Por Marcio Dias, CCO da Craft.
A participação de pequenos negócios nas vendas externas é um tema global, obrigatório quando se fala de crescimento econômico sustentável e inclusivo.
O estudo Perspectivas de PME e Empreendedorismo 2023, realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), aponta que as pequenas e médias empresas, apesar de serem responsáveis por 69% dos empregos nas companhias industriais entre os 35 países membros da instituição e por 59% do volume de negócios, têm participação comercial relativamente menor em comparação às grandes corporações, representando 45% das exportações.
De acordo com o levantamento, essa sub-representação no comércio internacional ocorre, muitas vezes, pelo baixo conhecimento sobre mercados e regulamentações, assim como capacidade financeira insuficiente.
No Brasil, a pesquisa Pequenos Negócios no Comércio Exterior, divulgada pelo Sebrae, a partir de dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) em um intervalo de cinco anos (2017 a 2022), demonstra que o número de micro e pequenas empresas (MPEs) exportadoras passou de 7.117 para 11.413, um crescimento superior a 60%.
O aumento da representatividade alcançou níveis recordes nos dois anos de auge da Covid-19, o que sugere que essas companhias souberam aproveitar os benefícios oferecidos em programas micro e macroeconômicos do período, passando a representar 41% dos embarcadores nacionais em 2022.
O crescimento do número de MPEs nas exportações é superior ao das médias e grandes empresas (MGEs). O aumento médio anual foi de 10,3%, quatro vezes mais que o das MGEs, com 2,5%.
Apesar desse movimento positivo, a situação ainda está longe do real potencial do setor. De acordo com dados da Balança Comercial, em 2022, ano final do período analisado pelo estudo do Sebrae, as exportações brasileiras somaram 335 bilhões de dólares, mas as MPEs foram responsáveis por apenas 3,1 bilhões de dólares, menos de 1% do total.
Tal cenário é justificado ainda pela falta de conhecimento sobre barreiras não tarifárias, regulamentos e procedimentos fronteiriços e acesso limitado ao financiamento. Falta cultura exportadora para as pequenas corporações em quase todo mundo e no Brasil não é diferente.
Para incentivar a atuação de forma mais ampla, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) lançou a Política Nacional da Cultura Exportadora (PNCE).
O objetivo é auxiliá-las a ultrapassarem a barreira de 1% de participação nas exportações e descentralizar as operações (atualmente concentradas, cerca de 90%, nas regiões Sul e Sudeste), por meio de políticas públicas para desenvolver e fortalecer ações para inserir mais empresas na atividade e apoiar sua permanência no mercado global.
Entre outras medidas recentemente adotadas pelo governo estão o Programa de Qualificação para Exportação (Peiex), uma parceria da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) com a instituição Athon Ensino Superior, que visa preparar empresas para iniciar o processo de exportação de forma planejada e segura; e a Licença Flex, que desburocratiza processos e diminui os custos para emissão de licenças a empresas exportadoras.
As medidas chegam em boa hora, e por diferentes motivos, e precisam avançar rapidamente. O aumento de negócios das MPEs no mercado externo fortalece e beneficia toda a cadeia de prestadores de serviços envolvidos nas operações internacionais.
Além de gerarem receita e empregos, ampliam as vendas externas do Brasil e, consequentemente, o superávit na balança comercial brasileira.
As inciativas também são importantes para aumentar o número de produtos da pauta de exportação, já que hoje 40% estão concentradas em apenas três itens: soja, petróleo bruto e minério de ferro. Diversificar, portanto, significa diminuir a dependência de oscilações de preços e de demanda por essas commodities, que são altamente impactadas por questões econômicas e geopolíticas.
Apesar de muitos pequenos empresários acreditarem que é complexo exportar, já que as MPEs, em geral, trabalham com uma equipe reduzida, baixa escala de produtos e menor volume de carga para a logística internacional, vemos um avanço expressivo nas últimas décadas.
O uso de tecnologias e a parceria com bons prestadores de serviços diminuem esse impacto de inserção no mercado externo e são aliados no desenvolvimento da cultura exportadora nas empresas.
Buscar o suporte profissional qualificado em comércio internacional para se assegurar de todos os registros junto aos órgãos intervenientes, além de pesquisar sobre os possíveis destinos, são os primeiros passos para uma jornada exitosa.
Tal processo envolve ainda a definição dos Incoterms (Termos Internacionais de Comércio, que consiste nos direitos e obrigações do exportador e do importador no contrato internacional) e a escolha do modal de transporte mais adequado (uma equação que envolve custo x tempo de trânsito).
A logística internacional tem ampliado as possibilidades para atender às novas situações e demandas. A consolidação de cargas em contêiner marítimo é uma solução muito vantajosa para empresas que necessitam transportar menores volumes e ter um frete competitivo. O tempo de trânsito das operações marítimas está cada dia menor.
Para se ter uma ideia, há 20 anos, uma operação de exportação de carga consolidada do porto de Santos (SP) para o porto de Shangai, na China, durava, em média, 45 a 60 dias. Hoje, é possível fazer o mesmo trajeto em quase metade do tempo, entre 25 e 35 dias.
Essas mudanças de cenário têm se configurado em uma importante janela para as MPEs terem mais segurança para atuar no comércio global. As fronteiras deixam de ser uma oportunidade apenas para as grandes empresas, o que é muito favorável para os pequenos empreendedores e, também, para o Brasil.