Por Cecília Fortunatti e Mayumi Kurimori, fundadoras da VaiViver.
Durante muito tempo, o empreendedorismo foi sinônimo de crescimento acelerado, longas jornadas de trabalho e metas que pareciam não ter fim. Mas, ao longo da nossa trajetória, aprendemos que o verdadeiro sucesso não está em manter a engrenagem girando a qualquer custo e, sim, em respeitar o nosso próprio ritmo.
Como mulheres, aprendemos desde cedo a lidar com nossos ciclos: os do corpo, da vida, dos negócios. Essa natureza cíclica nos ensina que há momentos de expansão e momentos de recolhimento. Nem sempre é tempo de crescer. Às vezes, é tempo de cuidar, planejar, respirar. Essa sensibilidade, que tantas vezes foi vista como fraqueza, é justamente o que nos torna mais preparadas para lidar com as incertezas do mundo.
Empreender sendo mulher é um exercício constante de priorização. Não se trata de “dar conta de tudo”, até porque ninguém dá. Trata-se de entender o que realmente importa em cada fase, de reconhecer que há dias de força e dias de pausa, e que ambos são necessários. Costumamos dizer que o bem-estar é um combustível e, quando a mulher se permite parar e cuidar de si, ela volta mais inteira, para o trabalho, para a família, para os seus sonhos.
Foi com esse olhar que nasceu a VaiViver, em 2016. O que começou como viagens entre amigas universitárias, com o desejo de explorar o Brasil de forma acessível e sustentável, se transformou em um negócio que já levou mais de 10 mil pessoas a experiências autênticas em meio à natureza e comunidades locais. Na época, tínhamos pouco mais de 20 anos, estudávamos engenharia na USP de Lorena (SP) e organizávamos as primeiras viagens apenas para dividir custos entre colegas. Com R$14 investidos em copos e chocolate quente, demos início a algo muito maior do que imaginávamos.
Ao longo dos anos, enfrentamos desafios típicos do empreendedorismo, da falta de recursos à pandemia, mas aprendemos que crescer também é sobre se reinventar. Em meio à incerteza, mergulhamos em estudos, reestruturamos o negócio e fortalecemos nossas bases. Essa escolha de olhar para dentro antes de dar o próximo passo foi muito importante para continuarmos em movimento, com propósito e leveza.
Nossas viagens nasceram desse mesmo olhar: o de promover pausas com propósito. Mais do que conhecer um destino, nossas viajantes buscam reconexão. Elas querem sair do automático, se permitir viver algo novo, se reconectar com a própria essência. São mulheres curiosas, protagonistas de suas histórias, que já descobriram que o caminho começa com o olhar para dentro. Mesmo quando o trabalho está puxado, os desafios pessoais apertam ou o cotidiano pesa, elas seguem com coragem e vontade de fazer acontecer.
Essa força também aparece de um jeito muito bonito no turismo sustentável. Temos orgulho de trabalhar com tantas mulheres em diferentes regiões do Brasil, muitas delas à frente de iniciativas locais. No turismo, as mulheres estão em destaque, é inspirador ver como esse olhar feminino, mais atento aos detalhes, à escuta e ao cuidado, torna a experiência mais humana. Por isso, na VaiViver, sempre buscamos parcerias com outras mulheres, porque nos entendemos, nos apoiamos e crescemos juntas.
A maternidade também faz parte dessa jornada. Quando a Mayumi engravidou, no auge da expansão da empresa, precisou conciliar o puerpério com a rotina intensa de trabalho — e descobriu, na prática, o equilíbrio possível entre os papéis de mãe e empreendedora. Existem momentos de exaustão, mas também de muita força. Aprendemos a respeitar nossos limites e a contar com quem está por perto para seguir em frente.
Essa visão reflete o que acreditamos, que nenhuma empreendedora caminha sozinha. Toda mulher que sustenta um negócio também se apoia em outras mulheres, seja suas colegas, amigas, mães, profissionais que estendem a mão e ajudam a manter a peteca no ar. Pedir ajuda não é sinal de fraqueza mas sim, um ato de coragem.
Por isso, quando olhamos para trás e vemos tudo o que construímos, entendemos que a leveza nunca significou ausência de esforço, mas a presença de propósito. A VaiViver cresceu porque se manteve fiel à sua essência: criar experiências de conexão com a natureza e com o outro, valorizando o tempo, o cuidado e o respeito por cada ciclo.
Por isso, a mensagem que deixamos neste Dia do Empreendedorismo Feminino é clara: comece, mesmo sem saber tudo. O caminho se constrói andando, aprendendo, errando, voltando e tentando de novo. Empreender com leveza é reconhecer o próprio tempo, respeitar os ciclos e seguir com propósito, porque juntas, sempre vamos mais longe.