Por Tatiana Pimenta, CEO da Vittude.
Você já teve a sensação de que não merece o sucesso que conquistou? Que as pessoas estão exagerando quando lhe fazem elogios? Que o seu trabalho duro não é tão merecedor de reconhecimento quanto o das outras pessoas?
Se a resposta foi sim, você já experimentou um pouquinho da síndrome do impostor. Trata-se de um fenômeno que costuma afetar mais mulheres que homens no mercado de trabalho. Essas crenças de não merecimento costumam culminar em uma desagradável sensação de fraude em quem as sente.
Embora não seja considerada um transtorno mental oficialmente, a síndrome do impostor é muito estudada no campo da psicologia e do comportamento humano.
O QUE É?
Esse termo foi usado pela primeira vez pela Dra. Pauline Clance, no fim da década de 1970, para definir um padrão psicológico de desconfianças acerca da própria competência. Pessoas com essa auto percepção atribuem o sucesso de suas conquistas a fatores como sorte, ajuda de terceiros, momentos oportunos, conexões, carisma e outros elementos que não possuem relação com seu esforço pessoal.
Elas também temem ser descobertas como “fraudes”. Por não confiarem em suas próprias habilidades e intelecto, acreditam que os demais podem chegar à conclusão de que, na verdade, não são capazes de atingir o nível de excelência atribuído a elas. Assim, serão acusadas de enganarem a todos.
A maioria dos profissionais provavelmente já passou por isso em algum momento de suas carreiras. Como nem todos estão conscientes de seu próprio potencial, se assustam quando são reconhecidos como habilidosos e inteligentes. É igualmente comum o fenômeno do impostor se manifestar entre profissionais bem-sucedidos e profissões competitivas, como atletas, cientistas, empresários e artistas.
A cada nova conquista, esses indivíduos acreditam não estar fazendo o suficiente. A insatisfação com o próprio desempenho tende a crescer e gerar mais pensamentos de inadequação.
O resultado mais lógico das dúvidas e descrença constantes é a autossabotagem. O medo, insegurança e ansiedade forçam quem nutre esse padrão de pensamento à estagnação profissional.
SINTOMAS
Essa síndrome encoraja diversos comportamentos disfuncionais, os quais podem prejudicar o desempenho profissional e levar o indivíduo a acreditar que é, de fato, um impostor. Afinal, se fosse tão bom assim não cometeria erros nem seria tentado por emoções negativas tão facilmente, certo?
A síndrome do impostor tem muitos sintomas, os quais podem ser encontrados abaixo.
- Procrastinação: esse é um dos sintomas notórios de quem possui essa síndrome. Adiar compromissos e afazeres, deixando para concluí-los no último minuto, consequentemente afasta o momento de ser criticado ou avaliado. Por outro lado, reduz a qualidade do trabalho.
- Abandono de tarefas: tarefas são abandonadas devido ao medo de não conseguirem chegar a um bom resultado.
- Fazer comparações: as comparações são constantes em pessoas com essa síndrome. Elas não conseguem se satisfazer consigo mesmas, por isso, comparam os seus talentos, conquistas e carreira com as dos outros.
- Trabalhar excessivamente: para tentar alcançar o ideal em suas mentes e combater possíveis suspeitas de terceiros acerca de seu merecimento, essas pessoas passam muito tempo trabalhando. Assim, são mais suscetíveis ao burnout e esgotamento psicológico.
- Medo de receber críticas: a síndrome do impostor faz com que as pessoas fujam de ocasiões em que podem ser criticadas ou avaliadas. Elas podem adiar iniciar um projeto ou ideia criativa por desejar não receber críticas por causa disso.
- Vontade de agradar a todos: o medo de ser desmascarado pode levar as pessoas com essa síndrome a tentar agradar a todos ao seu redor. Podem até mesmo se submeter a situações degradantes para conseguirem a aprovação dos outros.
- Autossabotagem: todos os sintomas são consequência de uma tentativa árdua, inconsciente (ou não) e contínua de autossabotagem.
SEGUNDO A PSICOLOGIA
A psicóloga PhD Suzanne Imes, que trabalhou com a Dra. Clance, identificou que pessoas que cresceram em famílias exigentes tendem a se sentirem como impostoras com mais frequência.
Como a cobrança por uma alta performance era intensa na infância e adolescência e os elogios escassos, o indivíduo pode chegar à idade adulta pouco confiante em suas próprias competências. Esse mesmo tipo de pressão também pode vir de amigos, professores, figuras de autoridade e cônjuges.
Pessoas perfeccionistas, que estabelecem padrões de qualidade extremamente altos para si mesmas, e viciadas em trabalho, com necessidade de ter sucesso para provar sua competência, também possuem uma tendência maior a sofrer com os sintomas dessa síndrome.
