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Não, a IA não o substituirá, contanto que você evolua com ela

Cristiane Tarricone
Foto: Yasmin Galdino

Por Cristiane Tarricone, distinguished analyst da TGT ISG.

Na última semana participei de um painel no Futurecom 2024, o maior evento de conectividade, inovação e tecnologia da América Latina, sobre o tema “Baseado em dados reais: a combinação de dados e IA” e nele debatemos como a inteligência artificial têm proporcionado ganhos efetivos para o mercado em termos de eficiência operacional, produtividade, personalização de serviços e de inovação.

Do meu ponto de vista, como analista, torna-se fundamental a discussão sobre o uso massivo de dados, seus desafios e aplicações práticas. Por exemplo, como as novas formas de trabalho estão cada vez mais exigindo que a capacitação dos colaboradores seja uma prioridade imediata.

A inteligência artificial tem sido amplamente considerada como uma força no mercado de trabalho. Como autora das pesquisas da TGT ISG sobre o futuro do trabalho, considero a IA uma ferramenta que redefine funções e expande oportunidades. Não se trata de uma ameaça para eliminar empregos, e sim uma possibilidade de mudança na atividade em si. Vejo seu potencial para desafiar os profissionais a se reinventarem, abraçando o aprendizado contínuo como diferencial.

Nos últimos anos, os estudos da ISG destacaram como a IA, a IA generativa e os modelos de linguagem de larga escala (LLMs) têm transformado o ambiente de trabalho, especialmente no que diz respeito à experiência dos funcionários e à produtividade. A automação de processos rotineiros, o uso de agentes inteligentes no suporte técnico e atendimento ao cliente, permite que os trabalhadores concentrem seus esforços em tarefas mais estratégicas e criativas.

No entanto, para colher esses benefícios, é crucial que as empresas busquem utilizar plenamente os recursos tecnológicos disponíveis, considerando o nível de maturidade empresarial existente, ao invés de apenas aderirem a modismos.

Esse cenário de mudança rápida me remete a um artigo que li recentemente no The Guardian, que questionava o valor dos diplomas universitários diante da velocidade com que o conhecimento se torna obsoleto. A matéria abordava as incertezas que muitos estudantes e profissionais enfrentam ao tentar manter suas qualificações relevantes em um mercado em constante mutação.

Embora acredite que a formação continue extremamente relevante, é fato que hoje o verdadeiro diferencial está no aprendizado contínuo e no uso das habilidades específicas, como adaptabilidade, flexibilidade, pensamento crítico.

O sucesso na era da IA vai além do conhecimento técnico, concentra-se no pragmatismo de entendimento de onde, como e quando utilizá-la e na aplicação de uma mentalidade flexível e resiliente. No início de minha própria jornada profissional, quando implantei a primeira solução automatizada para escritório no Brasil, a internet ainda era vista como uma fronteira inexplorada. Havia uma grande incerteza sobre o que viria a seguir, muitos criticavam a solução por acreditar que cortaria empregos. A certeza de que seria um caminho sem volta se concretizou.

Toda revolução acarreta o mesmo, a característica do trabalho muda, a evolução acontece, e os que se preparam avançam. Aquela experiência me ensinou a importância de me reinventar constantemente. Agora, com o surgimento da IA generativa, essa mesma disposição para aprender e inovar é o que vai nos manter relevantes como profissionais de tecnologia.

A chegada da IA torna as habilidades interpessoais mais relevantes, já que a singularidade humana não é replicável (até o momento). Assim entendo que algumas atividades poderão ser aceleradas pelo uso da IA, com o benefício de liberar tempo para que os profissionais se concentrem em atividades de maior valor.

A popularização da IA gera uma demanda por profissionais que saibam não apenas como usar a tecnologia, mas também como integrá-la de forma eficiente aos processos de trabalho. Em minha experiência, ser capaz de resolver problemas complexos, entender contextos amplos e liderar equipes com empatia são habilidades que complementam a tecnologia.

Para quem está começando agora e já se questionou se realmente vale a pena evoluir em meio a tantas novas tecnologias, digo que vale. A criatividade e a liderança são diferenciais que garantirão a relevância no mercado de trabalho do futuro.

A automação, ao contrário do que muitos pensam, cria mais espaço para a inovação, proporcionando uma nova fase de crescimento, onde humanos e máquinas colaboram para potencializar o que há de melhor em ambos.

O futuro do trabalho não pertence à IA sozinha, mas a uma colaboração estreita entre tecnologia e profissionais dispostos a abraçar a evolução. Aqueles que conseguirem alinhar essas duas forças de forma inteligente e estratégica terão uma vantagem competitiva significativa. Mais importante, os indivíduos que cultivarem a adaptabilidade e o desejo de aprendizado estarão não apenas sobrevivendo, mas prosperando na era da IA.

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