos de administração e equipes executivas distintas. A expectativa é que ambas mantenham ratings de crédito robustos, facilitando o acesso a financiamentos e a atuação em mercados globais. A cisão também abrirá caminho para eventuais listagens separadas na bolsa, permitindo que investidores escolham entre diferentes perfis de risco e retorno.
A empresa ressaltou que, apesar da separação, manterá compromisso com práticas ambientais, sociais e de governança (ESG) em ambas as novas organizações. Isso incluirá metas independentes de redução de emissão de carbono, responsabilidade social corporativa e rastreabilidade da cadeia produtiva. Cada companhia poderá definir suas prioridades ESG com mais foco e recursos direcionados.
Ainda não foi divulgada uma data definitiva para a conclusão da operação, mas a Kraft Heinz estima que o processo se encerre entre 12 e 18 meses, dependendo da complexidade regulatória e jurídica em cada país onde atua. A gestão se comprometeu a manter acionistas e stakeholders informados sobre cada etapa da cisão, e deverá divulgar detalhes adicionais em suas próximas apresentações trimestrais de resultados.
Caso seja bem-sucedida, essa reestruturação poderá marcar uma nova fase para a Kraft Heinz, permitindo que as duas empresas resultantes atuem com mais liberdade estratégica e competitividade. Para o mercado, trata-se de um movimento relevante que reforça a tendência global de segmentação de negócios como forma de adaptação aos novos desafios do consumo e da inovação no setor alimentício.