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Maternidade é impulso, não barreira para a carreira

Foto: Warakorn/AdobeStock
Foto: Warakorn/AdobeStock

Não é de hoje que escutamos ou lemos histórias de mulheres demitidas depois de voltar da licença maternidade.

Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que, após 24 meses, quase metade das mulheres estão fora do mercado de trabalho, sendo que a maior parte das saídas se dá sem justa causa e por iniciativa do empregador.

Também não é raro ouvir relatos de profissionais que foram questionadas em entrevistas de emprego se têm, ou pretendem ter, filhos.

Para essas empresas, a percepção é de que a mulher que é mãe (ou quer ser) não vai se dedicar tanto ao trabalho e, assim, os resultados ficarão comprometidos.

Por outro lado, como reflexo, há mulheres que têm receio do que vai ser da carreira quando engravidar e muitas que adiam esse momento por medo de a decisão impactar negativamente sua trajetória profissional.

Mas a maternidade deve ser considerada um impulso e não uma barreira na carreira feminina. E algumas companhias começam a perceber como as competências desenvolvidas nesse período podem ajudar os negócios a avançar.

Uma análise realizada pela Filhos no Currículo, que auxilia empresas a se tornarem lugares mais acolhedores para mulheres, em parceria com o Movimento Mulher 360, apontou algumas habilidades desenvolvidas por elas no período pós-maternidade.

Para 74% das entrevistadas a paciência aumentou, para 57% a tolerância foi potencializada e 56% relataram melhor capacidade para definir prioridades

Empatia, planejamento e boa gestão do tempo também entram nessa lista, segundo Juliana:

Segundo ela, a capacidade de empatia e de observar as demandas e necessidades do time, também pode melhorar, o que é essencial no mundo atual do trabalho:

Selecionei histórias de oito mulheres que mostram o quanto a maternidade pode ser boa para a carreira, e os caminhos para acabar com os vieses vinculados a esse período. 

1. Michele Levy, sócia-fundadora da Filhos no Currículo

A Filhos no Currículo nasceu com a chegada de Thomas e Alex.

“Com o nascimento deles comecei a repensar minha carreira. Perguntas como: De que forma conciliar carreira e maternidade? Qual o papel das organizações nessa equação? Como podemos entrar em um ambiente de trabalho que potencialize a chegada de um filho?, começaram a surgir”, lembra Michele.

Segundo ela, a inspiração para a consultoria veio do entendimento de que filho é uma potência:

“A chegada deles traz habilidades que nos ajudam como profissionais. Conseguimos voar quando percebemos isso”.

2. Luciana Barbosa, fundadora da LHunter RH

Em 2018, já prevendo a maternidade e o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, Luciana decidiu fundar a LHunter com seus valores e propósitos. Era uma forma de ter mais flexibilidade e adotar práticas de gestão que apoiassem esse período e as mulheres, reforçando o poder do momento.

“Filho é prosperidade, fortaleza, força e inspiração. Trata-se de um aprendizado diário muito rico. Hoje, consigo organizar melhor minha agenda e  trabalhar com mais resiliência e empatia. Aqui, acreditamos na potência da mulher que é mãe e lutamos todos os dias para encontrar oportunidades que possam fortalecê-las, acolhê-las e encorajá-las a se tornarem o melhor que podem ser”.

3. Fernanda Weiden, CTO da VTex

A trajetória de Fernanda mostra o quanto é possível conciliar os dois papéis, e que há empresas que não veem a maternidade como uma barreira. Em janeiro deste ano, ela foi contratada, grávida de cerca de sete meses, pela VTex para assumir a área de tecnologia.

