A população feminina no Brasil cresceu 7,4% de 2010 a 2022, atingindo mais de 51,5% do total de habitantes, segundo o Censo Demográfico de 2022 realizado pelo IBGE.
No entanto, hoje, as mulheres ocupam apenas 38% dos cargos de liderança no país, conforme dados da última pesquisa da consultoria Grant Thornton.
Apesar do cenário ainda não ser o ideal do ponto de vista do igualitarismo e com a diversidade de gênero ainda caminhando para se fazer mais presente em posições altas nas empresas, optamos por ver o copo meio cheio e expressar nosso contentamento pelo fato da representatividade feminina vir ganhando cada vez mais espaço no mercado corporativo e, principalmente, na área de tecnologia, que por muitos anos foi predominantemente masculina.
Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, convidamos cinco executivas que atuam em grandes empresas para trazerem suas visões e opiniões sobre a importância da representatividade feminina e com isso possamos empoderar e inspirar outras mulheres de que elas podem chegar aonde elas quiserem em suas vidas e carreiras profissionais.
- Maria Flávia Penha, 46 anos, Diretora de Marketing na Deal, uma consultoria de serviços de tecnologia, destaca os benefícios que as organizações possuem ao terem mulheres ocupando cargos de liderança.
“A diversidade traz visões diferentes e enriquecedoras. A resiliência é uma das características marcantes em nós, mulheres. Estamos condicionadas a lidar com as adversidades que podem surgir na vida desde cedo e o histórico na sociedade por si só já comprova o quanto somos destemidas e dedicadas quando o assunto é contornar problemas. Esta soft skill é uma das mais procuradas, hoje em dia, no mercado corporativo, que precisa de líderes perseverantes e que possa vencer os obstáculos diante de um cenário tão incerto”.
“Empatia, flexibilidade e colaboração são outras habilidades natas do público feminino e fundamentais para uma corporação que quer percorrer o sucesso. Se colocar no lugar do outro e olhar para o lado humano da questão ajudam muito no clima organizacional. Mulheres conseguem administrar todas as suas responsabilidades e, ao mesmo tempo, observar as necessidades dos colaboradores da equipe. Somos mais propensas a nos adaptar a mudanças e, além disso, as mulheres tendem a ter um estilo de liderança mais cooperativo e participativo, com conversas e escuta ativa, o que faz com que os funcionários se sintam mais valorizados”.
Em sua trajetória profissional, Maria Flávia não apenas desbravou a área de marketing, como mergulhou de cabeça no universo tech e hoje está à frente das decisões de uma importante empresa do setor de tecnologia. “Chegar numa posição de alta liderança e ainda ter a oportunidade de mentorar mulheres são conquistas que me enchem de orgulho. Ter foco no que eu queria, não me deixando abater pelas dificuldades, além de não perder minha essência, foram estratégias importantes para me ajudar a chegar até aqui”.
- Camilla Aidar, 46 anos, Diretora Comercial e de Sucesso do Cliente Fintech na Vindi, plataforma de pagamento, conta que desde cedo se encantou com o mundo digital, em 2009.
“Mudei de profissão depois de fazer um curso de Gerente de E-commerce, pois pretendia abrir um site para comercializar aulas de gastronomia, profissão na qual eu atuava na época. Dali pra frente fui me envolvendo cada vez mais no mundo da tecnologia e descobrindo milhares de possibilidades, conhecimento vasto, oportunidades infinitas e nunca mais quis saber de outro segmento para atuar”.
“Os desafios pelo caminho todos encontram, independente da orientaçãosexual, mas, o fato de ser mulher em um ambiente muito mais masculino, como o de tecnologia, faz com que a gente tenha que se provar muito mais do que os homens e tudo bem também, porque se o cenário é esse não vamos desistir, certo?”, afirma Camilla. A dica que a executiva dá para outras mulheres é: “estudem, conheçam, sejam curiosas, criem relacionamentos com pessoas das áreas de interesse, corram atrás dos seus sonhos. Não desistam nunca. O mercado precisa de diversidade e a nova geração é que vai contribuir para que essas mudanças sejam genuinamente efetivas, seguidas e evoluídas ao longo dos tempos”.
