Por Daniel Gispert, presidente do Grupo SteelCorp.
Nos últimos 12 meses, o custo da mão de obra aumentou 6,24%, segundo o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). Além disso, a construção civil registra sua maior alta de preços em 28 anos, de acordo com um levantamento da Fundação Getúlio Vargas. A inflação no setor é evidenciada por um aumento médio de 38,66% nos preços desde abril do ano passado.
Essa inflação na construção civil também é impulsionada indiretamente pela relutância em adotar novas tecnologias construtivas. No Brasil, dados do setor apontam que atualmente apenas 34,6% das empresas fazem uso de sistemas pré-fabricados em suas obras. Além disso, menos de 1% das construções utilizam o método de Light Steel Frame.
No entanto, essa mentalidade está passando por uma transformação significativa, com o setor de construção industrializada inovando mais nos últimos 5 anos do que nos 15 anos anteriores. Assim, ao quebrar essa barreira cultural, o mercado se torna mais receptivo às novas tecnologias, reduzindo a dependência de mão de obra no canteiro, encurtando os prazos e tornando o processo mais barato.
Com métodos de construção baseados em Light Steel Frame, até 60% das obras são realizadas fora do canteiro, o que pode reduzir em 35% o número de trabalhadores no local da obra e reduzir cronograma de entrega em cerca de 50%. O desenvolvimento tecnológico dos últimos anos tem permitido a execução de obras cada vez mais eficientes, com menos aço por metro quadrado, o que resulta em custos reduzidos e maior competitividade
no mercado.
Essa inovação possibilita que projetos que anteriormente seriam impensáveis de serem executados com construção industrializada, como estádios de futebol ou prédios populares como os da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), possam ser realizados com custos de até R$ 2 mil por metro quadrado.
No Brasil, a construção industrializada ganha ainda mais relevância, pois a arquitetura e engenharia brasileiras são reconhecidas mundialmente pela sua criatividade e inovação, tanto que o mercado nacional já começa a desenvolver projetos que incorporam novas tecnologias, como inteligência artificial, seja na gestão da obra ou na definição das especificações dos clientes.
Recentemente, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), por meio do Projeto Construa Brasil, lançou diretrizes para orientar a inserção de conceitos da Indústria 4.0 aos modelos BIM (Modelo de Informação de Construção), com o uso de blockchain e Internet das Coisas (IoT) na gestão dos processos de construção industrializada.
Estamos bebendo água diretamente do hidrante, ou seja, há muita água para beber, mas também, sem atenção, tanta água pode causar afogamento.
Portanto, é fundamental que o setor continue buscando formas de inovação, superando as barreiras culturais e adotando as tecnologias disponíveis. O momento atual representa uma guinada significativa na indústria da construção civil. A aceleração do uso de métodos industrializados é um reflexo dessa mudança de mentalidade, que promete transformar o setor de forma irreversível.