A agricultura sustentável é um modelo de produção agrícola que busca suprir as demandas alimentares da sociedade de forma equilibrada, priorizando a preservação ambiental e a justiça social.
Através da implementação de técnicas inovadoras e práticas ecológicas, como plantio direto e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), essa abordagem visa garantir a viabilidade econômica da atividade agrícola, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades.
Além disso, o avanço da tecnologia e dos estudos em biologia molecular traz benefícios e mais recursos ao setor. Rafael de Souza, cofundador e CEO da Symbiomics, startup de biotecnologia que desenvolve soluções com microrganismos, foi um dos pioneiros na aplicação de metodologias de estudo de microbioma em planta, liderando o projeto Saccharome, o microbioma da cana-de-açúcar.
Com doutorado em Biologia Molecular, Genética e Bioinformática pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também coordenou a equipe de pesquisa e desenvolvimento em microbioma de plantas no Centro de Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas (Genomics for Climate Change Research Center, GCCRC), uma iniciativa conjunta da Embrapa e da Unicamp para criação de ativos biotecnológicos para agricultura.
Confira o Economia SP Drops com Rafael de Souza, onde aborda as técnicas inovadoras para a sustentabilidade agrícola, desafios e próximos passos a serem dados pela empresa.
Quais são os principais produtos desenvolvidos pela Symbiomics e como eles contribuem para aumentar a produtividade agrícola de forma sustentável e com menor impacto ambiental?
Rafael: A Symbiomics desenvolve produtos biológicos a base de microrganismos que têm a capacidade de aumentar a produtividade vegetal de uma forma sustentável. As plantas são naturalmente colonizadas por milhares de microrganismos que vivem em associação aos tecidos vegetais, o chamado microbioma vegetal. Esses microrganismos contribuem para o crescimento das plantas por diversos mecanismos, como, por exemplo, fornecendo nutrientes, aumentando a tolerância contra estresses climáticos ou mesmo protegendo as plantas contra patógenos. A plataforma da Symbiomics é capaz de identificar de forma rápida os microrganismos com maior potencial para promover o crescimento das plantas.
Esses microrganismos representam uma chave para a sustentabilidade agrícola, oferecendo uma alternativa aos produtos químicos tradicionalmente usados na agricultura, como fertilizantes e pesticidas, que podem ser prejudiciais tanto para o meio ambiente quanto para a saúde das plantas. Ao substituir esses insumos químicos por soluções biológicas naturais, contribuímos para uma produção alimentar mais sustentável, reduzindo o impacto ambiental e preservando a saúde humana.
O que diferencia a Symbiomics é a sua capacidade de introduzir tecnologias avançadas que superam as opções atualmente disponíveis no mercado, de uma forma mais rápida e assertiva que as metodologias convencionais. Nossa plataforma não apenas descobre novos microrganismos, mas também decifra seus mecanismos de ação e desenvolve produtos sob medida para necessidades específicas, empregando técnicas de ponta como sequenciamento genético, análise de dados e edição genômica. Estamos à frente na criação da próxima geração de produtos biológicos, com o potencial de revolucionar o setor.
De que maneira a pesquisa e desenvolvimento da Symbiomics estão explorando a genômica, microbioma e análise de dados para aumentar a produtividade de culturas agrícolas?
Rafael: Nos últimos anos, tivemos uma revolução nas áreas de genômica, microbioma e análise de dados, que transformou nossa capacidade de estudar comunidades microbianas. Esses avanços tecnológicos nos permitem explorar a diversidade microbiana com uma eficiência e precisão sem precedentes. Atualmente, graças ao sequenciamento genético, conseguimos mapear a variedade de microrganismos presentes em diversos ambientes, como solos e plantas, de maneira detalhada. O Brasil possui uma imensa biodiversidade, abrigando ecossistemas nativos ricos em comunidades microbianas ainda inexploradas. Na Symbiomics, dispomos de tecnologias avançadas para isolar e caracterizar esses microrganismos, buscando novas espécies que possam ser aplicadas na agricultura. Utilizando o sequenciamento genético e ferramentas de análise, conseguimos identificar microrganismos com grande potencial para estabelecer relações benéficas com as plantas, melhorando sua capacidade de crescimento e resistência. Esta abordagem abre o desenvolvimento de produtos novos e também valoriza a biodiversidade brasileira.
