Por Roberto Sergio Dib, CFO da Vila 11.
No cenário econômico da América Latina, onde desafios e oportunidades coexistem, o mercado multifamily se destaca como um setor de alto potencial de crescimento. Este modelo de investimento imobiliário, focado em residenciais para locação com múltiplas unidades sob um único proprietário, tem demonstrado uma notável capacidade de adaptação às flutuações econômicas, garantindo retornos consistentes para investidores e oferecendo soluções de moradia eficientes e convenientes para os inquilinos.
Dados recentes reforçam essa resiliência. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do IBGE, o percentual de domicílios alugados no Brasil vem crescendo. Em 2022, 21,1% dos domicílios no país eram alugados, um aumento significativo em relação aos 18,5% de 2016. Esse crescimento reflete a demanda crescente por moradias de qualidade, especialmente em mercados urbanos dinâmicos.
A pandemia de COVID-19 ressaltou ainda mais a importância de moradias que ofereçam conforto, segurança e flexibilidade. O trabalho remoto e o desejo por espaços residenciais mais amplos impulsionaram a busca por imóveis multifamily, principalmente por projetos que integram comodidades modernas, como academias, coworkings e áreas de lazer, dentro de um conceito de vida urbana mais integrada.
No Brasil, o mercado imobiliário continua a apresentar números robustos. Segundo o relatório da Paladin Realty, gestora especializada em investimentos imobiliários, 2023 foi o quarto ano consecutivo de recordes em vendas residenciais em São Paulo, com 76.145 unidades vendidas – superando o ano anterior em 10%. Esse desempenho sublinha a importância do mercado multifamily como uma resposta, mais acessível comparado a compra de um imóvel, à demanda crescente por habitação, mesmo em períodos de volatilidade econômica.
Em outros países da América Latina, como o Chile, o mercado multifamily também mostra um enorme potencial. De acordo com a plataforma Pop Estate, esse tipo de empreendimento representa cerca de 1% das unidades para locação, com previsão de crescimento anual de 22% até 2025, especialmente em cidades como Santiago, San Miguel e Independência. Três em cada quatro cidadãos chilenos preferem alugar imóveis em vez de comprá-los, demonstrando a relevância dessa modalidade de moradia.
A urbanização acelerada, aliada a mudanças demográficas, está criando um ambiente fértil para a expansão do mercado multifamily em toda a região. O aumento de jovens profissionais e famílias que valorizam a conveniência e a flexibilidade oferecidas por esse modelo de habitação está impulsionando a demanda, enquanto as cidades enfrentam uma necessidade crescente de oferecer soluções de moradia acessíveis e bem localizadas.
Apesar do seu grande potencial, o mercado multifamily na América Latina enfrenta desafios, como regulamentações governamentais, o acesso ao financiamento e a infraestrutura urbana deficiente em algumas regiões. No entanto, esses obstáculos também abrem espaço para inovações e parcerias estratégicas entre os setores público e privado. A colaboração pode ser fundamental para superar barreiras de infraestrutura e viabilizar o desenvolvimento de novas áreas urbanas, beneficiando tanto os investidores, quanto as populações locais.
Para investidores, o mercado multifamily oferece uma combinação atraente de estabilidade e crescimento. Sua resiliência diante de crises, como a pandemia e a volatilidade da taxa de juros e a crescente demanda por habitação de qualidade, posicionam esse setor como um componente vital do mercado imobiliário regional.
Com uma visão de longo prazo e uma abordagem estratégica, o setor multifamily pode não apenas prosperar, mas também desempenhar um papel crucial na promoção do desenvolvimento sustentável e na inclusão social na América Latina.