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O potencial econômico da biodiversidade brasileira

Lucas Delgado e Daniel Pimentel, fundadores da Emerge. Foto: Paulo Liebert.

Por Daniel Pimentel, co-fundador e diretor da Emerge.

O Brasil possui o título de país megadiverso, tendo por volta de 15% a 20% de toda a biodiversidade do mundo. Ocorre que este ativo não é convertido atualmente em desenvolvimento socioeconômico, apesar de diversas demandas de mercado por produtos naturais, bioinspirados ou oriundos de cadeias sustentáveis.

Há diversos desafios para transformar ativos naturais em produtos não madeireiros de alto valor agregado, passando por pesquisa, regulatório, acesso a insumos em escala, produção, transferência de tecnologia, propriedade intelectual e modelagem dos negócios. É necessário superar essas barreiras a fim de gerar negócios que gerem impacto relevante econômico ao mesmo tempo que estimulam a conservação, gerando estímulos para que a floresta valha mais em pé do que deitada.

O Brasil é o país que mais produz ciência a partir do seu próprio bioma e também avançou consideravelmente em regular o trabalho que utiliza o patrimônio genético. Foi criado o Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado (SisGen), regulamentado pela Lei nº 13.123/2015, conhecida como Lei da Biodiversidade. Todas as entidades que realizam pesquisa, desenvolvimento tecnológico, comercialização ou remessa de materiais para o exterior são obrigadas a se cadastrar no SisGen. A Emerge acessou a base de dados completa do SisGen em março de 2023, onde havia o cadastro de mais de 78 mil atividades. 

Constata-se que apesar de ser o maior bioma, a Amazônia é o terceiro mais trabalhado. Sugere-se que seja o fato das principais instituições de pesquisa no Brasil estarem sediadas nas regiões da Mata Atlântica e Cerrado. Quando analisadas as instituições, quem lidera são as ICTs, centros de pesquisas e universidades públicas, seguida de pessoas físicas que normalmente são pesquisadores das instituições de pesquisa públicas. O percentual de empresas é módico e demonstra que para gerar produtos de alto valor a partir da biodiversidade, é necessário o processo de transferência de tecnologia dos centros de pesquisa para empresas e startups.

Gráfico 1: Atividades realizadas por bioma registradas no SisGenGráfico 2: Atividades realizadas por tipo de agente registradas no SisGen

Das 78 mil atividades cadastradas, 26% possuem o objetivo de desenvolvimento tecnológico. Centenas de produtos foram desenvolvidos e 137 patentes foram licenciadas. 

Gráfico 3. Finalidade de acesso das atividades cadastradas no SisGenGráfico 4. Resultados obtidos a partir dos registros de atividades cadastradas no SisGen

Como exemplos de sucesso de tecnologia, o Acheflan foi desenvolvido a partir da erva-baleeira (Cordia verbenácea) pelo laboratório Aché e é aplicado em tratamento de processos e quadros inflamatórios, sendo um medicamento de sucesso e líder de mercado, onde além de solucionar necessidades terapêuticas, também promove o uso sustentável de recursos naturais.

Além de grandes empresas, há também startups que têm feito produtos de alto valor a partir da biodiversidade. O Rizotec é um exemplo de tecnologia que foi desenvolvida nos laboratórios da Universidade Federal de Viçosa, onde os pesquisadores identificaram um fungo com o potencial de combater nematóides, vermes minúsculos de solo que sugam as raízes das plantas reduzindo a produtividade, melhorando o desempenho de diversas culturas como café, verduras e outras frutas. Foi criada a startup Rizoflora que, pelos resultados promissores da tecnologia, passou por uma aquisição de uma grande companhia do agronegócio, a Stoller. 

Há também a Fitofit, que utiliza de ativos da biodiversidade brasileira, em especial amazônica, para o desenvolvimento de fitofármacos e suplementos alimentares. A startup é uma spinoff da Universidade Federal de Juiz de Fora e já possui patentes e contratos de licenciamento com farmacêuticas para medicamentos para o controle de transtornos metabólicos.

A partir dos dados sobre acesso ao patrimônio genético brasileiro, casos e mudança de cultura das empresas e universidades brasileiras, somadas às demandas de mercado, é possível perceber que há, cada vez mais, um endereçamento dos ativos para o desenvolvimento de tecnologias para a criação de produtos e processos inovadores. Ocorre que estamos aquém do potencial, tendo casos, mas que ainda não se tornaram estatística. 

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