Acesso a capital e oportunidades. Esse é o objetivo da BlackRocks, que conecta pessoas negras e promove a diversidade no ecossistema de startups. No Economia SP Drops, conversamos com Maitê Lourenço, fundadora da empresa. Confira abaixo:
Quais dados o Brasil tem sobre a população negra que empreende? E especificamente em startups?
Maitê Lourenço: Segundo dados da pesquisa Empreendedorismo Negro no Brasil 2019, realizada pela PretaHub em parceria com a Plano CDE e a J.P. Morgan, revelam que existem mais de 14 milhões de empreendedores brasileiros que se declaram afrodescendentes. Dentro deste universo, 35% empreendem por vocação, 34% por necessidade, 22% por engajamento e 9% apresentam perfil misto. Já no universo de startups, nós realizamos o primeiro levantamento sobre a presença de empreendedores negros no setor: o BlackOut: Mapa das Startups 2021. O estudo ouviu 2.571 lideranças de startups em todo o país, das quais uma em cada quatro se declarou preta ou parda, o que indica que se a população brasileira estivesse representada no ecossistema de inovação, o número de startups negras deveria ser, no mínimo, o dobro do registrado atualmente. Os dois resultados, em um país no qual 56,1% da população é negra, são reflexos do racismo estrutural e das desigualdades que prevalecem na sociedade. E para mudar isso, é preciso que pessoas negras tenham mais acesso à educação e à tecnologia, para romper com esse ciclo de continuidade das consequências da escravidão e levá-la para outro patamar.
Como a BlackRocks atua em prol da visibilidade e busca pela igualdade, principalmente no ecossistema de tecnologia e inovação? Quantas pessoas vocês já impactaram e onde atuam?
Maitê Lourenço: Somos um hub de inovação preto que conecta empreendedores a capital e oportunidades no ecossistema de startups. Nossa missão sempre será promover no ecossistema empreendedor brasileiro, o aumento da diversidade racial, através de soluções escaláveis e rentáveis, potencializando oportunidades e conexões transformadoras que fomentem a inovação. Por isso, desde a nossa fundação, em 2016, atuamos na promoção do acesso à população negra a ambientes altamente inovadores e tecnológicos. Tudo isso sob a liderança de pessoas negras, apoiando nossos acelerados e suas startups a se destacarem no mercado. Nessa nossa jornada, foram mais de 5 mil pessoas impactadas diretamente e mais de 20 mil nas redes sociais. E são desde profissionais da área de inovação a empreendedores de startups.
3- Quais são as principais dificuldades relatadas pela população negra para acessar esses ecossistemas? É mais difícil para mulheres?
Maitê Lourenço: As principais entraves que os empreendedores negros enfrentam são na estruturação do negócio, com a falta de acesso a capital e mentoria para o desenvolvimento de seus projetos. Estes dois pontos foram identificados na pesquisa Panorama do ecossistema de startups no Brasil: Rumo à diversidade racial, que realizamos em parceria com a consultoria Bain & Company. O estudo, no qual entrevistamos mais de 30 agentes do ecossistema de startups, apontou que somente 32% dos negócios de inovação tecnológica liderados por pessoas negras receberam aporte, e apenas 49% passaram por programas de aceleração e outras iniciativas de de fomento – para não-negros foi de 57%. Dentro do recorte de empreendedores negros, apenas 18,7% são mulheres, segundo os dados que levantamos no BlackOut: Mapa das Startups 2021. Mas, em 2020, na primeira edição do Grow Startups, nosso programa de aceleração para startups lideradas por pessoas negras, criamos uma meta de termos pelo menos 20% de mulheres líderes das startups, e ao fim do ciclo tínhamos 28% de mulheres como finalistas do processo de seleção e assim alcançamos a meta que nos comprometemos.
Para quem não empreende, mas busca representatividade: a diversidade nas empresas é real? O que ainda precisa ser melhorado? Quais práticas essenciais para empresas promoverem a diversidade?
Maitê Lourenço: Na pesquisa Panorama do ecossistema de startups no Brasil: Rumo à diversidade racial, identificamos seis pontos sobre como identificar a diversidade racial no sistema de startups. São eles:
1. Monitorar métricas de diversidade racial em startups do pipeline e do portfólio.
2. Aumentar a diversidade racial na liderança e times dos agentes e em suas redes de contatos.
3. Originar oportunidades por canais não tradicionais.
4. Incentivar maior diversidade racial nos times de startups.
5. Assumir papel ativo na correção da assimetria de informação sobre o ecossistema.
6. Ser aliado de agentes que lutam pela diversidade racial no ecossistema.
O que podemos esperar da BlackRocks para 2022? Quais são as novidades que podem antecipar?
Maitê Lourenço: Temos um compromisso de entregar o que há de melhor no desenvolvimento de empreendedores em tecnologia, esse ano não será diferente. Continuaremos com nossos programas e fazendo um mistério, teremos novidades sim, mas ainda não podemos contar.