Por Jimmy Lui, head de Inovação e Open Finance do banco BV.
Há algum tempo, estava no Vale do Silício conversando com um investidor local e perguntei qual era a “fórmula de sucesso” do ecossistema de lá. Ele me devolveu com outra questão: “Jimmy, estamos aqui ao lado de Hollywood… você acha que o sucesso do cinema se deve à criatividade dos diretores, roteiristas e atores ou à infraestrutura estabelecida por estúdios, produtores, distribuidores?”
A minha resposta na época – válida até hoje – é que ambos os fatores são igualmente importantes. A infraestrutura da “indústria” é o que potencializa o talento dos empreendedores para geração de novos negócios. Essa conversa me moldou como profissional de inovação corporativa e ainda guia muito do meu trabalho até hoje.
Recordei esse momento no início da semana passada durante o Web Summit Rio, o primeiro realizado fora da Europa. Considero a realização de um evento desse porte no Brasil um marco para o País, uma demonstração da maturidade do nosso ecossistema e importância no continente. Temos estabelecida a tradição de grandes eventos focados em uma indústria específica (bancos, agronegócio, automóveis), mas agora provamos que também temos demanda por um evento multisetorial que reúne, no mesmo espaço, imprensa especializada, empreendedores, corporações, investidores e apaixonados por tecnologia e inovação.
Em termos de conteúdo, grande parte da pauta foi dominada pelas tecnologias que, combinadas, compõem o que se convencionou chamar de Web 3.0. Apesar do momento econômico desafiador, muitos colegas com quem conversei acreditam que viveremos mais uma era de grandes investimentos em tecnologia – porém, em temas diferentes do que vemos hoje. Se nas duas últimas décadas passamos uma onda de transformação com os PCs, internet, celulares e serviços em nuvem, estamos iniciando uma nova “replataformização” baseada em blockchain, inteligência artificial, 5G, computação quântica, entre outras tecnologias emergentes. E essa mudança se aplicará a praticamente todas as indústrias que conhecemos.
Outro grande privilégio viabilizado pelo Web Summit é a oportunidade de conversar com especialistas estrangeiros em temas de interesse específico. Uma das grandes discussões do momento é a agenda que, aqui no banco BV, chamamos de “Dinheiro do Futuro”: tokenização, NFT, criptomoedas, contratos inteligentes, real digital (CBDC). Bati um papo com estrangeiros e eles tem um ponto de vista muito interessante sobre como nós, brasileiros, estamos trabalhando o tema.
Na opinião deles, os diferentes atores que estão participando dessa agenda estão com um nível de colaboração muito mais racional comparativamente com outros países. Uma dessas pessoas comentou que pode não parecer trivial para nós, mas o fato de startups, incumbentes, reguladores e provedores de serviços discutirem o tema de forma “agnóstica” é um diferencial que pode colocar o Brasil como um dos líderes globais no tema. Assim como já ocorre com Open Finance, em que temos uma regulamentação ambiciosa e provavelmente os maiores volumes de utilização no mundo, a discussão sobre a próxima grande evolução da infraestrutura de serviços financeiros tem se baseado na busca da melhor arquitetura e dos casos de uso mais relevantes para os clientes.
Conexão, conteúdo, aprendizado, novos negócios. A chegada de um evento gigante e periódico como o Web Summit é mais uma peça nessa indústria que vem se sofisticando de forma consistente há anos e demonstra que, apesar do momento econômico, continuamos evoluindo um ecossistema absolutamente vital para o crescimento da região.