Outro caso é o de pessoas com facilidade em determinada área de atuação ou conhecimento. Quando se deparam com dificuldades ao tentarem algo novo, podem começar a se questionar se suas conquistas até então não são merecidas.
Da mesma forma, esse sentimento parece ser mais comum entre pessoas prestes a iniciarem um novo empreendimento, seja um negócio próprio, mestrado ou doutorado, ou novo cargo na empresa. A síndrome do impostor cria um círculo vicioso de autossabotagem, dúvidas e baixa autoestima.
Mesmo que obtenha os mesmos resultados positivos nessas circunstâncias, o indivíduo não consegue acreditar em si mesmo. Quando conquistas profissionais, acadêmicas e pessoais se tornam a única base da sua identidade e/ou amor-próprio, ele pode pensar que precisa se sair bem em tudo o que faz para ser amado. O medo de receber críticas e ser demasiado neste contexto é mais intenso.
DICAS
Agora que você já conhece o que é a síndrome do impostor, tem uma noção de como ela pode ser prejudicial para o crescimento profissional e autoestima. Inconscientemente, a pessoa que acredita ser uma impostora colabora para a sua própria queda de performance no ambiente profissional. Preocupada demais em esconder o que pensa existir de ruim em si mesma, deixa de se concentrar em seus atributos fortes e talentos.
Esse tipo de mentalidade contraditória é, na verdade, muito comum, independentemente de profissão, idade, gênero e origem. O foco nos receios, dúvidas e pensamentos negativos acaba trazendo para perto tudo o que é temido.
Um profissional que escolhe se concentrar em fatores positivos tem mais resiliência para passar por momentos de adversidade. Se você atualmente está sofrendo com pensamentos que lhe deixam para baixo, reflita sobre isso.
Em seguida, confira as dicas que separamos para combater a autossabotagem proveniente da sensação de ser um impostor:
EVITE COMPARAÇÕES
Você pode ter várias inspirações, sejam próximas ou distantes, para incentivá-lo a se tornar uma pessoa melhor e um profissional competente. Se comparar a elas, no entanto, deve ser evitado a todo custo. Você e o seu vizinho são pessoas com personalidades, origens e jornadas distintas. Como fazer uma comparação justa nessa condição? É um pouco difícil, certo? Cada um tem as suas próprias qualidades e competências, portanto, não faz sentido se sentir mal ao ver que você não possui o mesmo que os demais. Se concentre no que você já tem!
TENHA UM MENTOR
Busque um mentor ou conselheiro para guiar você em sua jornada profissional. Esse indivíduo pode ajudar você a desenvolver habilidades, trabalhar em pontos fracos e apaziguar inseguranças. Além disso, os conselhos de um mentor tendem a ser aceitos com mais facilidade por não virem de um competidor.
COMPARTILHE SENTIMENTOS
Compartilhe as suas aflições com outros. Amigos e familiares íntimos, colegas de trabalho de confiança, cônjuges e psicólogos são os indivíduos mais indicados para se ter essa conversa. Pessoas com mais experiência podem compartilhar insights valiosos, bem como reassegurá-lo de que essa sensação é completamente normal. Saber que outros estiveram na mesma posição que você também pode tornar a experiência menos assustadora.
ACEITE
Você, assim como todas as outras pessoas, não é perfeito. Isso significa que está propenso a cometer erros e não ser o melhor em tudo o que faz. Você pode até ter dificuldade para aprender e executar algo que sempre se visualizou fazendo. E está tudo bem! Aceite a sua condição de ser imperfeito e se jogue no que você pretende fazer sem grandes expectativas ou cobranças para ser o melhor. Se não der certo, não tem problema. Comece de novo até que você se sinta satisfeito. Do mesmo modo, mantenha-se aberto para a possibilidade de errar mesmo após o sucesso.
NÃO ALIMENTE
Quando pensamentos autossabotadores surgirem, somente os observe. Não interaja com eles. Deixe-os chegar e ir embora naturalmente como se não fizessem diferença alguma em sua vida. Esse exercício ajudará você a manter o foco somente em pensamentos que incentivam a produtividade e autoconfiança.
CELEBRE
Celebre as suas conquistas sem medo. Você merece esse momento de comemoração após tanta dedicação e trabalho duro! Mesmo que a conquista seja pequena, se parabenize por chegar até ela. Da mesma forma, aceite elogios, reconhecimentos e palavras de admiração sem pensar duas vezes. Se você começar a dissecá-las, pode incentivar pensamentos autossabotadores. Aceite-as e siga para a próximo desafio.