Por Rafael Kenji Hamada, médico e CEO da FHE Ventures.
O grande problema da maioria das startups é o apego com a solução. Empreendedores apaixonados cuidam de suas soluções como filhas, muitas vezes se ofendendo quando uma pessoa de fora da empresa faz um comentário ou sugestão. Todo feedback pode se tornar uma crítica, porque estão tão apegados, que acham que é a melhor ideia que já foi inventada. Mas inventada para o quê? Eles se esquecem disso, não sabem responder a essa pergunta tão básica.
Insistir em uma solução que não resolva um problema real é um grande risco, porque ninguém vai comprar o produto. Ele é importante apenas para o dono, que pode não representar os consumidores. E este é o motivo da maioria das startups morrerem nos dois primeiros anos, o chamado “vale da morte”. Se uma startup ultrapassa o vale da morte, ela tem grande chance de se destacar, mesmo com a necessidade de enfrentar outros problemas, como a necessidade de captação e manutenção da cultura e união entre os sócios.
Para enfrentar este momento inicial, as startups devem focar no motivo da criação da empresa, que é o problema a ser resolvido. Para isso, pode ser necessária uma mudança na solução, principalmente se esta solução não conversar diretamente com o público-alvo da empresa.
A alteração do produto da startup é chamada de pivotagem, quando se abandona o produto que era utilizado e cria-se um novo, com o foco em resolver um problema latente do mercado. Em algumas ocasiões até mesmo o problema pode ser mudado, a partir de pesquisas de mercado e conversas com o usuário final.
Eis a grande solução para salvar a startup, e resgatá-la do profundo “vale a da morte”. Pivotar pode ser a grande salvação, desde que respeite o processo de entendimento do problema, com pesquisas de mercado, benchmarking com concorrentes diretos e indiretos, conversas com o público ideal e a aceitação de opiniões de especialistas no mercado para aquele problema.
Problemas sempre existirão e, da mesma forma, sempre haverá espaço para a criação de ideias inovadoras para resolvê-los. Para evitar entrar na triste estatística de que cerca de 80% das startups morrem, é preciso humildade para aceitar opiniões, sabedoria para buscar o propósito da empresa, paciência para entender o timing certo do mercado e auxílio de pessoas que já passaram pelo processo, como investidores-anjo que já criaram startups, mesmo aqueles que falharam anteriormente, aceleradoras e Venture Builders.