Por Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria.
Já ouviu falar em “ano sabático”? A expressão evoca imagens de viagens pelo mundo, de dias sem pressa, de redescobertas interiores. Mas o que realmente significa tirar um ano sabático?
É um período, geralmente de um ano, em que uma pessoa decide se afastar de suas atividades profissionais e rotineiras para se dedicar a outros projetos, interesses ou simplesmente para descansar e reavaliar a vida. O termo “sabático” deriva do hebraico, “shabbat”, que significa descanso. Na tradição judaica, a cada sete anos, a terra deveria ser deixada em repouso, sem cultivo, um ano de descanso e renovação.
Se você é como eu, caro leitor, estimada leitora, ainda não tirou o seu. Entretanto, depois dos filhos estarem crescidos, é algo que quero me dar ao direito para ter um período de descanso e renovação. Como veremos, não pode ser considerado uma super férias ou até um refúgio dos que não são afeitos ao batente; vai muito além disso.
A prática do ano sabático tem suas raízes na antiguidade. Originalmente, o conceito era agrário, mas com o tempo foi adaptado para o campo acadêmico. Nos séculos XIX e XX, universidades começaram a adotar o ano sabático para que professores pudessem dedicar-se à pesquisa, atualização de conhecimentos ou simplesmente para recarregar as energias. Hoje, o conceito se expandiu além da academia e pode ser encontrado em várias profissões.
Quem apenas leciona e não se dedica à pesquisa corre o risco de ficar desatualizado. Atualmente, esse risco acaba sendo mitigado por rotinas duplas ou triplas, mas se o tema exigir um estudo mais aprofundado, conciliar essas duas coisas é desafiador; nesse contexto, o ano sabático pode ser fundamental.
Mas quem pode tirar o ano sabático?
Qualquer pessoa, na teoria. Na prática, isso depende de condições financeiras e estruturais. Profissionais autônomos, freelancers e empresários têm maior flexibilidade para planejar um período sabático, mas é preciso organização financeira.
Empresas também começam a oferecer essa possibilidade como um benefício, especialmente em setores de tecnologia e inovação, onde a criatividade e o bem-estar dos funcionários são valorizados.
Várias personalidades conhecidas já desfrutaram de um ano sabático. Bill Gates, por exemplo, é famoso por seus “think weeks”, períodos de afastamento dedicados à leitura e reflexão. J.K. Rowling, autora de Harry Potter, tirou um ano sabático para se concentrar na escrita. Até mesmo personalidades do mundo esportivo, como Michael Jordan, já fizeram pausas em suas carreiras para buscar renovação e novos desafios.
O que fazer durante o seu ano sabático?
As possibilidades são infinitas. Alguns optam por viajar, conhecendo novas culturas e lugares. Outros dedicam o tempo a projetos pessoais, como escrever um livro, aprender um novo idioma ou desenvolver uma habilidade artística. Há quem utilize o período para voluntariado, contribuindo com causas sociais e humanitárias. O importante é ser um tempo de crescimento pessoal e renovação.
E, sobretudo, haver disciplina para manter-se longe do trabalho. Quando penso em mim, levando o computador a tiracolo na viagem de lua de mel, ter essa disciplina seria um desafio. Já imaginou, leitor, não ficar olhando para a tela do celular em busca de mensagens e atualizações de e-mails? A cabeça precisará aprender outras funções e superar a vigília constante.
Quanto custa tirar um ano sabático?
Os custos de um ano sabático variam significativamente, dependendo do estilo de vida e das atividades planejadas. Viagens internacionais, cursos, projetos pessoais, tudo isso pode variar de alguns milhares a dezenas de milhares de reais. O planejamento financeiro é crucial. É recomendável economizar com antecedência e considerar todas as despesas possíveis, desde moradia, até saúde e lazer.
Se possível, crie um investimento no qual você destine todo mês uma parte da sua renda ao seu projeto sabático. Ou, se houver espaço, fale com seu chefe sobre a possibilidade do aprendizado do ano ser focado em algo interessante para a empresa. Por exemplo, uma pós-graduação ou experiência em algum lugar referência em conhecimento.
Prós e contras do ano sabático
As diferentes gerações têm percepções variadas sobre o ano sabático. Os baby boomers, por exemplo, podem ver a iniciativa como um luxo ou até mesmo como uma ideia estranha, algo fora do comum em suas carreiras lineares. A geração X tende a ser pragmática, valorizando o planejamento cuidadoso e o balanço entre trabalho e vida pessoal. Os millennials e a geração Z, por sua vez, encaram o ano sabático como uma oportunidade valiosa de desenvolvimento pessoal, refletindo seu desejo por experiências significativas e flexibilidade de vida.
Afinal, quais são os prós e contras para se tomar esta decisão?
Como prós, destaco renovação pessoal e profissional. Um ano sabático pode proporcionar uma pausa necessária para refletir, redefinir metas e buscar novos conhecimentos. Também pode ser um período importante para desenvolver novas habilidades, pois aproveitar esse tempo para aprender algo novo pode enriquecer tanto a vida pessoal quanto a carreira.
Por fim, destaco a importância deste período para a saúde mental; uma pausa das pressões diárias pode ajudar a reduzir o estresse e melhorar o bem-estar geral.
Como toda grande decisão, avalio, como contras, três pontos principais. Um deles é o impacto financeiro; ausência de renda regular pode ser um desafio, especialmente se não houver um planejamento adequado. Também há um risco de desconexão, pois um ano fora do mercado de trabalho pode resultar em desafios para a reintegração profissional. Por fim, cuidado com expectativas irrealistas: idealizar o ano sabático pode levar a frustrações, se as expectativas não forem correspondidas.
Em todo caso, decidir por um ano sabático é uma escolha pessoal, que requer planejamento e reflexão. Os benefícios podem ser imensos, proporcionando renovação e crescimento, mas é essencial estar ciente dos desafios e se preparar para eles. Ao fim, um ano sabático bem planejado pode ser uma experiência transformadora, impactando positivamente a vida pessoal e profissional de quem se permite essa pausa para redescobrir-se e evoluir.
E você, já tirou um sabático? Como foi a sua experiência?