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A Terra de ninguém e o culto à ignorância digital

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Foto: Artem Podrez/Pexels
Foto: Artem Podrez/Pexels

Vivemos um tempo onde a liberdade de expressão é confundida com a liberdade de desinformação. A proposta do Projeto de Lei 5990/2025, que visa limitar a opinião técnica na internet a pessoas com formação adequada, surge no epicentro de uma crise global sobre os efeitos devastadores do uso descontrolado das telas e da influência irresponsável nas redes sociais.

Enquanto no Brasil ainda discutimos se é lícito exigir formação básica para que alguém fale de medicina, investimentos ou nutrição, países como a Austrália já baniram redes sociais para menores de 16 anos e a China implementa regras rigorosas que vão desde a proibição de influenciadores abordarem assuntos técnicos sem certificação até o rastreio de responsabilidade civil por danos causados por informações falsas.

A internet se tornou a nova terra de ninguém. Um lugar onde a influência é medida em engajamento e não em conhecimento. Onde a voz de um desconhecido com um microfone, um anel de LED e uma opinião rasa tem mais impacto sobre milhões do que especialistas com décadas de estudo.

É nesse solo infértil que florescem aberrações como o caso Ítalo. Um garoto empurrado para a fama por uma mídia sedenta por cliques e uma população cada vez mais vulnerável, carente de educação crítica e nutrida por algoritmos que recompensam o sensacionalismo. A adultização precoce de crianças como entretenimento é apenas mais uma camada dessa distopia.

O problema central não é a existência da internet. É a inexistência de regras claras, de responsabilização e, sobretudo, de consciência. O modelo de negócio das plataformas digitais se sustenta em uma indústria da atenção que monetiza nossa distração. Ninguém paga, todos somos produtos. Nossa atenção é leiloada em tempo real para anunciantes que nem sabemos que existem.

A quem interessa manter tudo como está? Aos que lucram com a ignorância, às empresas que transformam desinformação em métrica de sucesso, aos políticos que não querem um povo crítico, e a uma indústria que venera os dados pessoais como o novo petróleo.

O PL 5990/2025 pode não ser perfeito. Mas é um ponto de partida. Precisamos urgentemente de um novo pacto civilizacional sobre o que é responsabilidade no mundo digital. Não se trata de censura, mas de sanidade.

O Brasil precisa decidir se continuará sendo o país onde qualquer um pode vender milagres em nome da “liberdade de opinião”, ou se, como outras nações, vamos colocar um freio na histeria digital que contamina o inconsciente coletivo.

Ignorar esse debate é consentir com a barbárie digital. E quando os dados são a nova moeda, a ignorância é o novo ouro.

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empreendedor, CEO da EquilibriON e especialista em bem-estar digital.

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