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Às vezes, a melhor coisa que você pode fazer por sua produtividade, é não trabalhar 

Foto: Drazen/AdobeStock
Foto: Drazen/AdobeStock

Sim. É isso mesmo que você leu. O contrário do que passamos anos ouvindo, e fazendo. Não é de hoje que o workaholic é glamourizado.

Ainda vejo profissionais dizerem com um certo orgulho que não almoçaram por causa de uma reunião ou que passaram o final de semana em meio a relatórios.

Continuo ouvindo, também, histórias de líderes que enaltecem a atuação de quem trabalha 20 horas por dia, não tira férias ou está à disposição a qualquer momento, como se isso fosse sinal de mais produtividade e engajamento. Mas não. A dedicação exaustiva não significa qualidade nas entregas. 

Segundo algumas pesquisas, o cansaço diminui a capacidade cognitiva, freia a criatividade e aumenta a propensão aos erros.

Um estudo publicado na revista científica Neurology, por exemplo, mostra que altos níveis de cortisol (hormônio produzido pelo corpo em situações de estresse) diminuem o volume do cérebro e causam problemas de memória.

Isso sem falar das questões de saúde mental e física. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que trabalhar 55 horas ou mais por semana aumenta o risco de morte.

“Não é mais possível operar no modelo mental da era industrial.  As empresas que ainda vivem sob essa gestão, em que horas trabalhadas valem mais do que o trabalhador, vão ver a conta chegar”, destaca Daniela Diniz, diretora de conteúdo e relações institucionais do Great Place to Work.

Ela sugere incluir o que chama de “micro férias” na rotina de trabalho:

“Essas pausas são essenciais para desenvolver as competências importantes hoje em dia. Como alguém consegue ser criativo com a agenda cheia de reuniões e metas?”, ressalta.

Daniela lembra de um dia em que não conseguia terminar um projeto e decidiu sair para caminhar 45 minutos. O resultado? Voltou com a ideia de como terminá-lo e fechou o trabalho em dez minutos. 

Há, inclusive, um movimento de redução da jornada de trabalho sem alteração do salário em alguns locais pelo mundo.

Em janeiro deste ano, o Reino Unido anunciou que começará a realizar testes para avaliar a possibilidade das empresas adotarem uma jornada de trabalho semanal de quatro dias.

Na Islândia, de acordo com dados do thinktank Autonomy, 85% dos trabalhadores já podem trabalhar apenas quatro dias por semana. Por aqui, o movimento ainda é tímido.

Um exemplo de empresa que aderiu ao modelo é a startup mineira Crawly. Por lá, não há expediente às sextas-feiras. Enquanto a tendência não ganha força por aqui, cabe a cada um de nós, a consciência de que parar é essencial. 

Você se permite parar?

A grande questão é as pessoas se autorizarem a parar, como explica a psicanalista Claudia Cavallini, consultora e professora na HSM Educação Executiva:

“Vivemos num contexto capitalista, em uma cultura do trabalho, da produtividade e do multitarefas. As pessoas compraram essa ideia, o que tem levado ao adoecimento”.

Segundo ela, é preciso desromantizar o super-herói e a super-heroína que, ao ter uma reunião desmarcada, logo coloca outra no lugar, pois sente culpa de não fazer algo produtivo.

“A última coisa que se pensa neste caso é descansar um pouco”, diz.

Daniela ressalta que inserir as pausas no dia a dia de trabalho requer disciplina, organização e uma dose extra de autoconhecimento.

Se você tem um trabalho mais intelectual, por exemplo, pode estabelecer essas pausas pensando em como é sua rotina e qual o seu pico de produtividade.

Quais são seus compromissos fixos? Precisa levar o filho à escola? Que horas almoça? E em que momento seu desempenho é melhor?

“Se seu melhor sono é pela manhã, combine com a equipe que as reuniões sejam a partir das 10h. Assim como se seu pico de produtividade é maior no final da tarde, deixe para fazer as atividades que exigem mais de você nesse período”, diz.

Segundo ela, já há empresas trabalhando com horários flexíveis e mais liberdade, sem a exigência de cumprir o tradicional horário das 9h às 18h, o que facilita essa dinâmica.

Outro ponto importante, segundo Claudia, é saber dizer não:

“Isso devia ser uma competência. A partir do momento que você aprende a negar o que não consegue fazer e não cabe na sua agenda, começa a entrar num diálogo com a sua verdade: não consigo, não posso, vou tirar férias ou não posso falar agora”.

Ela sugere inserir as pausas na agenda, prática que adota:

“Entre um paciente e outro reservo um tempo para me reconectar”.

“O maior dificultador somos nós mesmos. Precisamos nos comprometer com o descanso e com a qualidade de vida”, completa Claudia.

Que tal começar hoje?

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Jornalista e apresentadora do podcast Happy Hour Com Elas

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