Por Marilyn Hahn, CRO do Bankly.
Com pouco mais de dois anos de operação após seu lançamento como Open Banking, o Open Finance no Brasil é tido como referência mundial e case de sucesso na implementação do sistema. É o que divulgou a instituição Open Banking Excelence, do Reino Unido, em parceria com a Universidade de Oxford, em um estudo recente, que avaliou 23 países.
O Open Finance foi lançado pelo Banco Central em 24 de março de 2022 para ampliar o já existente Sistema Financeiro Nacional (SFN). Na tradução literal, ele significa sistema financeiro aberto e tem como objetivo aumentar a acessibilidade do mercado financeiro a partir do compartilhamento autorizado pelo usuário de informações financeiras entre instituições por meio de APIs (Interface de Programação de Aplicação). Capitaneado pelo Banco Central, o modelo garante mais controle de dados para os usuários, colocando-os no centro das decisões, além de dar a possibilidade às instituições de oferecerem serviços aos seus clientes cada vez mais personalizados .
Cenário do open finance no Brasil
Atualmente, o sistema conta com 15 milhões de clientes únicos e 22 milhões de consentimentos ativos segundo divulgado pelo Banco Central, o que coloca o Brasil entre os países com mais adesão ao sistema, próximo a ultrapassar o Reino Unido, um dos pioneiros no tema. De acordo com a empresa de consultoria Oliver Wyman, é estimado que até 2025, esse número atinja mais de 60 milhões de pessoas.
Segundo levantamento realizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), entre as mais de 800 instituições associadas ao projeto, já são 45 produtos e serviços oferecidos aos clientes, considerando diversos casos de uso como iniciação de pagamento, melhores ofertas de crédito, entre outros.
O projeto foi dividido em quatro fases, a primeira iniciada em fevereiro de 2021, com o compartilhamento de dados entre as instituições sobre os produtos oferecidos e seus canais de atendimento. Na segunda fase, quando autorizado, as instituições iniciaram a troca de informações cadastrais de seus clientes .
A terceira fase permitiu pagamentos em aplicativos e sites sem a necessidade de abrir o internet banking do banco que utiliza, contanto que as empresas em questão sejam homologadas como Iniciador de Transações de Pagamento (ITP) pelo Banco Central.
Na quarta fase, iniciada em dezembro de 2022, o foco é a ampliação de dados, produtos e serviços inclusive com informações de participantes não bancários, como empresas de investimentos, câmbio e seguros, por exemplo.
Marcos importantes
São muitos os casos, uso e os benefícios trazidos pelo Open Finance, sendo um os principais o aumento da inclusão financeira no Brasil, com tantas pessoas que não possuem conta em banco. Além disso, o usuário ganha em qualidade de serviços, já que as instituições, tendoacesso à sua vida financeira, podem identificar possíveis necessidades, oferecendo produtos customizados, maior limite de crédito e menores taxas de juros.
Alguns marcos foram essenciais na jornada do projeto em 2022, como por exemplo o lançamento da primeira iniciação de pagamento pelo Mercado Pago. Antes, para se fazer uma transferência de uma conta bancária para a conta no Mercado Pago, o cliente tinha que entrar no app desse outro banco para realizar a operação. Com a institucionalização do Open Finance, passou a ser possível fazer a solicitação dentro do próprio aplicativo do Mercado Pago.
Outro evento importante foi a primeira experiência de Open Finance no Whatsapp no mundo, feita pelo Banco do Brasil. O banco foi o pioneiro a oferecer consentimento do compartilhamento de dados através de assistente virtual. O Banco do Brasil relata que, dos clientes que autorizaram o compartilhamento de dados com o banco, 90% já tiveram algum benefício: 77% receberam ofertas personalizadas a partir dos dados e/ou utilizaram soluções que fazem uso dos dados de Open Finance e 13% tiveram informações cadastrais atualizadas sem necessidade de apresentar documentos ou comparecer a agência.
Desafios
Apesar de ser referência internacional, o Open Finance no Brasil ainda esbarra com uma série de desafios para gerar o engajamento esperado: um deles é a falta de clareza em relação aos benefícios do momento do compartilhamento do dado. Ainda não existe uma associação direta do ganho , como por exemplo: “compartilhe seus dados e monitore seu score, explore mais produtos de crédito e investimento”, etc. O que faz com que o usuário desconfie da legitimidade do compartilhamento.
Outro desafio é a monetização para as instituições participantes: foram gastos números exorbitantes em infraestrutura pelos agentes do ecossistema, porém o volume de produtos lançados ainda é escasso e o foco das instituições ainda está em acompanhar o cronograma regulatório.
No longo prazo, todavia, o Open Finance é visto como projeto estratégico dentro dos bancos e segundo a Febraban, mais de 90% das instituições pretendem expandir parcerias até o final de 2023 para prover serviços mais completos e, inclusive,entrar em segmentos novos como forma estratégica de agregar valor, complementar jornadas e consolidar a busca constante pela inovação.