- Fernanda Toscano, 40 anos, Superintendente de TI da Veloe, empresa especializada em soluções de mobilidade urbana e gestão de frotas, revela que escolheu trabalhar com tecnologia por sempre ter sido apaixonada por como a área pode mudar o mundo.
“O setor tech é super dinâmico, o que torna cada dia uma oportunidade de aprender algo novo e de encontrar soluções criativas para problemas complexos. Além disso, adoro a ideia de fazer parte de uma equipe que está inovando, transformando a maneira como as pessoas vivem e causando um impacto positivo no mundo ao nosso redor”.
A executiva enxerga que a falta de representatividade feminina em cargos de liderança e em áreas técnicas, principalmente em ciência da computação e engenharia de software, ainda é uma realidade e que há muito a ser feito, mas também reconhece que há um movimento crescente de conscientização e iniciativas para promover a diversidade e inclusão nesse ramo.
“Mais empresas estão reconhecendo a importância de ter equipes diversas e estão tomando medidas concretas para garantir que isso aconteça. Isso inclui a implementação de políticas de recrutamento mais inclusivas, programas de mentoria e desenvolvimento voltados para grupos sub-representados, como mulheres, minorias étnicas e LGBTQIA+, além da criação de ambientes de trabalho que valorizam a diversidade de perspectivas e experiências. Nos últimos anos, tenho visto um crescente apoio e visibilidade para as mulheres na tecnologia. Há uma série de iniciativas, como grupos de networking, conferências e programas de capacitação, que visam apoiar e promover o avanço das mulheres nessa área”.
- Juliana Mayumi Yamamura, 41 anos, Gerente de Digital na Getnet Brasil, empresa de tecnologia para soluções de pagamento do grupo global PagoNxt, do Santander, acredita que o mercado de tecnologia é promissor e de muitas oportunidades de crescimento de carreira.
“A visão feminina potencializa entregas diferenciadas, resolvendo dores de negócios e com coerência no segmento. Isso tem sido bem valorizado. Com mais conscientização, o ambiente tende a harmonizar e equalizar as relações”, afirma. Ela completa contando o motivo de ter escolhido esse setor para sua carreira. “Eu via a sociedade conectada e imersa cada vez mais no mundo digital, sabia que havia uma tendência forte de crescimento da área e não queria ficar de fora. Além disso, o mundo da tecnologia traz ferramentas que facilitam os processos dentro das empresas e auxiliam no crescimento de cada negócio. O acesso à informação sobre o segmento permite que as mulheres antecipadamente busquem esclarecer suas dúvidas e tenham mais informações que as deixem confortáveis sobre sua escolha de carreira na área e isso também contribui para transformar o ambiente e as relações”.
- Jumara Mendonça Noronha Santos, 45 anos, Superintendente de Negócios Digitais do Banese, Banco do Estado de Sergipe, optou pela área de tecnologia desde a faculdade e também traz sua visão sobre a representatividade feminina no setor.
“Sempre tive afinidade com as matérias de exatas e na época que fiz vestibular, computação já era uma área muito promissora, que demonstrava boas perspectivas para o mercado de trabalho. Isso também me influenciou na escolha, sem dúvida. A verdade é que o mercado tech ainda é muito masculino e fatores históricos e culturais possuem relação direta com esse cenário. Em função disso, temos poucas mulheres atuando na TI e, consequentemente, a quantidade de mulheres liderando setores na TI também acaba sendo pequena, mas os números mostram que houve um aumento da participação feminina na TI nos últimos anos. Hoje em dia, muitas empresas já entendem que é importante que as soluções tecnológicas reflitam diferentes perspectivas e necessidades de todos os grupos sociais”.
A profissional termina a nossa série de mulheres líderes na tecnologia com um conselho para todas as que almejam seguir carreira em tech.
“Se vocês gostam da área de tecnologia, continuem investindo nessa carreira, pois o mercado de TI está aquecido, com boas perspectivas de empregabilidade. Entendam que não há qualquer diferença cognitiva entre homens e mulheres que justifiquem um melhor desempenho do homem em relação à mulher nessa área. Confiem em vocês mesmas, desenvolvam-se e mostrem todo o seu potencial”.