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Por que precisaremos estudar Abílio Diniz?

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Foto: divulgação.

A esta altura, tudo que deveria ser dito sobre Abílio Diniz, sua trajetória e legado, já foi dito. Fez Administração de Empresas, seu TCC da FGV/SP foi o embrião do Grupo Pão-de-Açúcar (com a indicação do pai para tornar o projeto realidade), rompimento com família, ascensão e revisão dos negócios, venda a forceps para sócios, reinvenção em investimentos, esportes, família, religião, etc.

Mas então, por que mais um texto sobre ele?

Eu acredito que ler e entender biografias é uma sessão de mentoria à distância. É um atalho frente aos desafios que você possui no dia-a-dia, e que por algum motivo não tem alguém por perto com mais experiência para trocar figurinhas. Neste sentido Abílio Diniz viveu e muito nos seus finados 87 anos para ser uma referência em uma série de itens para um empreendedor e executivo. Bons e mais exemplos.

Querem ver?

  • Inovação: Abílio Diniz talvez tenha sido o profissional mais inovador do varejo nacional. Bom, ele foi o cara que trouxe à tona – ainda que não foi o primeiro – o auto-serviço. Já pensou que antes dele, as compras eram feitas no balcão? Além disso, trouxe o conceito de store in store, lojas 24 horas, diferentes formatos (atacarejo, minimercados, hipermercados) e canais: o primeiro e-commerce de varejo alimentar no país foi o do Pão-de-Açúcar sob liderança do seu filho João Paulo.
  • Sociedade: Abílio era brilhante, mas nunca foi exatamente uma pessoa fácil. Brigou com a família, que o expulsou do Grupo Pão-de-Açúcar. 10 anos depois voltou por indicação do pai, uma vez que as empresas estavam em apuros. Tirou a família da gestão, o que não foi exatamente feliz para o natal dos Diniz, mas salvou as famílias dos seus funcionários. Depois teve dificuldades de passar o bastão do grupo para o Casino. No fim da vida soube lidar com os sócios parcialmente na BRF, mas muito bem como investidor via Península, seu famílly office com participações em startups como Wine e Descomplica.
  • Investidor: Nem todo mundo sabe, mas ainda boa parte dos pontos onde o Pão-de-Açúcar operam são de propriedade de Abílio Diniz – o que gera algumas centenas de milhões de reais por ano de dividendos. Mas seu olhar como investidor começa nos anos 60, com a tese de consolidação e liderança do varejo alimentar, seguido pelo M&A com as Casas Bahia em 2009 para virar a referência no varejo como um todo. A família Klein depois se arrependeu do negócio, bem como o Casino acabou vendendo aos fundadores, mas reforça o apetite por oportunidades que Abílio tinha. Nos últimos anos, o olhar para inovação o trouxe para mais próximo do Venture Capital através de aporte em VCs ou mesmo montando sua gestora, a O3 Capital, atrelada à Península.
  • Turn around: aqui talvez uma das lições mais duras do Abílio ao mercado. Ao retornar ao Grupo Pão de Açúcar, encontrou uma empresa fragmentada, sem controle sobre suas finanças, com uma macroeconomia desafiadora e à beira da falência. Precisou cortar na carne: dezenas de milhares de funcionários demitidos, centenas de lojas fechadas. Cortou o primeiro e o terceiro escalão para ser mais ágil 20 anos antes da cultura ágil. E assim não somente salvou a empresa, mas também pavimentou o caminho para mais fusões e aquisições até a ida para a bolsa de valores – o Grupo Pão de Açúcar foi a primeira empresa privada brasileira listada em Nova Iorque.
  • Cultura: Acho que aqui foi onde ele melhor deixou o seu legado – e que vai viver muito mais que ele, como o mesmo dizia. Ainda que fosse um gestor duro e implacável durante boa parte da carreira, o “Lugar de gente feliz” fez parte da lista de incentivos, premissas e orientações de Abílio ao longo da carreira. Replicou isso de forma mais acintosa depois do episódio do sequestro. Mais do que isso, a soma dos elementos acima fomenta o ambiente que forjou um dos maiores gestores do varejo global.

Quando fiz Administração, lembro que perguntei a um finado professor porque no início do curso não tínhamos, ao lado da Teoria Geral da Administração um núcleo de estudos sobre biografias de grandes gestores. Claro que não fazia sentido algum, coisa de bicho. Semanas depois, Abílio foi lançar seu livro “Caminhos e Escolhas” no auditório da faculdade, devidamente lotado e com direito a telões ao redor do campus.

Vinte anos depois, pouco lembro da teoria do primeiro semestre da faculdade. Mas lembro bem e aplico alguns dos aprendizados da “aula” que Abílio nos deixou.

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Forrmado em Administração de Empresas com ênfase em Marketing pela ESPM/SP, com pós em Branding e MBA em Venture Capital & Private Equity pela FGV/SP. Lidera a Sinergis e é membro do board da ESPM Angels

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