Por Carla Bueno, UX lead na Adaga, marca do Grupo JBQ.Global, especializada em UX e UI.
No Brasil, cerca de 8,9% da população, ou 18,6 milhões de pessoas, têm algum tipo de deficiência a partir dos dois anos de idade. Além disso, a participação das pessoas com 60 anos ou mais na população subiu de 11,3% para 15,1% entre 2012 e 2022, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm) registrou a abertura de 36 mil lojas virtuais no Brasil em 2022, elevando o total de sites de comércio eletrônico registrados no país para 565.300. No entanto, apesar desse crescimento, a acessibilidade no e-commerce permanece uma área pouco explorada pelas empresas. Isso tem como consequência a exclusão de uma parcela considerável do público consumidor em potencial.
A chave para solucionar esse problema pode estar no design inclusivo. O conceito considera a diversidade humana, abarcando fatores como habilidades, linguagem, cultura, gênero, idade e outras diferenças. O Inclusive Design Research Centre, centro de pesquisa e desenvolvimento da Universidade OCAD do Canadá, define essa abordagem como fundamental para assegurar que a tecnologia atenda verdadeiramente às necessidades de todos. Especialmente quando aplicado a produtos digitais, a estratégia possibilita a criação de soluções específicas para diferentes grupos de usuários.
A acessibilidade não é apenas uma responsabilidade ética, mas também uma estratégia de negócios inteligente. Para garantir que um e-commerce seja considerado acessível, é preciso atender a compradores de todas as idades, habilidades e deficiências, independentemente do contexto. A implementação de práticas de acessibilidade pode ser desafiadora, mas os benefícios são inegáveis.
No desenvolvimento de produtos, serviços e tecnologia, a acessibilidade visa abraçar as pessoas com deficiência. No entanto, não é algo que se concretize automaticamente. A colaboração do design inclusivo e da acessibilidade é fundamental para criar experiências genuinamente utilizáveis, indo além das meras conformidades.
O Microsoft Design estabelece três princípios cruciais para o Design Inclusivo:
- Reconhecimento da Exclusão: Projetar para a inclusão reflete a rica diversidade humana e suas adaptações ao mundo.
- Solução para Um, Extensão para Muitos: Considerar as necessidades das pessoas com deficiência desde o início pode beneficiar a todos, independentemente das circunstâncias.
- Aprendizado com a Diversidade: Ao integrar perspectivas diversas desde o início, insights valiosos são gerados para um design inclusivo eficaz.
Contudo, não existe uma solução mágica para tornar um site automaticamente acessível a todos. As ferramentas atuais ainda carecem da capacidade de resolver automaticamente todos os problemas de acessibilidade. Isso resulta em um processo manual e contínuo, no qual as equipes de desenvolvimento trabalham para aprimorar a acessibilidade ao longo do tempo.
Cada elemento do site, desde imagens até códigos, requer um exame minucioso para garantir compreensão por pessoas com diferentes deficiências. Isso exige esforço, tempo e investimento, mas os benefícios compensam.A avaliação da acessibilidade ocorre em três níveis de certificação: A, AA, AAA. Essas certificações indicam o nível de acessibilidade alcançado pelo site. Compreender os requisitos de cada nível e trabalhar para atingir a conformidade desejada é essencial para proporcionar uma experiência acessível.
A acessibilidade na web abrange tanto sites quanto aplicativos, e entender as diferenças entre as diretrizes da WCAG (Web Content Accessibility Guidelines) para sites e as UAAG (User Agent Accessibility Guidelines) para aplicativos é crucial para uma abordagem abrangente.Os benefícios comerciais da acessibilidade digital são significativos. Uma pesquisa realizada em 2019 pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) revelou que 74,19% das pessoas com deficiência no Brasil realizam compras online.
Por isso, a priorização da acessibilidade além de contribuir para a inclusão de pessoas com deficiência na esfera digital e promover a inclusão social, gera uma reputação positiva junto ao público, evita possíveis litígios e complicações legais relacionadas à acessibilidade, atrai mais tráfego ao site, expandindo o alcance e engajamento, permite atingir uma audiência mais diversificada, incluindo pessoas com deficiência e melhora o posicionamento nos motores de busca, direcionando mais tráfego orgânico.
Soluções de sobreposição de acessibilidade são uma alternativa rápida e econômica para atender às exigências de conformidade. No entanto, é importante compreender que essas soluções precisam ser implementadas de forma criteriosa para alcançar os objetivos legais e éticos. A seguir, trago sete estratégias eficazes para tornar os e-commerces mais acessíveis:
- Texto Alternativo: Forneça descrições alternativas para imagens e produtos para que pessoas com deficiência visual possam fazer escolhas informadas.
- Rótulos Precisos em Formulários: Use rótulos visíveis e acessíveis para campos de formulários, para que todos os usuários possam interagir eficazmente.
- Contraste de Cores: Garanta um contraste adequado entre elementos visuais e de fundo para tornar as informações acessíveis a consumidores com deficiência visual.
- Mensagens de Erro Claras: Torne as mensagens de erro claras e indicativas das informações incorretas ou ausentes para ajudar pessoas com deficiências cognitivas a corrigirem os problemas.
- Navegação sem Mouse: Garanta que a navegação e a interação sejam possíveis sem o uso de um mouse, para atender a pessoas que dependem exclusivamente de teclados.
- Correção de Legendas Automáticas: Assegure-se de que os conteúdos de vídeo tenham legendas precisas para pessoas com deficiência auditiva. Investir em revisão manual é importante para evitar erros de legendagem gerados por Inteligência Artificial.
- Avaliações Acessíveis: Permita que pessoas com deficiência escrevam avaliações e comentários sobre produtos, proporcionando informações úteis para outros compradores com deficiência.
Para empresas em busca de melhorar a experiência do cliente, evitar litígios e garantir a acessibilidade digital a todos, uma abordagem viável é considerar parcerias com empresas especializadas em experiência do usuário. Essas empresas empregam testes automatizados, manuais e funcionais, junto com tecnologia assistiva, para garantir a acessibilidade e a usabilidade dos ativos digitais.