Por Lucas Madureira, Co-founder da Gedanken.
Nos últimos anos, o ESG (“Ambiental, Social e Governança”, em português) passou a ser mais do que uma sigla bonita, com consumidores, investidores e governos dando cada vez mais relevância para o tema. Como consequência, as empresas também passaram a precisar entender o impacto dos seus negócios para o planeta e para a sociedade . É justamente aqui que há um gap gigantesco no mercado, uma vez que o coração dessa discussão está, em grande parte, no entendimento do impacto e do nível de sustentabilidade dos fornecedores.
De acordo com o relatório Carbon Disclosure Project (CDP) de 2023, mais de 90% das emissões de carbono de grandes organizações se originam no escopo 3 ( cadeia de fornecimento). Dado o tamanho da relevância das cadeias de fornecimento no impacto total de uma empresa, é muito difícil uma empresa que queira ser ESG não se preocupar em fazer uma boa gestão dos seus parceiros comerciais, garantindo que todos eles também estejam atuando a partir de práticas sustentáveis.
A questão é: como medir o nível de sustentabilidade da cadeia de fornecimento se não há critérios unificados internacionais ou locais?
Essa falta de padrão cria uma série de obstáculos para sabermos se uma empresa realmente é sustentável, afinal, assim como cada uma tem uma realidade, cada uma também pode se autoavaliar de maneira diferente. Especialmente quando estamos falando de companhias que não usam dados, isso aumenta muito a possibilidade do famoso greenwashing (quando as organizações se posicionam de forma ESG, mas não são na prática), frequentemente associada ao marketing da empresa, entretanto os líderes de procurement não fogem dessa responsabilidade.
Como promover uma cadeia de fornecimento sustentável?
O primeiro passo é medir, entender o quão sustentável são os processos de seus fornecedores. Para essa medição, a primeira tarefa é procurar quem entende do assunto. Uma solução adequada colaboração de especialistas, universidades e consultorias é essencial para juntar as boas práticas de mercado e os sistemas de gestão existentes mundo afora em uma única plataforma, inclusive antecipando tendências de regulamentações que estão sendo implementadas em outros países, como os da União Européia, e devem chegar ao Brasil nos próximos anos.
Centralizando esses conhecimentos, é possível partir para a formação de KPIs (sigla em inglês para “Indicadores-Chave de Desempenho”). Essas métricas são capazes de ir além dos relatórios de sustentabilidade habituais, que basicamente são apenas cartas de boas intenções, em que não há nada efetivamente concreto. Logo, são indicadores que padronizam todos os processos ligados a diferentes fornecedores e levam em consideração as demandas específicas da empresa.
É claro que essa não é uma tarefa simples, por isso a tecnologia precisa ser usada como uma aliada nessa missão. Hoje, já existem plataformas especializadas na gestão da cadeia de suprimentos no mercado, que possuem sistemas unificados que avaliam e mensuram todas as atividades realizadas juntos aos fornecedores, priorizando os cuidados com o meio ambiente, governança, responsabilidade social e impacto de compras.
Considerando que vivemos em um país em que o governo historicamente nunca foi um grande parceiro nesse tipo de demanda, é fundamental que esses serviços e a emergência do tema como um todo mobilize as companhias a se tornarem protagonistas da mudança. A decisão de uma corporação impacta milhares de outras organizações, logo, a sua cadeia de fornecedores também implicará na vida de uma série de empreendedores e pessoas.
Isso mostra que ter um entendimento de como abraçar o ESG do jeito certo é mais do que elaborar uma boa estratégia de mercado; é um ato que coloca a sociedade no caminho certo.