Quais são os principais desafios na pesquisa e desenvolvimento de suas soluções biológicas para o agronegócio?
Rafael: Biológicos é um dos setores que mais cresceu na agricultura nos últimos anos. Algumas projeções apontam que o mercado de biológicos deve alcançar próximo de USD 30 bilhões até 2030, com destaque para os países latinos, que tiveram um crescimento acima da média global. Esse cenário mostra o potencial do setor e do interesse dos produtores em adotar esse tipo de tecnologia. Entretanto, os produtos hoje no mercado são baseados, em sua maioria, em tecnologias muito semelhantes, com pouca inovação. Em geral, as empresas comercializam produtos baseados nas mesmas cepas microbianas ou com formulações muito semelhantes, sem haver grande diferenciação. Por esse motivo, as empresas não conseguem capturar todo o valor potencial das tecnologias em microbioma. Esse cenário é completamente diferente do que vemos acontecendo no campo da pesquisa, que nos últimos 12 anos demonstraram haver um potencial em microrganismos que até então não havia sido explorado. Desenvolver produtos com essas novas tecnologias é, não só um desafio técnico, como também comercial, pois demanda aprimoramento no processo de registro e entendimento das melhores estratégias para levar essas novas tecnologias ao mercado.
Quais são os benefícios econômicos e ambientais esperados com a adoção das soluções da Symbiomics na agricultura?
Rafael: O setor de produtos biológicos tem sido um dos mais dinâmicos e de rápido crescimento na agricultura recentemente. Algumas estimativas apontam que o mercado global de biológicos possa alcançar cerca de USD 30 bilhões até 2030. Os países da américa latina, em especial, apresentam um crescimento superior à média mundial. Esse crescimento é reflexo do interesse dos produtores agrícolas em tecnologias mais sustentáveis e eficientes. Ainda asim, enfrentamos um desafio significativo: a maioria dos produtos biológicos disponíveis atualmente no mercado depende de um conjunto limitado de tecnologias e cepas microbianas, resultando em uma oferta com pouca diferenciação e inovação. Esse cenário contrasta fortemente com os avanços observados no campo da pesquisa, onde, nos últimos doze anos, descobriu-se um vasto potencial em microrganismos ainda não explorados. Em nossa visão há grande oportunidade para o desenvolvimento de produtos biológicos inovadores que possam trazer novas soluções para a agricultura. Porém, transformar essas descobertas científicas em produtos comercializáveis apresenta desafios tanto técnicos quanto comerciais. Isso inclui a necessidade de aprimorar os processos de registro desses novos produtos biológicos e desenvolver estratégias eficazes para introduzi-los no mercado. Superar esses obstáculos é essencial para aproveitar o potencial das tecnologias baseadas em microbioma, abrindo caminho para uma agricultura mais sustentável e produtiva.
Quais são os planos futuros da Symbiomics?
Rafael: A Symbiomics construiu uma plataforma de pesquisa e desenvolvimento que consegue gerar novos ativos relacionados a comunidades microbianas de uma forma mais rápida e assertiva que os métodos convencionais. Com essa plataforma, temos a capacidade de constantemente introduzir novas tecnologias, criando diferentes versões que podem atender ao mercado agrícola mundial. Em alguns poucos anos a Symbiomics irá trazer novas cepas, novas moléculas e novas tecnologias, sempre garantindo que nossos clientes tenham as tecnologias mais atuais e promissoras para aumentar a produtividade e sustentabilidade. Essas tecnologias não só possuem um impacto na agricultura brasileira, mas também global.
