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Quando o Ibovespa brinda e o empresário se esconde: porque 2026  pode ser o melhor ano para investir no seu negócio

Foto: divulgação
Foto: divulgação

O rali da Bolsa e o freio de mão nos negócios

O ponto de partida é o próprio diagnóstico da Benndorf Research: enquanto o Ibovespa renovou recordes em 2025, com alta em torno de 30% no ano e novos topos históricos, muita gente ainda olha o mercado com desconfiança – preferindo ficar em renda fixa e discutindo política no grupo da família. A foto da economia real é parecida: relatório da Grant Thornton aponta que 2025 tende a ser um ano mais difícil para o PIB brasileiro, com empresários preocupados com juros, custo de capital e demanda mais fraca. Em bom “economês de boteco”, a festa já começou na Bolsa, mas uma parte relevante do empresariado ainda está na calçada, discutindo se entra ou não no salão.​

Sentimento ruim, dados menos ruins

Quando se olha só para o humor, o roteiro é simples: 2025 será complicado, melhor segurar investimento e esperar “visibilidade”. Uma pesquisa da Atlas Intel, divulgada pela Gazeta do Povo, mostra que 47,3% dos brasileiros estão pessimistas com o desempenho da economia em 2025, contra 37,2% otimistas – ou seja, o pessimismo segue sendo o “mainstream”. Ao mesmo tempo, indicadores de confiança do comércio e da indústria têm oscilado perto da linha de 100 pontos, zona de transição entre pessimismo e neutralidade, em vez de um cenário de catástrofe generalizada. O resumo: o humor está mais azedo do que os números sugerem.​

O contrafluxo de quem está crescendo

Enquanto uma parte das lideranças empresariais discute se o copo macroeconômico está meio cheio ou meio vazio, outra parte decidiu trocar de copo. Estudo global encomendado pela IBM mostra que 78% das empresas brasileiras pretendem ampliar investimentos em inteligência artificial até o fim de 2025, e 95% já relatam progresso em suas estratégias de IA, com 48% enxergando retorno financeiro positivo. No setor de tecnologia da informação como um todo, dados da ABES indicam que o Brasil investiu cerca de US$ 58,6 bilhões em TI em 2024, com crescimento de 13,9% em relação a 2023, e projeção de alta adicional de cerca de 9,5% em 2025. Ou seja, enquanto o discurso público é de cautela, o dinheiro estratégico está indo para infraestrutura digital, nuvem e automação – justamente o tipo de alavanca que permite crescer com mais produtividade e menos desperdício.​

Setores com desconto de assimetria

É aí que startups e médios negócios entram na história. O estudo ABES/IDC mostra que o Brasil já responde por mais de um terço dos investimentos em TI da América Latina, puxados por IA, segurança cibernética e digitalização de processos empresariais. Em paralelo, análises sobre mercado de IA indicam que o segmento no Brasil pode superar a marca de US$ 2,4 bilhões em 2025, com crescimento próximo de 30%, impulsionado por casos de uso práticos em atendimento, backoffice, logística e finanças. Em linguagem bem direta: há uma quantidade enorme de operação rodando em planilha e WhatsApp – do agronegócio à saúde, passando por varejo e serviços financeiros – enquanto os dados e a tecnologia para destravar eficiência já estão disponíveis (e mais baratos do que em ciclos de euforia).​

O custo invisível de esperar demais

Para lideranças de startups e médios negócios, a pergunta deixa de ser “é arriscado investir agora?” e passa a ser “quanto custa ficar para trás quando o consenso mudar?”. Se a pesquisa da Atlas Intel mostra quase metade da população pessimista com a economia e, ao mesmo tempo, estudos de mercado apontam expansão consistente em IA e TI, existe uma janela clara de assimetria entre sentimento e preço de oportunidade. Preço de mídia ainda relativamente mais baixo, talentos qualificados disponíveis após ondas de ajuste, ativos digitais subutilizados e concorrentes paralisados formam um combo raro para quem está disposto a pensar anticiclicamente.​

Como investir sem virar herói inconsequente

Investir em um ambiente de pessimismo não é sobre voltar ao “crescer a qualquer custo”, e sim sobre escolher onde cada real vai destravar mais valor quando o ciclo melhorar. De forma prática, isso passa por quatro frentes:

Tecnologia: automação de processos, IA aplicada ao core do negócio, uso mais inteligente de dados e integração de sistemas que hoje não “conversam”.​

Vendas e marketing: construção de posicionamento consistente, canais escaláveis e playbooks comerciais que não dependam só de “talentos heróis”.​

Pessoas: poucas contratações-chave, focadas em liderança técnica e de negócio que multiplique o desempenho do time atual.​

Novos negócios: produtos adjacentes, parcerias estratégicas e spin-offs que aproveitem a base existente de clientes, dados e marca.​

O convite (provocativo) para 2026

Se a Benndorf está certa ao mostrar que a Bolsa já andou bem à frente do humor médio em 2025, talvez o maior risco agora seja repetir o erro no mundo dos negócios: chegar em 2026 correndo atrás do prejuízo, quando os melhores pontos de entrada já tiverem sido ocupados por quem investiu antes. Para founders e executivos de médios negócios, o convite é simples – e propositalmente provocativo: em vez de usar o pessimismo como argumento para adiar decisões, use-o como filtro para investir melhor do que a média, exatamente quando a média está recuando. Porque ciclo econômico vai e volta; o que não volta é o tempo em que sua empresa ficou parada vendo o Ibovespa brindar lá fora enquanto o seu próprio negócio continuava à base de água com gás.​

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Formado em Administração de Empresas pela ESPM, com pós em Branding e MBA em Venture Capital & Private Equity pela FGV/SP, é CEO da Sinergis e co-fundador da ESPM Angels.

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