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A evolução e as particularidades do mercado de NPL no contexto global

Foto: divulgação.

Por Marcel Souza, diretor comercial da DebitumX.

Nos últimos anos, o cenário global tem sido marcado por um crescimento substancial no endividamento de pessoas e empresas. Este fenômeno, contudo, não se traduz necessariamente em um aumento proporcional da inadimplência. A expansão do crédito, um traço característico das economias avançadas, é impulsionada pelo crescimento acelerado das instituições de crédito. Fato é que essa realidade tem exercido uma pressão significativa sobre a liquidez dos empréstimos e contribuído para o aumento dos volumes de Non-Performing Loans (NPLs), especialmente em mercados emergentes. Tal situação é exacerbada pela volatilidade econômica e pelo incremento nos custos de crédito.

Ao observarmos o panorama internacional, notamos contrastes marcantes na maturidade e na estrutura dos mercados de NPL. Nos Estados Unidos e na Europa, os mercados são robustos e consolidados, sustentados por uma forte infraestrutura de capital. Em contrapartida, a América Latina apresenta um mercado menos desenvolvido, estimado entre 40 e 80 bilhões de dólares. No Brasil, o mercado de NPL é peculiar, sendo dominado por um grupo restrito de compradores locais, que frequentemente atuam também como vendedores, detendo uma vantagem competitiva sobre investidores internacionais, que enfrentam alguns desafios, como o risco cambial.

O processo de venda de NPLs nos países menores da América Latina e em regiões como o Caribe e América Central é particularmente desafiador. A carência de infraestrutura e experiência, somada ao pequeno volume das transações, gera uma lacuna significativa entre as expectativas de preço e o interesse dos investidores institucionais.

Analisando a maturidade do mercado de cessão de crédito, percebemos que ele atingiu um estágio avançado nos EUA e na Europa, impulsionado por crises financeiras nas últimas décadas que catalisaram a profissionalização e estruturação do setor. Crises como a bancária dos anos 90 e a financeira global de 2008 foram decisivas para o desenvolvimento do mercado de NPL local.

Há diferenças notáveis nos tipos de créditos negociados em cada região. No Brasil e na Colômbia, por exemplo, predominam os NPLs de consumo, enquanto na Europa há uma gama mais ampla de ativos negociados, com processos de venda que vão desde licitações competitivas até acordos bilaterais. Em termos tecnológicos, a América Latina apresenta um cenário onde serviços especializados frequentemente dependem de tecnologia proprietária para precificação e monitoramento pós-venda. Na Europa, as tecnologias tendem a ser mais homogeneizadas.

Quanto à regulação, a América Latina está progredindo, com um foco principal na proteção de dados e na prevenção à lavagem de dinheiro. Já a Europa, sob o resguardo da União Europeia, oferece uma maior uniformidade regulatória, o que aumenta a segurança jurídica e a atratividade dos mercados de NPL.

Esse panorama global dos mercados de NPL revela um mosaico complexo e diversificado, refletindo as particularidades econômicas, regulatórias e tecnológicas de cada região. A compreensão dessas nuances é fundamental para os atores envolvidos, desde investidores até reguladores, na formulação de estratégias eficazes e na promoção de um mercado de crédito mais saudável e resiliente.

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