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Porque os excessos podem prejudicar a carreira, e sua saúde

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Foto: F8 \ Suport Ukraine/AdobeStock

Basta pensar positivo que dá certo. Você é forte e vai dar conta. Para crescer na carreira, é preciso se dedicar ao extremo, na linha daquele ditado corporativo: “trabalhe enquanto eles dormem”, que vai ter sucesso.

Quem nunca ouviu alguma dessas frases como conselho para se dar bem na carreira? O que não costumam falar muito é que tudo em excesso faz mal.

Vários estudos ao redor do mundo mostram que mesmo as competências adaptativas se tornam inadequadas quando levadas ao extremo.

Uma pesquisa feita por Rob Kaiser, presidente da Kaiser Leadership Solutions, que atua na avaliação e desenvolvimento de líderes, aponta que forças excessivas se tornam fraquezas.

Segundo ele, claro que é importante sonhar alto e ir atrás de nossos objetivos, mas é necessário ajustar os objetivos a níveis possíveis de alcançar. 

As análises de Derek revelam, por exemplo, que a maioria das pessoas perde muito tempo persistindo em objetivos irreais, um fenômeno chamado “síndrome da falsa esperança”.

Mesmo quando comportamentos passados ​​sugerem claramente que é improvável que as metas sejam atingidas, o excesso de confiança e otimismo podem levar as pessoas a desperdiçar energia em tarefas inúteis. E, pior, podem levar a doenças, o que compromete todo o resto.

“A questão é que algumas pessoas se apoiam tanto em alguns pontos fortes que usam sem medida. E isso vale para a resiliência e a produtividade, mas também para o carisma, quando alguém conta demais com essa habilidade e deixa de se preparar adequadamente para alguma situação mais complexa, pensando: ‘na hora saberei como convencer a pessoa’”, explica Caroline Marcon, fundadora da Marcon Leadership Consulting e sócia da Field Top Teams Consulting.

E, de acordo com ela, a consequência do excesso pode ser problemas físicos e mentais. A executiva mesmo já chegou ao limite do estresse e se viu à beira de um burnout, por achar que sempre era possível fazer mais.

Antes de fundar suas empresas, ela chegou a tocar várias atividades simultaneamente, desde a época da faculdade, em que fez dois cursos ao mesmo tempo, até em uma consultoria na qual ficou por dez anos e conciliava três papéis, consultoria, vendas e gestão de mais de 20 consultores.

“Dormia pouco, trabalhava demais e sempre aceitava novos desafios. Isso era energizante e me fez crescer na carreira, mas à noite estava esgotada”, afirma.

Segundo ela, que sempre trabalhou com a corda bem esticada, na universidade e no trabalho, isso virou um hábito:

“Você não consegue entender quando é hora de parar e vai dizendo sim a tudo, mesmo que acumule atividades”.

E explica que para encontrar o equilíbrio, é preciso ter consciência de seus pontos fortes e fracos, e das oportunidades de desenvolvimento, sendo humilde quanto às próprias habilidades. 

A seguir, mostro com mais detalhes três comportamentos que podem ser prejudiciais quando levados ao limite.

Quando a produtividade se torna tóxica

O mais importante é pensar em fazer melhor, não em fazer mais. isso porque, a quantidade de horas que você trabalha não é sinônimo de qualidade. Pelo contrário, o excesso gera cansaço, diminui a capacidade cognitiva, freia a criatividade e aumenta a propensão aos erros.

Um estudo publicado na revista científica Neurology, por exemplo, mostra que altos níveis de cortisol (hormônio produzido pelo corpo em situações de estresse) reduzem o volume do cérebro e causam problemas de memória.

Isso quer dizer que quanto mais horas extras trabalhadas, mais sobrecarga, menos constância, menos resultado e, claro, menos saúde.

Para saber se está passando do ponto, reflita se trabalha horas a fio sem pausas, se fica constantemente conectado, se usa todos os períodos livres para produzir e se não almoça para participar de uma reunião. Se as respostas forem positivas, está sofrendo com a produtividade tóxica e prestes a pifar.

Sinal vermelho para a resiliência

Ser resiliente não é ser invencível, tá? Por isso, é importante ter em mente que não é preciso tolerar – nem fazer, tudo.

“Um dos sinais de que passou do limite, é quando você não consegue mais ter discernimento de saber se as metas são realistas, e vai abrindo mão de outras coisas. Para mim, isso custou os primeiros anos de infância do meu filho”, conta Caroline.

Nesse sentido, é importante ter em mente que a resiliência se traduz na capacidade psicológica de se adaptar a circunstâncias estressantes e se recuperar de eventos adversos.

Assim, se não conseguirmos retornar à forma original após sermos submetidos a tal deformação elástica, como diz a física (da qual o termo se originou), algo está errado. 

Na prática, se anda estressado ou ansioso demais, com hábitos alimentares ou físicos em excesso e reagindo de maneira fria ao que acontece, é hora de rever a postura.

Positividade e a importância de olhar as duas metades do copo

Pensar positivo traz benefícios, claro, mas a obsessão pelo otimismo nos afasta da realidade de maneira semelhante ao excesso de confiança. O otimismo na medida certa é aquele alinhado com a verdade, sem ter apenas os olhos de Poliana.

Apesar de ainda não haver uma definição científica, de maneira simples, trata-se de uma abordagem disfuncional do gerenciamento emocional, que exagera no lado positivo suprimindo os aspectos negativos relacionados.

Ela diz que as pessoas devem focar sempre as coisas boas e deixar os problemas de lado, pois, se pensar em pontos negativos, eles ficarão ainda maiores.

Mas o trabalho, assim como qualquer outra esfera da vida, tem problemas e dificuldades, e elas nos ajudam a crescer também.

Nem sempre tudo dá certo. E calar as críticas e bloquear emoções negativas pode ter um preço caro para a sua saúde.

Segundo estudo publicado na revista científica Journal of Personality and Social Psychology, as pessoas que evitam entrar em contato com sentimentos negativos têm mais problemas de saúde mental do que as que costumam aceitar todas as suas emoções.

Olhar as duas metades do copo, cheia e vazia, nos ajuda a exercitar o senso crítico, tão importante para conseguir tomar boas decisões e evitar ciladas. Além disso, ajuda na inovação, na criatividade e na solução de problemas.

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Jornalista e apresentadora do podcast Happy Hour Com Elas

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