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 Aquisições “venturizadas” devem impulsionar o mercado de M&A nos segmentos de tecnologia e inovação

Foto: divulgação.

Por Bruno Tanus, fundador do TDV Advogados.

O primeiro trimestre de 2023 se encerrou com um gosto de dificuldade para os segmentos de tecnologia e inovação no Brasil. O clima de incerteza em virtude da mudança de governo e a taxa de juros alta no país assustaram e desestimularam os investidores, principalmente os que se apoiam em capital estrangeiro. As nuvens negras vindas dos outros continentes, incluindo a quebra do emblemático Silicon Valley Bank, considerado como troféu no mundo do empreendedorismo, terminam de compor plano de fundo do cenário de pessimismo. 

Em particular, o mercado de venture capital foi o que mais sofreu e fez sofrer. De acordo com dados levantados pela plataforma Distrito, houve uma queda de 86% nos aportes em startups brasileiras em comparação com o mesmo período de 2022. De fato, a falta de apetite pelo risco trouxe dificuldade no processo de captação de recursos pelas casas que operam venture capital no país. O mecanismo financiador fundamental dos mercados de tecnologia e inovação operando em modo de segurança fez com que as rodadas de investimento se tornassem mais escassas e pontuais. As teses se tornaram muito mais criteriosas. Abandonou-se o incentivo à queima desenfreada de caixa para expansão a qualquer custo e métricas de mercado mais racionais e baseadas em geração de receita passaram a ser o novo normal. Como resultado,demissões em massa e desidratação ainda maior dos valuations.

E o que esperar a partir de agora? Buscando oportunidade na dificuldade, as aquisições estruturadas com fundamentos típicos do mercado de venture capital e que, portanto, carregam também um componente de risco alto no investimento, devem impulsionar o mercado de M&A nos segmentos de tecnologia e inovação. Surge, dessa forma, uma alternativa tanto para quem precisa captar recurso e conseguiu se adaptar às novas exigências, quanto para quem busca adquirir ativos carregados de inovação, com um plano de negócios mais racional e com valuations mais acessíveis. 

As operações de aquisição “venturizadas” são implementadas via de regra por meio da aquisição de participação minoritária da investida. As investidoras que mais operam esse modelo são empresas tradicionais e com balanços robustos em busca de atalho para crescimento e inovação, sendo as investidas mais disputadas as sociedades que apresentam sinergia com os negócios da investidora, com produto já validado no mercado e com receita recorrente. Os arranjos de pagamento podem ser compostos por um leque bastante variado de opções, incluindo participação societária da própria investidora e compromissos de pagamento futuro mediante o atingimento de metas, o que pode entregar aos fundadores uma pitada de liquidez ao mesmo tempo em que se permite a continuidade do próprio projeto mediante um compromisso incentivado. Na prática,a investida se converte em uma unidade de negócio da investidora, podendo usufruir de toda a estrutura de backoffice, vantagens financeiras, redes de distribuição e conexões que passam a se tornar imediatamente disponíveis. Assim, os fundadores são estimulados a manter com foco em desenvolvimento e entrega, operando o negócio como antes, mas agora inseridos em um ecossistema pronto e estruturado. 

As aquisições “venturizadas” são, se bem modeladas, um “ganha-ganha-ganha” para investidora, investida e fundadores. A investidora consegue um atalho de crescimento não orgânico para aumento de portfólio e embarque de inovação, além do componente de aposta em um negócio disruptivo. A investida consegue uma alternativa ao financiamento via venture capital e uma via livre para operar de forma mais estruturada. Os fundadores, por sua vez, podem ter acesso a um combo de continuidade do projeto/liquidez. Como bônus, uma tese de investimento sendo confirmada pode, inclusive, possibilitar o direcionamento do ativo para um IPO.

Como perspectiva, espera-se para os próximos meses o aumento do volume de operações envolvendo grandes players e tickets de porte médio. As verticais de biotech e healthtech deverão ser os ativos da vez, mas plataformas com possibilidade de “fintechização” e/ou com modelos de “anything-as-a-service” também devem continuar no menu de oportunidades. 

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