Em entrevista que concedi ao Diário do Turismo durante o maior evento de Viagens e Turismo da América Latina, a WTM Latin America 2022, realizado de 4 a 6 de abril, em São Paulo, tive a oportunidade de colocar ao jornalista Paulo Atzingen alguns conceitos sobre o turismo brasileiro que considero importantes destacar aqui nesta coluna. Eles podem ser úteis para o país e também para os todos os estados, afinal, não há estado brasileiro que não tenha potencial turístico.
Depois de fazer um grande balanço dos três anos em que estou à frente da Secretaria de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo, o repórter perguntou se tenho pretensão de deixar um legado do trabalho que venho realizando desde que, em 2012, fui secretário Nacional de Políticas do Turismo, depois presidente da Embratur, do Conselho Nacional de Turismo e ministro do Turismo.
Eu disse a ele que sim, mas considero que isso só é possível se o país compreender o que o turismo significa para todos nós. Algo que procurei detalhar e esclarecer também no meu livro Brasil: Potência Mundial do Turismo, lançado em 2018, quando eu era ministro.
Destaquei ao jornalista que o turismo, ao lado do agronegócio, são as duas grandes vantagens competitivas do Brasil perante o mundo, onde nós nos posicionamos como número um. A gente olha agora o agro há 40 anos atrás, e nós éramos importadores de comida. Hoje nós somos um dos maiores exportadores, porque foi feito um programa para isso: houve uma internacionalização na cadeia de produção. Houve crédito, houve capacitação, houve inteligência pela Embrapa e a integração das cadeias produtivas. Estamos fazendo isso em São Paulo, com excelentes resultados e ações de estruturação e promoção, que mudaram a história do turismo no maior estado do Brasil.
Em Brasília, nós abrimos o capital das aéreas no final do governo Michel Temer. Baixamos impostos muito altos dos combustíveis das companhias aéreas. Zeramos todos os impostos numa Medida Provisória também nos últimos dias do governo Temer, colocando a zero o custo de importação para equipamentos de parques temáticos. Eram coisas que impediam a indústria turística de se desenvolver, mas ainda temos muito a fazer. Por que um hotel tem que pagar o mesmo imposto do que uma pessoa física se a TV, o ar condicionado, o frigobar, deveriam ser bens de capital? Isso renovaria e mobilizaria a cadeia, desde a produção industrial.
Mas é claro que a dimensão turística de um país que hoje atrai apenas 6 milhões de estrangeiros por ano, enquanto Nova York, sozinha, recebe 60 milhões, exige um grande plano nacional para estruturação e promoção do turismo, tarefa que iniciamos há dez anos em Brasília, mas que infelizmente sofreu interrupções, cortes e mudanças de rumo em razão de um dos grandes problemas da administração brasileira: a falta de políticas públicas permanentes, que não sejam alteradas ao prazer do marketing ou do sabor eleitoral de cada governante.
Fui incisivo na entrevista ao Diário do Turismo quando disse que, infelizmente, o Brasil tem um raciocínio arcaico, que nos leva a perder a oportunidade de fazer do turismo um negócio tão grande quanto o agro, mas com a possibilidade de gerar emprego e renda multiplicada por 10 ou até muito mais.
Como sou um otimista, e essa é uma condição imprescindível para quem milita no turismo brasileiro, também disse ao jornalista Paulo Atzingen que tenho a mais convicta esperança de ajudar o Brasil e o meu estado de origem, Santa Catarina, a tirar o limite do turismo da página de viagens e colocá-lo na página de economia. O Brasil pode melhorar muito a sua imagem para o mundo desenvolvendo seus parques naturais, com concessões à iniciativa privada, como estamos fazendo em São Paulo no Plano 20/30.
Esta indústria limpa chamada turismo fará do Brasil um exemplo na preservação do meio ambiente e da história, na inovação e tecnologia voltadas às viagens e à logística, gerando emprego, renda e felicidade para os brasileiros e para aqueles que vêm nos visitar. Para isso, temos que olhar para nossas atrações turísticas, parques naturais e temáticos, festas populares, aviões, ônibus, navios de cruzeiro, centros históricos e de eventos, hotéis, restaurantes, bares, enfim, toda a cadeia da dimensão turística como olhamos para os férteis campos aonde o Brasil produz comida para alimentar o planeta.