Por Débora Nunes, Product Manager na Fundação 1Bi.
Um programa social é uma iniciativa que procura resolver parte de um problema sócio ambiental de uma comunidade ou uma região específica. Inovar nesse contexto não consiste em usar tecnologias avançadas, mas sim no processo de criação e gestão dos programas sociais. Destaco três práticas que favorecem a inovação social: cultura de testes, participação do público beneficiário e uso de dados.
A realização de testes é uma prática que pode parecer óbvia para empresas, mas que geralmente não está presente no terceiro setor ou em projeto de ESG. Isso acontece porque testar algo implica em erros e um projeto social não tem margem para erro. Contudo, a realização de projetos pilotos ou protótipos permite um aprendizado ágil e uma solução mais rápida.
Um teste nasce de uma hipótese de impacto. Por exemplo, uma horta comunitária pode ter como hipótese que “se existe uma horta comunitária na comunidade, a população se alimentará melhor e terá condições melhores de saúde”. A partir disso não é necessário criar uma grande horta e movimentar muitos recursos. É possível utilizar um pequeno espaço, produzir alimentos por pouco tempo e verificar se a hipótese é verdadeira ou não.
Para verificar se essa hipótese foi validada ou não, é importante coletar informações com o público beneficiário por meio de entrevistas ou métodos similares. Outra fonte que garante o aprendizado do teste são os dados de uso do projeto. No exemplo da horta comunitária, pode-se entrevistar a população da rua em que o teste foi realizado e analisar o quanto de alimento foi consumido, quantas pessoas e com qual frequência. Esse processo trará aprendizados rápidos sobre como construir projetos e produtos que realmente transformem a sociedade.
Imagem 1: resumo do processo de inovação social
É importante ressaltar que existem metodologias de teste e avaliação de impacto muito robustas e que são aplicadas por consultorias especializadas. Contudo, muitos projetos não possuem recursos necessários para esse tipo de serviço. A proposta é que as organizações sociais e as áreas de ESG usem a cultura de inovação para criar soluções mais assertivas para a solução de problemas sócio ambientais.
Um caso real
O AprendiZAP é uma ferramenta digital de aprendizagem para alunos e professores de escolas públicas. O produto surgiu em 2019 como um chat bot no WhatsApp que envia conteúdos para alunos estudarem de maneira prática e gratuita. Dois anos depois criamos um novo produto: uma plataforma web em que professores poderiam acessar às aulas do AprendiZAP e compartilhar o conteúdo exclusivamente pelo chat bot e acompanhar o desenvolvimento da turma.
Imagem 2: primeira versão da plataforma AprendiZAP Professores com apenas a opção de enviar a aula por WhatsApp
Contudo, somente 5% dos professores que entravam na plataforma realmente compartilhavam aulas com seus alunos. Em entrevista com esse público observamos que a hipótese inicial de que os professores gostariam de compartilhar por WhatsApp e acompanhar o desenvolvimento da turma não era válida. Os professores gostavam do AprendiZAP porque ele ajuda a economizar tempo e construir aulas incríveis. Assim, a experiência principal do AprendiZAP Professores deixou de ser o envio de aulas por WhatsApp e passou a ser o download de aulas, atividades e exercícios.
Imagem 3: Tela atual do AprendiZAP Professores com a opção de download do material
Essa cultura de testes constantes e aprendizados rápidos fizeram com que no último ano o AprendiZAP passasse de 1.200 para 23 mil professores ativos por mês.
Imagem 4: quantidade de professores ativos por mês no AprendiZAP Professores