Reestruturação financeira é sempre um tema complexo, em qualquer contexto. Em um ambiente que desperta tantas paixões quanto o de clubes esportivos, ainda mais. No Brasil, essas associações têm vivido em meio a uma dualidade em que, de um lado, muitas seguem espremidas em meio a dívidas imensas, enquanto se veem pressionadas a abraçarem gestões profissionalizadas (ou até se tornarem atrativas para investidores externos).
Foi neste cenário que, há algum tempo, me deparei com um desafio imenso: apoiar o processo de reestruturação financeira de um dos clubes mais tradicionais do país. Desde o primeiro momento entendi que não estávamos lidando apenas com números, mas com o patrimônio emocional de milhões de pessoas – algo que logo relacionei com um ambiente em que tenho muito mais experiência: o das famílias empresárias.
Liderar soluções para desafios inéditos
A reestruturação deste clube não foi apenas mais um projeto. Ela foi uma oportunidade de demonstrar que, sim, é possível transformar passivos em ativos, dívidas em oportunidades, caos em crescimento. Para levá-la a cabo foi necessária a combinação entre técnica, criatividade e coragem, elementos fundamentais para propor um caminho diferente e possível.
Com uma dívida de mais de R$ 700 milhões, o clube precisava de soluções urgentes, mas também sustentáveis. Nossa proposta, então, foi criar uma estrutura inédita de securitização, utilizando precatórios judiciais — ativos historicamente subvalorizados — como base para atrair recursos junto ao mercado.
Convertendo um passivo complexo em oportunidade de investimento, a estratégia teve como base algo que cultivamos desde o nascimento da Droom: combinar inteligência jurídica, criatividade financeira e visão de longo prazo.
A força de um propósito claro
Assumir essa missão foi, para mim, um chamado coerente com o propósito que nos move desde a fundação da empresa. Ao longo da minha trajetória, entendi que o verdadeiro valor de uma liderança não está só na capacidade de tomar decisões difíceis, mas na disposição de se envolver com projetos que realmente podem gerar transformação, por isso fiz questão de capitanear o caso do time pessoalmente.
Por fazer parte de uma família empresária, respiro um ambiente em que o conceito de legado sempre esteve presente. Talvez por isso tenha desenvolvido desde cedo uma inquietação com relação a como os negócios podem evoluir, inovar e, principalmente, gerar impacto. Por mais que o contexto de um clube de futebol seja outro, ele carrega o mesmo peso de manter uma tradição estruturada geração após geração (ao longo de mais de 100 anos, no caso do clube com que trabalhamos) e cuidar para que a história de quem veio antes seja honrada por meio dos novos passos dados por quem chega agora.
Hoje, vejo que o que diferencia uma operação de sucesso de uma que apenas cumpre processos é justamente essa conexão com um propósito maior. Vale para uma empresa e vale para um clube. Foi essa conexão que nos levou a abraçar o desafio do futebol.
Governança como pilar de credibilidade
Entre os aprendizados mais importantes desse projeto está o reforço da minha visão sobre o papel central da governança, nos mais diversos cenários. Esse é um conceito que costuma ser estranho ao universo do esporte (apesar de vir ganhando espaço, com a evolução das SAFs). Mas o fato é que quando conseguimos estabelecer regras claras, pactuadas entre todas as partes, transformamos a comunicação, a gestão de risco e a atratividade para o mercado. No caso do clube, o modelo de governança foi um dos pilares para viabilizar a operação e dar confiança aos investidores — e também à torcida.
A governança não apenas organiza processos, mas distribui responsabilidades e sustenta a reputação que construímos ao longo do tempo. Ela garante que o negócio ande com independência, sem estar concentrado em uma única liderança, e permite que decisões sejam tomadas com base em dados, e não apenas em intuição. É um princípio totalmente alinhado ao objetivo de manter um legado vivo.
Casos como este mostram que o Brasil tem um enorme potencial para inovar mesmo em setores historicamente resistentes à mudança. E mostram, também, que quando o propósito está claro e a governança está presente, até os contextos mais desafiadores podem dar origem a novos ciclos de crescimento.
Essa é a liderança que acredito: a que transforma, conecta e constrói.