Por Marcel Serafim, diretor executivo de bens de consumo da Elgin.
Nos últimos anos, o aumento exponencial de dispositivos conectados em residências vem colocando à prova a infraestrutura elétrica das construções urbanas. Aparelhos eletrônicos como TVs, computadores, sistemas de segurança, iluminação inteligente e até mesmo veículos elétricos demandam uma rede mais robusta, segura e tecnológica. Como consequência, a proteção contra surtos – variações inesperadas de tensão na rede elétrica, que podem ser causadas por raios, falhas no fornecimento ou problemas nos circuitos internos – tornou-se um tema central para fabricantes e especialistas em segurança elétrica.
Esses surtos podem danificar equipamentos sensíveis e, em casos mais graves, causar curtos-circuitos ou incêndios, colocando em risco a segurança dos moradores. A instalação de dispositivos de proteção contra surtos (DPS) passou, portanto, de uma recomendação técnica para uma necessidade básica nas construções modernas.
O crescimento do mercado de DPS
Segundo o estudo mais recente da MarketsandMarkets, o mercado global de dispositivos de proteção contra surtos foi avaliado em aproximadamente US$ 2,4 bilhões em 2021 e projeta-se que cresça a uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 5,8% até 2026. Este crescimento é impulsionado tanto pelo aumento de eletrônicos residenciais quanto pela adoção de normas mais rigorosas que exigem a implementação de DPS em novos empreendimentos residenciais e comerciais.
No Brasil, a situação é ainda mais crítica. A rede elétrica nacional, marcada por oscilações frequentes e uma rede de distribuição em processo de atualização tecnológica, apresenta desafios que tornam os surtos elétricos uma ameaça constante. Segundo a Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), o país registra, em média, 1,5 milhão de quedas de energia anualmente, muitas das quais geradas por ação de chuvas e raios. Com o clima tropical, a incidência dos raios também intensifica o risco de descargas atmosféricas, colocando o Brasil como um dos mercados emergentes mais promissores para dispositivos de proteção contra surtos.
Avanços tecnológicos nos DPS
A evolução tecnológica dos Dispositivos de Proteção contra Surtos (DPS) tem acompanhado o aumento da complexidade dos sistemas elétricos e eletrônicos, oferecendo soluções mais sofisticadas e eficazes. De acordo com a norma ABNT NBR IEC 61643-11, os DPS são classificados em três categorias – Classe I, Classe II e Classe III – baseadas na sua capacidade de suportar diferentes tipos e intensidades de surtos elétricos.
● Classe I: Projetados para suportar surtos de alta energia, como descargas atmosféricas diretas, esses dispositivos são utilizados principalmente em quadros de distribuição de edifícios industriais ou em construções com alto risco de exposição a raios.
● Classe II: Indicados para proteção contra surtos de média intensidade, que ocorrem frequentemente na rede elétrica devido a chaveamentos ou distúrbios induzidos por descargas atmosféricas indiretas. Eles são mais comuns em painéis secundários.
● Classe III: Oferecem proteção para equipamentos sensíveis e próximos ao ponto de utilização, como computadores, TVs e outros dispositivos eletrônicos.
As tecnologias de DPS avançam rapidamente trazendo benefícios significativos como o aumento da confiabilidade da rede elétrica, protegendo os dispositivos das edificações e prolongando a sua vida útil, além disto reduzem custos com manutenções e substituição de equipamentos, especialmente em regiões com alta incidência de surtos elétricos e proporciona maior controle e segurança onde a infraestrutura elétrica deve ser compatível com a crescente conectividade dos dispositivos.
DPS como parte da regulamentação de segurança
A regulamentação também tem incentivado a adoção de DPS em residências. Em 2022, a atualização da norma ABNT NBR 5410 passou a exigir a instalação de dispositivos de proteção contra surtos em todas as novas construções residenciais e comerciais, uma vez que a proteção contra surtos é considerada essencial para a segurança das instalações.
No entanto, apesar das exigências regulatórias, a instalação de DPS ainda enfrenta desafios. Muitos consumidores não têm conhecimento da importância desses dispositivos, e a instalação adequada ainda depende de mão de obra especializada. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), para que um DPS seja eficaz, ele deve ser instalado com base no projeto elétrico respeitando as especificações de instalação, proteção e sistemas de aterramento que requer uma atenção dos profissionais da área elétrica.
O setor de dispositivos de proteção contra surtos deve continuar crescendo e se diversificando, à medida que novas tecnologias são desenvolvidas e a digitalização das casas avança. Empresas de equipamentos elétricos estão se voltando para o desenvolvimento de novas soluções de DPS com novas funcionalidades diferentes, trazendo um nível de proteção cada vez maior.
A previsão do grupo de consultoria Frost & Sullivan é que o mercado de DPS deve crescer em mais de 10% ao ano até 2030, impulsionado pela demanda de consumidores que buscam não só a proteção de seus equipamentos, mas também pelo aumento do volume de residências cada vez mais integradas e inteligentes.
Para o setor elétrico, esse movimento representa uma oportunidade significativa de inovação e crescimento, além de destacar a importância da conscientização sobre segurança elétrica.