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Os novos perfis dos profissionais de finanças

Foto: divulgação.

Por Luiz Fialho, CFO na Dattos.

Um dos pontos centrais do debate sobre o aperfeiçoamento da inteligência artificial, liderado, principalmente, por sistemas como ChatGPT, foi em relação aos impactos dessas inovações no futuro do trabalho, enquanto alguns chamam atenção para o ganho de eficiência, há quem tema os efeitos que essas tecnologias terão para os trabalhadores.

Nesse artigo, quero tratar sobre o tema do ponto de vista do setor financeiro, e argumentar que, na verdade, esses funcionários têm uma grande oportunidade de se consolidarem como peças estratégicas nas operações das empresas, por meio da adoção de um novo perfil de trabalho. 

Há oito meses, atuo acompanhando de perto uma solução  para automação de análises financeiras e, nesse período, tenho me dedicado a entender como profissionais financeiros podem ser mais estratégicos para suas organizações, principalmente no contexto de grandes empresas.

Nesse sentido, um dos destaques é o continuous accounting (ou contabilidade contínua), uma abordagem que propõe que cargas de trabalho sejam distribuídas uniformemente ao longo do período contábil, redefinindo as operações e o papel das finanças na estrutura corporativa.

Ou seja, com a implementação desse método, não existem mais picos de trabalho ao final do mês, trimestre ou ano. As equipes passam a conduzir as tarefas durante todo um ciclo contábil, de modo que os dados fiscais são analisados periodicamente.

A metodologia se baseia no uso de novas tecnologias que permitem trazer mais eficiência operacional. Por isso, um dos primeiros princípios do continuous accounting é o uso de tecnologia para automatizar procedimentos contábeis repetitivos e mecânicos, o que auxilia na otimização gerencial de dados contábeis, eliminando os problemas de falta de padronização e qualidade informacional.

À primeira vista, parece uma mudança simples. Porém, a adoção da metodologia, mais do que exigir capacidade de transformação digital, demanda uma mudança total na forma como as equipes, dos analistas aos c-levels, conduzem a rotina de trabalho.

Isso porque, ao mesmo tempo que o acesso à tecnologia aumentou, o volume de dados também. Esse aumento faz com que um dos desafios do setor de finanças seja entender como ser estratégico e aumentar seu alcance em relação a centralização das informações da empresa.

Uma série de etapas são relevantes para realizar a transição para o continuous accounting, mas vou focar na proposta que trouxe no início do texto: o perfil dos profissionais.

Um dado fornecido pelo The Future of Finance Function Survey apontou que apenas 14% dos CFOs globais confiam que a função financeira possui as habilidades necessárias para o crescimento pós-2022.

Por isso, quando falo nesses perfis, não quero focar em cargos direcionados, mas sim na função que os colaboradores devem assumir para se manterem estratégicos e serem requisitados.

A seguir, listo os perfis mapeados e suas características no dia a dia de trabalho:

  • Catalisador

Profissionais capazes de visualizar transformações, compreender como isso vai impactar processos, como a implementação pode ser realizada e como agir para que a empresa não se perca em um emaranhado de novos softwares.

  • Oráculo

Pessoas capazes de ajudar a organização a entender os dados que estão sendo gerados. Mais do que consolidar as informações, esse profissional é capaz de gerar insights relevantes para a tomada de decisões.

  • Guardião

Profissional que consegue identificar tanto os riscos internos quanto os externos e garantir que as informações coletadas estão corretas. Há o cuidado também para garantir que os dados não irão vazar.

  • Mordomo

Perfil ligado à estrutura de financiamento – já que agora existem mais fontes de financiamento para projetos específicos dentro da organização. Conseguir ter custos menores e tocar projetos de uma forma mais eficiente é um diferencial relevante.

  • Concierge

Profissional capaz de avaliar e compreender as necessidades dos clientes financeiros por meio de um engajamento proativo, focado na melhoria da experiência do usuário. 

  • Curador

Pessoa dentro da área de finanças que consiga olhar para todos os processos de eficiência e de automação para realizar entregas conforme o potencial de transformação.

Esse mapeamento reforça que o valor do profissional não está na tarefa mecânica, preenchimento de planilhas ou produção de relatórios – mas na forma como ele explora suas habilidades lado a lado com o avanço tecnológico.

Profissionais que conseguirem identificar quais atributos mais se alinham ao seu perfil de atuação e colocar esse modo de trabalhar em prática continuarão sendo muito valiosos para as empresas em que trabalham.

Em um mundo em que plataformas inovadoras de automação já são realidade, funções mecânicas estão sendo designadas para as máquinas.

Cabe ao profissional entender qual caminho seguir para aproveitar ao máximo as características humanas insubstituíveis para crescer num mercado em transformação.

Para as empresas, fica a missão de fornecer um ambiente propício para que essa mudança seja bem-sucedida.

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