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Trabalho e felicidade podem andar juntos?

Foto: Drobot Dean/AdobeStock
Foto: Drobot Dean/AdobeStock

Há alguns meses, li um artigo de David Baker, co-fundador da The School of Life Brasil, sobre felicidade no trabalho, no qual ele cita uma entrevista que fez com um gerente.

Ele pergunta se os colaboradores de seu time estão se divertindo na empresa. A resposta do executivo foi direta: “Espero que não. Eles estão lá para trabalhar.”

Segundo David, isso reflete o pensamento de muitos gestores: se os colaboradores estão felizes é porque, simplesmente, não estão trabalhando duro o bastante.

Isso ficou na minha cabeça. Estou longe de romantizar a atuação profissional e também não acredito em frases do tipo “encontre um trabalho que ame e nunca mais vai precisar trabalhar”. Trabalho é trabalho.

Mesmo quando gostamos do que fazemos, há momentos difíceis, estressantes e, em muitos dias, o que queríamos mesmo é estar em uma viagem incrível com os amigos ou família, só se “preocupando” com qual restaurante ou bar iremos no final do dia.

Mas olhar o trabalho apenas como um conjunto de metas a serem cumpridas, sem nenhuma satisfação, é um fardo muito pesado de carregar. E é triste esperar os finais de semana ou as férias para ser feliz, não é?

Claro que a diversão não é o objetivo principal do trabalho, como explica a psicóloga Carla Furtado, fundadora do Instituto Feliciência e autora do livro Feliciência: Trabalho e Felicidade da Era da Complexidade, da Editora Actual.

A questão, segundo ela, é se o tal gestor acredita que em ambientes nos quais o time não se sente satisfeito, confortável e não pode se expressar genuinamente, é possível ter uma performance adequada. “Com certeza, não”, diz.

Uma pesquisa da Harvard Business Review mostra, por exemplo, que colaboradores satisfeitos são 31% mais produtivos, 85% mais eficientes e 300% mais inovadores. 

Para Carla, felicidade e trabalho podem, e devem, andar juntos. Mas, para isso, é  importante definir o que é felicidade.

“Quando falamos no tema a partir da psicologia, significa ter mais emoções de valência positiva, do que negativa, e ter a percepção de que a vida faz sentido”, explica.

Assim, se em um trabalho, vivemos mais emoções negativas e, principalmente, vemos isso associado à uma cultura empresarial tóxica com um modelo de liderança que reforça o excesso de trabalho e não olha para as demandas de seu time, a felicidade fica impossível.

Por outro lado, uma companhia que estabelece um propósito de cuidado com as pessoas, potencializa o bem-estar.

“E não estou falando de oferecer piscina de bolinhas e geladeira de cerveja. E, sim, de organizações que se comprometem a criar condições favoráveis ao bem-estar do trabalhador”, afirma. 

Aliás, ela ressalta que não tem nada contra ambientes coloridos e com mesas de pingue-pongue, mas se esses elementos não estiverem associados à uma cultura de respeito às pessoas e a um ambiente de segurança psicológica, não surtem efeito.

Isso porque, não são esses pontos que geram satisfação e, sim, as relações, se são de respeito e confiança.

“O que adianta contar com uma mesa de sinuca, se você não pode ser quem realmente é no trabalho?”, questiona.

Uma pesquisa do Centro de Investigação de Bem-Estar da Universidade de Oxford, mostra que o fator de maior impacto no bem-estar dos profissionais é o tipo das relações no trabalho.

Qual o sentido do seu trabalho?

Um ponto importante também é ter em mente que ninguém faz alguém feliz.  Assim, a responsabilidade da empresa é estabelecer ações que favoreçam a busca da felicidade.

“Se a companhia cria condições desagradáveis e estressantes, e de assédio, por exemplo, fica muito difícil que os colaboradores sejam felizes, pois estão lidando com uma série de estressores”, diz Carla

No entanto, é preciso ter em mente que não existe vida fantástica nem no trabalho, nem em outra esfera. E, sim, uma vida com sentido e contentamento.

Para encontrar esse sentido na atuação profissional, Carla recomenda refletir sobre sua atuação: O que você faz gera impacto na sociedade ou nos clientes? Consegue enxergar o resultado do seu trabalho? Fica feliz com os projetos que realiza? A empresa que trabalha tem um propósito que você compartilha e oferece opções de crescimento e bem-estar?

Se as respostas forem negativas, pense no sentido do emprego na sua vida e, aos poucos, vá construindo uma ponte para o caminho desejado e que te faça mais feliz.

Mas, cuidado, não deposite todas as fichas de felicidade no trabalho, tá? Ele é importante, mas existe uma série de pilares para uma vida saudável e feliz, como nossas relações pessoais. 

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Jornalista e apresentadora do podcast Happy Hour Com Elas

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