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Quando o improvável vira inevitável: o que a compra da Warner pela Netflix revela sobre o futuro dos negócios

Foto: divulgação
Foto: divulgação

Quando a notícia de que a Netflix comprou a Warner circulou, muita gente tratou como um grande movimento do entretenimento. É mais que isso. É uma virada que expõe um padrão antigo e recorrente: quem hoje parece improvável amanhã vira inevitável. Há uma ironia histórica difícil de ignorar. A mesma empresa que um dia foi tratada como pequena demais para incomodar agora assume o controle de um dos estúdios mais tradicionais do mundo.

Essa história não começou agora. Em 2000, a Blockbuster riu da chance de comprar a Netflix por 50 milhões de dólares. Em 2014, o então CEO da Sky declarou publicamente que a Netflix não representava uma ameaça real ao setor. A indústria inteira concordou. Onze anos depois dessa fala, a empresa “não ameaçadora” assume o comando de um dos catálogos mais icônicos da história do cinema e da TV. E 25 anos após o desprezo da Blockbuster, o jogo virou de forma definitiva.

Esse é o ponto central: nunca subestime um novo concorrente, mesmo quando ele parece pequeno demais para incomodar. A inovação quase nunca chega fazendo barulho. Ela aparece nos cantos que o mercado tradicional não observa e avança enquanto os grandes protegem seus modelos antigos. A Blockbuster não quebrou porque a Netflix a atacou. Ela quebrou porque ignorou um movimento que já desenhava o futuro. A Netflix não empurrou ninguém do penhasco. Ela apenas caminhou na direção certa enquanto os outros continuaram parados.

A verdade é que a Netflix não só cresceu. Ela redesenhou a lógica inteira do entretenimento. Mudou a relação do público com conteúdo, transformou assinatura em padrão, introduziu dados como base criativa, globalizou narrativas, tornou o binge watching um hábito mundial, acelerou o surgimento de dezenas de concorrentes e deslocou o eixo de poder do catálogo para a experiência do usuário. Distribuição passou a valer mais que estúdio. Dados passaram a valer mais que legado. E a forma de consumir passou a valer mais que o formato.

Quando a Netflix compra a Warner, essa mudança fica ainda mais evidente. O outsider vira o centro. O improvável vira referência. E todo o discurso das empresas tradicionais que duvidaram ao longo do caminho vira um alerta para qualquer setor que insiste em acreditar que sua categoria é estável ou que seus concorrentes são apenas os que já estão no mercado.

E aqui entra um dado que ilumina essa discussão. Em relatórios de inovação e venture capital, existe um consenso: grande parte das empresas bilionárias da próxima década ainda nem existe. Elas estão sendo criadas em coworkings, laboratórios, incubadoras e pequenos times espalhados pelo mundo. Elas nascem pequenas, invisíveis e improváveis, exatamente como a própria Netflix começou. Enquanto gigantes defendem suas estruturas, os próximos gigantes surgem em silêncio.

O movimento da Netflix hoje é consequência de decisões tomadas vinte anos atrás, quando ninguém acreditava que ela teria qualquer relevância. Talvez esse seja o ponto mais importante para qualquer empresa: mercados não mudam de repente. Mudam aos poucos, até que de repente parece que mudaram de uma vez. Quem subestima o movimento lento costuma ser engolido pelo movimento rápido. E quando finalmente percebe, o concorrente que parecia inofensivo já está sentado à mesa como dono do jogo.

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CEO da Cubo Comunicação.

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