Por Mayara Zunckeller, Gerente de Operações na TÜV Rheinland
Adotar a Indústria 4.0 exige muito mais do que implementar tecnologias. É preciso desenvolver uma cultura alinhada a um novo modelo de gestão de qualidade capaz de acompanhar inovadores processos que antes não faziam parte da linha de produção e, assim, garantir a entrega de produtos conforme as exigências do mercado.
Não existe mais espaço para sistemas de gestão de qualidade com inspeções manuais, que normalmente exigem grande número de inspetores e são muito demorados. E como as verificações de qualidade são críticas para garantir a excelência do produto, quando realizadas de forma equivocada elas podem dar uma falsa sensação de segurança.
É preciso reconhecer que a tecnologia por si só não levará a um avanço consistente nos processos de produção. É necessário impulsionar uma cultura na qual todos os funcionários, além dos responsáveis pela gestão da qualidade, assumam essa responsabilidade.
A verdade é que a maioria das empresas ainda não alcançou uma completa transformação digital, mas com os crescentes desafios para os fabricantes e necessidade de resiliência, uma eficiente gestão da qualidade é um impulsionador de sucesso nessa jornada para a evolução tecnológica. A Indústria 4.0 compreende várias tecnologias digitais – desde conectividade até análises avançadas, robótica e automação – e todas irão revolucionar a gestão da qualidade nos próximos anos.
Equilíbrio é a chave do sucesso
Manter altos padrões de qualidade tem sido o principal objetivo das indústrias. Com a crescente demanda por personalização, o setor deve encontrar um equilíbrio, aproveitando os avanços tecnológicos da Indústria 4.0 que permitem a implementação de estruturas precisas para otimizar a gestão da qualidade, incorporando tecnologias como Aprendizado de Máquina e Inteligência Artificial.
Essa é a Qualidade 4.0, que suporta a fábrica do futuro, na qual estruturas e processos operacionais aprimorados digitalmente aumentam a produtividade e a flexibilidade nas linhas de produção e em toda a cadeia de suprimentos.
As tecnologias digitais podem ajudar a melhorar a qualidade de várias maneiras. Por exemplo, as empresas podem monitorar processos e coletar dados em tempo real e aplicar análises para prever falhas e necessidade de manutenção. As ferramentas digitais também permitem que as pessoas executem suas tarefas de forma mais rápida, melhor e com custos reduzidos.
Líderes reconhecem importância da mudança
Um estudo recente da consultoria BCG avalia o papel da tecnologia para atender à necessidade de transformar a gestão da qualidade. A pesquisa se concentrou nas oportunidades e desafios decorrentes da Qualidade 4.0 – a aplicação das tecnologias digitais avançadas da Indústria 4.0 para aprimorar as melhores práticas tradicionais de gestão da qualidade.
Entre os líderes de 221 empresas, quase dois terços acreditam que a Qualidade 4.0 afetará significativamente suas operações nos próximos anos. A maioria dos participantes acredita que, dentro da função de qualidade, as tecnologias digitais serão importantes para a governança, gestão de desempenho e treinamento. No entanto, relativamente poucas empresas fizeram progressos substanciais na adoção de sistemas de Qualidade 4.0.
Os três pilares da Qualidade 4.0
Alcançar a excelência através da qualidade é abraçar o futuro. A Qualidade 4.0 é mais que tecnologia, envolve pessoas, o primeiro pilar. É uma nova forma de os profissionais gerenciarem a produção com as ferramentas digitais atualmente disponíveis e entenderem como aplicá-las, com base nos requisitos da norma ISO 9001.
Em seguida, à medida que mais tarefas são automatizadas, cresce a importância de contar com processos, o segundo pilar, sem falhas.
E, finalmente, temos a tecnologia, que faz com que os profissionais de qualidade avancem das funções de analista de dados para funções de organizador de dados, avaliando esses avanços tecnológicos e os possíveis resultados que eles criam, e determinando como e quando usá-los.
A transição para a Qualidade 4.0 pode ser um desafio. Afinal, é uma ruptura total nas formas tradicionais de implementação de práticas de qualidade. Mas implementar o novo conceito resultará em maior resiliência operacional, menos falhas, maior produtividade e, ao final, clientes mais satisfeitos. É um caminho sem volta.