Por Eduardo Rodrigues, gerente de inovação da Health Angels Venture Builder.
Em um país que comporta uma população superior a 203 milhões de habitantes, segundo o último Censo, pensar em acesso à saúde e ao bem-estar não é uma tarefa fácil. Contudo, “promover a universalidade, integralidade e equidade, garantindo acesso amplo e gratuito para todos os cidadãos” é o objetivo principal do Sistema Único de Saúde (SUS). Criado pela Constituição Federal de 1988 no Brasil, o SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo e se destaca diante dos desafios globais na área pela sua abrangência e comprometimento com a promoção do bem-estar da população. O bilionário e visionário Bill Gates elogiou o SUS publicamente em declarações sobre o impacto do sistema público brasileiro em garantir o acesso à saúde de forma universal.
Estabelecendo um recorte comparativo com a maior economia do mundo, nos Estados Unidos – onde o sistema de saúde é predominantemente privado – os custos de um transplante, por exemplo, podem ser substanciais, podendo chegar a centenas de milhares de dólares. Eles incluem despesas médicas, custos hospitalares, honorários de profissionais de saúde, medicamentos imunossupressores pós-transplante e acompanhamento pós-operatório. Já no Brasil, o sistema público garante acesso a todas as etapas acima mencionadas, com despesas atendidas integralmente pelo governo.
Desafios em foco
Apesar dos avanços proporcionados pelo SUS, o sistema enfrenta desafios consideráveis, especialmente em um país de dimensões continentais como o Brasil. Limitações econômicas, estruturais e demográficas impactam diretamente a eficiência, podendo resultar em longas filas de espera, insuficiência de recursos e desafios na gestão da saúde pública.
As startups têm exercido papel crucial na transformação do SUS nos últimos anos. A agilidade, capacidade de inovação e o foco na eficiência possibilitam acesso a soluções disruptivas para os problemas enfrentados pelo sistema. A introdução de soluções tecnológicas baseadas em telemedicina, aplicativos de acompanhamento de saúde e sistemas de gestão integrados são exemplos de como as startups têm impactado esse cenário. Segundo o IBGE, 7 em cada 10 brasileiros, ou cerca de 150 milhões de pessoas, dependeram do SUS para tratamento em 2019.
Ideias transformadoras
Um exemplo inspirador é a startup epHealth. Com modelo de negócios inovador, possui foco na saúde pública, começando pela saúde primária e pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) como base estruturante do SUS. Atualmente, oferece diferentes sistemas para a rede pública, como o aplicativo gratuito ACS Lite, que facilita o trabalho desses agentes por meio da coleta de dados, cadastro de domicílios, geração de relatórios, entre outras funcionalidades. Também conta com o sistema cloud epPro, que auxilia as secretarias municipais de saúde na otimização de processos, como gerenciamento de equipe, produtividade e engajamento dos ACS e geração e envio de lotes para o eSUS.
Nesse contexto, startups que atuaram durante a pandemia de Covid-19 também se destacam. A Hilab, que oferece serviços de exames laboratoriais remotos 24 horas para farmácias, clínicas e consultórios médicos e outros estabelecimentos de saúde, desenvolveu soluções de testagem rápida para desafogar o estado crítico de demandas na época. Na mesma linha, a Testify que já oferecia um leque de exames no estilo home collecting tests e atua para desburocratizar o processo laboratorial convencional de testes como de intolerância alimentar, microbioma intestinal e marcadores genéticos relacionados à dermatologia, criou também um kit específico para a Covid-19 para auxiliar na alta demanda.
ParaBetânia Lemos, presidente da Enap (Escola Nacional de Administração Pública), “a complexidade dos problemas públicos exige uma abordagem inovadora e colaborativa do governo em conjunto com a sociedade, pois o governo sozinho não é capaz de resolver todos os problemas”.
A elevada taxa de dependência do sistema público no sétimo país mais populoso do mundo reforça a importância e a urgência da facilitação de acesso às novas soluções ofertadas por startups nos setores públicos. Através delas é possível acelerar a revolução do sistema principalmente nas áreas da prevenção e promoção da saúde, que muitas vezes carecem de inovações significativas, devido a modelos operacionais e de gestão mais reativos. Investir em tecnologias e iniciativas que visam prevenir doenças e promover hábitos saudáveis pode resultar em uma redução substancial da demanda nos serviços da área, aliviando a pressão sobre o sistema.