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Gestores como agentes da cultura ética: como liderar pelo exemplo

Foto: divulgação.

Por Marcelo Gomes, sócio- diretor da Contato Seguro.

No ambiente corporativo existe uma frase em inglês que diz “Walk the Talk”. Significa agir em linha com o que  se prega, fala ou ensina. Sem o exemplo não há como fortalecer a credibilidade e confiança dos funcionários. Quando os gestores dão o exemplo, mostrando compromisso com a integridade, os funcionários são mais propensos a se sentirem inspirados e engajados em seguir seus passos. Isso cria uma atmosfera de responsabilidade compartilhada e promove a adesão ao Programa de Integridade.

Atributos como liderança, dedicação, conduta exemplar, designação adequada de recursos, estabelecimento de objetivos, acompanhamento e supervisão, além de uma comunicação eficaz e engajamento, são vitais na consolidação de uma cultura ética. Essas são, portanto, premissas fundamentais para assegurar o êxito do programa em todas as esferas da organização.

Peter Drucker, o famoso consultor e escritor especializado em estratégia, afirma que “Não se pode aprimorar o que não se consegue medir”. Portanto, é essencial que a alta direção estabeleça um plano estratégico de comunicação e capacitação, fundamentado em indicadores precisos, para fortalecer os valores da organização e comunicar de maneira eficaz. Esse plano deve incluir uma comunicação clara, consistente e frequente, treinamentos regulares adaptados para cada segmento de público da organização, e também a avaliação e monitoramento contínuo do Programa de Integridade.

Dar transparência às decisões corporativas sem se tornar maçante ou repetitivo pode ser um desafio, mas é possível adotar algumas estratégias para tornar a comunicação mais eficaz e envolvente. Para tanto deve-se preocupar em buscar o envolvimento dos funcionários. Contar histórias (com sucessos e insucessos) ligados à integridade é um excelente caminho. A mídia está recheada de exemplos que podem ser utilizados com este objetivo. Esta comunicação deve ser simples e direta, utilizando diferentes canais e estimulando a participação e o feedback dos colaboradores. 

Conseguir a melhoria contínua talvez seja a última etapa para a implantação de um Programa de Integridade efetivo, lembrando que implementar políticas de integridade eficazes é um processo contínuo. Além dos processos de monitoramento e auditoria, a implantação de canal de denúncias, processos de investigação e aplicação de medidas disciplinares (quando aplicável) são medidas importantes para que as políticas sejam seguidas. 

A construção de uma cultura ética na empresa é um processo que requer esforços tanto de cima para baixo (top down) quanto de baixo para cima (bottom up). Ambos os enfoques são importantes e complementares.

O processo top down estabelece o tom e definem os valores, princípios e políticas éticas que devem ser seguidos. 

Por outro lado, o processo bottom up envolve os colaboradores de todos os níveis da organização. Eles têm um papel ativo na construção da cultura ética, pois são responsáveis por agir de acordo com os valores éticos estabelecidos, tomar decisões éticas em seu trabalho diário e denunciar qualquer violação ou preocupação ética. Os colaboradores devem se sentir empoderados para expressar preocupações e participar ativamente do desenvolvimento e implementação de políticas e práticas éticas. 

No que se refere ao dilema ético (conflito entre questões éticas e morais) é inevitável que todo o líder vai enfrentar mais cedo ou mais tarde. Não existe uma receita única para esta pergunta. A abordagem para lidar com dilemas éticos pode variar dependendo da natureza do dilema e das políticas e recursos disponíveis na empresa. É essencial seguir as diretrizes estabelecidas pela organização e buscar orientação adequada (interna, e não raro externa) para garantir uma tomada de decisão ética e responsável.

Entretanto vale ressaltar que, caso o dilema ético envolva violações legais graves, corrupção ou qualquer outra conduta ilegal, é fundamental considerar a denúncia às autoridades competentes ou a órgãos de supervisão relevantes, de acordo com as leis e regulamentos aplicáveis. A omissão é falta grave nestes casos. Como eu cito no meu Livro (Compliance: Fundamentos e reflexões sobres integridade nas empresas, a transformação cultural na empresa que decide levar a implantação de um Programa de Integridade à sério é um desafio e tanto!  Superar esses desafios requer um comprometimento constante da alta direção, uma abordagem holística para a transformação cultural, ações claras e consistentes e a criação de sistemas de suporte e incentivos que reforcem os comportamentos éticos desejados.

Entre os principais desafios a enfrentar estão a resistência à mudança, a falta de compreensão dos valores éticos que a empresa precisa quando comparados com os valores morais que o funcionário tem em seu contexto particular, pressões por atingimento de metas à qualquer custo, e inconsistência entre discurso e prática no comportamento dos líderes. 

Uma cultura ética sólida é baseada em valores morais e no senso de responsabilidade individual. As recompensas devem ser vistas como uma forma adicional de reconhecimento e incentivo, mas não devem substituir a expectativa de que o comportamento ético seja obrigatório e esperado de todos os colaboradores.

Dentre diversas estratégias, é primordial que a empresa incentive o comportamento ético, deixando explícito que tais atitudes são uma condição essencial para o avanço dentro da organização. É importante para a empresa destacar os comportamentos éticos desejados e reconhecer publicamente os colaboradores que os demonstram, reforçando a importância dessas ações.

Por outro lado, estimular a transparência e a denúncia de violações éticas. Os colaboradores se sentirão mais confortáveis em relatar preocupações e denunciar comportamentos inadequados se souberem que seus esforços serão reconhecidos e apreciados.

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