Por Rogério Baldauf, diretor superintendente da Schmersal.
O ego, conforme explicado por Freud, é a identificação do ser humano com seus pensamentos e conceitos pessoais, moldando nossa percepção e relação com o mundo. Além disso, filósofos como Buda, Platão, Aristóteles e os estoicos também discutiram a ilusão do ego, que nos faz sentir separados e individuais.
Eckhart Tolle, em “O Poder do Agora”, argumenta que o ego é a principal fonte de sofrimento nas relações humanas, pois cria uma falsa identidade que nos faz sentir separados dos outros e leva à competitividade e aos apegos emocionais. Segundo ele, perdas emocionais ou materiais ou a mais leve mudança tendem a ameaçar o ego, o que pode gerar ressentimento e tristeza.
Nos ambientes digitais, a exposição individual para milhões de pessoas eleva o ego e os conflitos. Na esfera corporativa, isso pode causar divergências e ressentimentos. Sendo assim, desenvolver uma cultura onde esse fator não prevaleça deve ser uma prioridade nas empresas.
Liderança e humildade
Jim Collins, em “Empresas Feitas para Vencer”, descreve o “nível 5 de liderança” como alguém que combina, entre outras características, humildade, desapego pessoal e modéstia. Esses líderes colocam a organização e os outros em primeiro lugar, alcançando grandes conquistas sem precisar ser o centro das atenções. Eles sabem que o sucesso é resultado do trabalho coletivo e de decisões corretas, não de uma única pessoa.
Esse tipo de liderança é desapegado de sua própria importância ou necessidade de reconhecimento, o que a torna mais capaz de construir uma cultura organizacional sólida. Diante do impacto do ego excessivo em nossas vidas pessoal e profissional, é essencial que gestores busquem mecanismos para lidar com conflitos. Incentivar os colaboradores a deixarem as vaidades de lado em prol do bem-estar da equipe é um desafio diário.
Por outro lado, quando o ego prevalece, gestores podem priorizar seus próprios interesses e reconhecimento pessoal em detrimento do bem-estar e do sucesso coletivo. Isso cria um ambiente de trabalho tóxico, no qual a competição interna e a falta de coesão prejudicam a produtividade e a moral da equipe. Para combater esse problema, é crucial que as empresas promovam uma cultura de humildade e colaboração, onde o foco esteja no trabalho em equipe e nos objetivos comuns.
A própria estrutura organizacional de uma empresa pode evitar um apego exagerado ao ego que títulos e cargos causam. Estes rótulos devem ser secundários e precisamos destacar os papéis que cada um executa, independentemente da posição que ocupa.
Em todas as áreas, é preciso desenvolver equipes autogerenciadas, estimulando a cooperação e o trabalho em conjunto, em detrimento do individualismo. Muitos dos objetivos precisam ser compartilhados, promovendo a colaboração e reconhecendo o time em vez de uma pessoa específica. Para trabalhar como um time coeso é necessário deixar a vaidade de lado e utilizar as habilidades em prol do coletivo e de um projeto muito maior.
Nas ações cotidianas, busque sempre evitar conflitos que possam ser causados por falta de comunicação ou pessoas que deixam o ego falar mais alto. Essa abordagem tem como objetivo incentivar a colocação dos interesses coletivos acima dos pessoais e a doação de tempo e energia para ajudar os outros. Além disso, a ideia é que os líderes transmitam, de forma clara e concisa, a cultura organizacional da empresa.
Cada medida tomada deve focar em incentivar o conceito de conexão e trabalho em equipe, sempre respeitando a diversidade de ideias e habilidades. Dessa forma, é possível derrotar o ego negativo no dia a dia.