“Durante toda a minha carreira participei de treinamentos que me explicavam como jogar o jogo corporativo, que é predominantemente masculino. O que precisamos é mudar essa lógica. E quando você introduz mais lideranças femininas nas empresas, começa a modificar essas regras. Você não está mais dizendo para todas as mulheres que elas precisam se adaptar à lógica masculina, pois está mudando a forma como o jogo é jogado. Outro ponto importante é que as mulheres se vejam nesses espaços e percebam que existe, sim, possibilidade. Aquela coisa da menina que vê uma mulher se tornando presidente, ou uma garota negra que vê a Maju na TV com o mesmo cabelo. É conseguir se enxergar nos lugares”.

4. Vanessa Coutinho, diretora de vendas da Samsung Brasil

“Tenho uma filha de 12 anos, o mesmo tempo que trabalho na Samsung. A maternidade me ajudou a desenvolver a capacidade de gestão de equipe. Lidar com minha filha me ensinou sobre identificar as emoções das pessoas, entender ainda mais quando alguém está passando por um momento delicado. Passei a entender o melhor momento e forma de abordagem com cada um e a identificar as emoções das pessoas, pontos essenciais no trabalho atualmente. Além disso, fiquei mais empática com outras mulheres, muitas delas do meu ciclo profissional, com quem pude conversar e compartilhar histórias. Isso é importante porque nos aproxima e traz inspiração e apoio mútuos”.

5. Joice Toyota, co-fundadora e co-CEO do Vetor Brasil

“Tenho um filho de 1 ano e quatro meses e tive muita segurança e vontade para voltar a trabalhar, pois a maternidade me fez viver experiências diferentes, que me ajudaram a delegar correta e estrategicamente, e a ser uma líder melhor para construir um ambiente corporativo mais tranquilo, leve e produtivo. No trabalho, temos desafios intelectuais e abstratos, e trata-se de um processo mais racional. Já a maternidade, é uma experiência muito física e presente, e extremamente emocional. A união dos lados ajuda no processo criativo. Um pouco antes de retomar minhas atividades, já estava avaliando e tendo ideias diferentes do rumo que o Vetor deveria ter, para onde crescer”. 

6. Paula Crespi, sócia-fundadora e COO da Theia

“A maternidade desperta a busca por um propósito, sobre qual legado deixaremos para o mundo. Isso impactou minha carreira e foi um estopim para criação da Theia”, diz. Segundo ela, entre as competências adquiridas, a eficiência é a que se destaca. “Não temos tempo a perder. Priorização é o nome do jogo na vida de uma mãe que trabalha e isso ajuda a tirar bastante ruído e esforço desnecessário no dia a dia para atividades que não são foco”, afirma.

No processo de busca por aporte para a empresa, aliás, Paula estava grávida do segundo filho e isso não a impediu de conseguir os investimentos. A empresa já captou R$ 37 milhões.

7. Nathalia Simões, sócia-fundadora da Holistix

A maternidade nunca foi um obstáculo para Nathalia. Quando ela e a sócia, Nicole Vendramini, decidiram trazer a empresa para o Brasil, em 2020, ela pegou um voo sozinha, com barrigão de grávida, sua filha de dois anos, uma gata e oito malas.

“A maternidade me deu uma garra e uma resiliência que eu não tinha antes. É impressionante o que somos capazes de fazer”.

Mas, segundo ela, como há muita coisa que depende de nós, é preciso saber priorizar e dizer não para “não pifar”.

8. Beatriz Dias de Sá, gerente-executiva do Instituto Heineken Brasil

A gravidez de Beatriz trouxe benefícios não só a ela, como a toda empresa. Ela incentivou o time de RH a estender a licença maternidade para seis meses e, um mês após conseguir, isso virou regra na companhia. Para ela, ter filhos é sempre uma potência pessoal o que, naturalmente, se reflete no âmbito profissional, com mais paciência, cuidado e resiliência.

“Claro que ficamos inseguras ao voltar para o trabalho. Mas estar em um ambiente no qual o fato de uma mulher estar grávida não a torna menos apta a entregar suas metas e a crescer, ajuda muito”.

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Jornalista e apresentadora do podcast Happy Hour Com Elas

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